Rio acusa Governo de falta de “coragem” no caso do Novo Banco

Líder do PSD diz que chega de “enganar o Estado” e afirma que “não é só o Estado que tem de honrar os compromissos”.

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Rui Rio inaugurou esta sexta-feira a campanha de cartazes com frases “marcantes” do pensamento político do fundador do partido. LUSA/JOSÉ COELHO

Um dia depois de o Parlamento ter aprovado o Orçamento do Estado para 2021, o líder do PSD, Rui Rio, declarou que a “coragem” que o PSD e outros grupos parlamentares tiveram ao dizer “basta” à injecção de mais dinheiro no Novo Banco enquanto não for conhecida a auditoria do Tribunal de Contas, foi a “coragem” que tem faltado ao Governo em relação a este dossier. “Basta de enganar o Estado”, disse.

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Um dia depois de o Parlamento ter aprovado o Orçamento do Estado para 2021, o líder do PSD, Rui Rio, declarou que a “coragem” que o PSD e outros grupos parlamentares tiveram ao dizer “basta” à injecção de mais dinheiro no Novo Banco enquanto não for conhecida a auditoria do Tribunal de Contas, foi a “coragem” que tem faltado ao Governo em relação a este dossier. “Basta de enganar o Estado”, disse.

“Acho que temos de ter essa coragem que faltou ontem e que tem faltado ao PS e ao Governo. A coragem que nós ontem tivemos e que outros grupos parlamentares também tiveram de dizer alto, basta de enganar o Estado”, declarou o líder social-democrata, em declarações aos jornalistas, após ter inaugurado, no Porto, a campanha de cartazes com frases “marcantes” do pensamento político de FranciscoCarneiro, a pretexto dos 40 anos da morte do fundador do partido.

Questionado sobre as declarações do primeiro-ministro, António Costa, que se apressou a dizer que o Governo vai honrar os seus compromissos, Rui Rio não encontra razões para isso.“O primeiro-ministro teve essa necessidade – eu dificilmente sentiria essa necessidade. Eu honrei os meus compromissos sempre, e as instituições das quais eu fui responsável, públicas ou privadas, honraram sempre os compromissos. Nunca deixei de os honrar”, garantiu o ex-presidente da Câmara do Porto, insistindo: “Para eu honrar os meus compromissos, é preciso que a outra parte honre também um compromisso”.

Num remoque ao primeiro-ministro, Rio sublinhou que “é quase desnecessário dizer que o Estado vai honrar os compromissos. “Isto não é a república das bananas. O Estado tem de honrar os seus compromissos, da mesma forma que a contraparte também tem de estar a honrar o compromisso”. E perguntou: “E qual é o compromisso do Novo Banco? É estar a vender os activos a preços reais de mercado sem estar a fabricar a menos valias”.

Antes, o presidente do PSD tinha deixado no ar dúvidas relativamente a determinados negócios - “bens que foram vendidos muito abaixo daquilo que eles valiam”. “Eu não posso afirmar com certeza que existiu essa perda, mas agora todos nós olhamos para os preços de coisas vendidas e ficamos com óbvias dúvidas e é uma, e são duas, e são três, e são quatro, e são cinco e isto não pára”, insurge-se para logo puxar dos galões: “Na minha opinião, o melhor que o PSD fez que foi solicitar - com o apoio de outros grupos parlamentares - uma autoria ao Tribunal de Contas. Mais independente não posso encontrar (…). Se a conclusão for inequívoca, que há mais 100, ou 200, ou 300 ou 500 milhões de euros de menos valias que nós pagámos com os nossos impostos e que não devíamos ter pago, é uma coisa; se se chegar à conclusão que o património foi vendido a preços razoáveis, então o Estado cumpre a sua parte porque o outro lado também está a cumprir a sua parte. Temos de aguardar”.

Sobre o facto de o PSD ter votado a proposta de orçamento o Bloco de Esquerda que impede a transferência de mais verbas para o Novo Banco, Rui Rio foi peremptório: “Para mim, é-me rigorosamente indiferente se uma proposta vem do Bloco de Esquerda do PS do chega ou do CDS, não me interessa rigorosamente nada olho para o mérito da proposta, tem mérito votamos a favor, não tem mérito votamos contra, é tão simples quanto isso”.

Rio foi também questionado sobre o deputado Álvaro Almeida, que fez saber junto da direcção do grupo parlamentar do PSD que não concordava com o sentido de voto do partido relativamente à proposta do BE por entender que pode causar danos à imagem do país. E a resposta foi surpreendente. “Quando eu tenho umas ideias, vamos em frente, depois quem quiser vir que venha, quem não quiser não [venha]. As pessoas do Porto sabem que quando eu estou convencido de uma coisa, é para andar, quem quiser vem, quem quiser não vem”.

TAP à espera da reestruturação

Rui Rio foi ainda questionado sobre o plano de reestruturação da TAP que, segundo a TVI, está pronto e será entregue ao Governo “nos próximos dias” e não deixou de apontar erros. Para o líder do PSD, o primeiro erro que o Governo cometeu foi ter injectado capital sem haver um plano de reestruturação. “Meteram dinheiro sem ter plano de reestruturação, às cegas, digamos assim. Agora vamos ver o plano de reestruturação, se é exequível e quanto dinheiro pode mais precisar”, declarou Rio, frisando que só é possível medir a “eficácia e rendibilidade” do dinheiro injectado na companhia aérea nacional através de um plano de reestruturação,

Mas onde Rio carregou a sério foi naquilo que considera ser a “injustiça” cometida para com todos os demais trabalhadores que estiveram ou estão em layoff, afirmando que a TAP, ao contrário do que aconteceu nas empresas, “cortou apenas um terço do salário, independente do vencimento”.

“Há uma coisa que me choca particularmente. Em Portugal, durante o período do layoff, os funcionários que estavam em layoff  tiveram um corte de um terço do salário até 1900 euros e da totalidade do salário a partir de 1900 euros. Na TAP não é assim, a TAP pura e simplesmente cortou um terço do salário, não mais do que isso. Portanto, se há alguém a ganhar 15 mil euros, ficou a ganhar 10 mil, foi muito diferente do que foi nas empresas todas em Portugal”, revelou, questionando como é uma empresa “completamente falida” continue a pagar salários daquela grandeza.

Segundo o ex-presidente da Câmara do Porto, todos os trabalhadores têm de ser todos tratados por igual, sejam da TAP ou outra empresa. A transportadora aérea nacional prevê despedir mais de dois mil trabalhadores, cortar 20% dos salários de quem ficar e reduzir a frota em pelo menos 20 aviões.