Jovens e precariedade: não tem de ser assim

É urgente inverter a triste tendência de empurrar os mais jovens para contratos de trabalho a termo, sem qualquer tipo de estabilidade ou de segurança. Como pode um jovem com um contrato a termo comprar a sua casa, por exemplo? As empresas portuguesas têm de ver incentivos para a celebração de contratos de trabalho sem termo.

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Mag Pole/Unsplash

Qualquer jovem tem o direito a sonhar em ter um bom emprego e uma remuneração que lhe permita começar a construir o seu projecto de felicidade. Todavia, apesar de o sonho comandar a vida, esta ambição teima em ser contrariada por uma economia constituída por pequenas empresas asfixiadas em impostos, assente em baixos salários e incapaz de tornar Portugal atraente para construir o nosso projecto de vida.

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Qualquer jovem tem o direito a sonhar em ter um bom emprego e uma remuneração que lhe permita começar a construir o seu projecto de felicidade. Todavia, apesar de o sonho comandar a vida, esta ambição teima em ser contrariada por uma economia constituída por pequenas empresas asfixiadas em impostos, assente em baixos salários e incapaz de tornar Portugal atraente para construir o nosso projecto de vida.

Não tem de ser assim.

Não será natural querermos construir o nosso projecto pessoal e profissional no lugar que nos viu crescer, junto das nossas famílias? Contudo, esta aspiração não tem estado ao nosso alcance. Como podemos sonhar com um país equilibrado quando mais de 80% dos jovens portugueses vive no litoral?

Não tem de ser assim.

Qualquer jovem português gostaria de poder viver melhor do que os seus pais e avós, tendo em conta que o seu nível de qualificações é mais elevado e, ao longo da história, as gerações seguintes viveram sempre melhor do que as anteriores.

No entanto, esta geração é aquela que viverá pior do que os seus pais e avós. Não nos conseguimos emancipar, sair de casa dos nossos pais e construir a nossa família porque o nosso nível de rendimentos não é suficiente.

Não tem de ser assim.

É urgente inverter a triste tendência de empurrar os mais jovens para contratos de trabalho a termo, sem qualquer tipo de estabilidade ou de segurança. Como pode um jovem com um contrato a termo comprar a sua casa, por exemplo? As empresas portuguesas têm de ver incentivos para a celebração de contratos de trabalho sem termo.

Se são as empresas portuguesas que geram os postos de trabalho e a riqueza produzida em Portugal, é impensável não se colocar o sector empresarial português no centro da actividade legislativa em matéria de rendimentos, de fiscalidade e mercado de trabalho. É fundamental diminuirmos os custos salariais para as empresas na celebração de contratos de trabalho. Em especial, nos contratos com jovens até aos 30 anos através da isenção do pagamento de contribuições para a segurança social (TSU).

O actual momento que vivemos não nos trouxe apenas isolamento, também nos trouxe a oportunidade de construir um país menos assimétrico. Acredito que esta é a grande oportunidade. Depois de oito meses de pandemia, temos hoje a certeza de que é possível ser produtivo em casa, de que o nosso escritório pode ser o nosso quarto ou de que a nossa secretária pode ser a mesa da nossa cozinha. Importa, mais do que nunca, regulamentar o teletrabalho e criar condições para um país mais coeso.

Hoje, damos mais do que nunca valor à transição digital. Chegou a hora de colocar o interior como prioridade, beneficiando as empresas e os cidadãos que se queiram lá fixar. Perante o infeliz contexto de pandemia em que vivemos, as fronteiras estão hoje mais próximas do que nunca. Estão à distância de um clique. Como não agarrar esta oportunidade de corrigir a enorme desigualdade existente entre o litoral e o interior?

Bem sei que é difícil vislumbrar um futuro risonho considerando as dificuldades que vivemos em virtude da pandemia de covid-19. Mas também as gerações anteriores atravessaram várias adversidades. Duas guerras mundiais, por exemplo. Ainda assim, conseguiram sempre, com trabalho e sacrifício, que as gerações que vieram a seguir vivessem melhor do que eles próprios.

Seremos nós a primeira geração a falhar em criar essas mesmas condições aos nossos filhos?

Não tem de ser assim. Precisamos de boas medidas, boas escolhas. E, certamente, não será assim.