Confiança e clima económico baixaram em Novembro com agravamento da pandemia
Perspectivas sobre evolução financeira familiar voltaram a agravar-se. No comércio, a confiança dos empresários “diminuiu significativamente”.
Depois de cinco meses num “patamar relativamente estável”, o indicador de confiança dos consumidores recuou em Novembro, mês em que a pandemia se agravou e o país regressou ao estado de emergência. O clima económico das empresas, que estava a recuperar, também caiu.
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Depois de cinco meses num “patamar relativamente estável”, o indicador de confiança dos consumidores recuou em Novembro, mês em que a pandemia se agravou e o país regressou ao estado de emergência. O clima económico das empresas, que estava a recuperar, também caiu.
Ao actualizar nesta sexta-feira os resultados dos inquéritos de conjuntura mensais, o Instituto Nacional de Estatística (INE) explica que o índice de confiança dos consumidores caiu este mês por causa de um contributo negativo das expectativas para os próximos 12 meses, “nomeadamente, perspectivas sobre a evolução futura da situação económica do país, da situação financeira do agregado familiar e da realização de compras importantes”. Ainda assim, contribuíram positivamente “as opiniões sobre a evolução passada da situação financeira” das famílias.
Este indicador tinha caído de forma abrupta na primeira vaga da pandemia — registou em Abril a maior descida da série estatística, ou seja, desde 1997 — mas conseguiu uma “recuperação parcial” em Maio e Junho, estabilizando a partir daí até Outubro. Agora voltou a contrair-se e não foi um movimento isolado. O indicador de clima económico, aquele que o INE mede a partir de inquéritos às empresas, também estava a recuperar nos seis meses anteriores e interrompeu essa trajectória em Novembro.
O agravamento é transversal: aconteceu em todos os sectores, do comércio e serviços à indústria, passando pela construção e obras públicas, onde, refere o INE, a redução teve uma “maior magnitude”.
O estado de emergência, um estado de excepção ao regime constitucional vigente, foi declarado a 6 de Novembro pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, depois de ouvido o Governo e aprovada a sua autorização pelo Parlamento. Entrou em vigor no dia 9 e foi renovado por mais 15 dias, entretanto.
O inquérito aos consumidores começou dias antes, a 2 de Novembro, e decorreu até dia 17; no caso do inquérito às empresas, decorreu entre 1 e 23 de Novembro.
O INE especifica que 70,1% das entrevistas aos consumidores foram obtidas “até ao dia 5 de Novembro (dia anterior ao anúncio do estado de emergência)”, embora já desde o final de Outubro a possibilidade do regresso a este estado de excepção fosse referida pela comunicação social.
No caso das empresas, indica o INE, “a percentagem acumulada de respostas obtidas antes de 9 de Novembro (data de entrada em vigor do novo estado de emergência) para cada inquérito” foram mais baixas (de 35% na indústria transformadora, de 45,6% na construção, de 41,2% no comércio e de 40,5% nos serviços).
Queda transversal nos serviços
No comércio, a deterioração é mais acentuada no retalho — onde se fazem sentir as novas restrições aos fins-de-semana com os encerramentos a partir das 13h — do que nas vendas por grosso.
O resultado conjunto é negativo: a confiança dos empresários “diminuiu significativamente, interrompendo o perfil ascendente observado entre Maio e Outubro, após a forte redução em Abril”.
Apesar disso, as perspectivas dos empresários sobre a sua actividade nos três meses seguintes já estava a descer desde Agosto, o que agora se acentuou. Tanto este factor como a avaliação sobre o volume de vendas contribuíram de forma negativa para o resultado final (pelo contrário, as opiniões dos empresários sobre o volume de stocks contribuíram “positivamente” para o resultado global, ainda que as apreciações tenham continuado a descer).
Nos serviços, o indicador também “diminuiu de forma significativa, depois de ter recuperado parcialmente, entre Junho e Outubro, do mínimo histórico da série atingido em Maio”. Com as perspectivas sobre a evolução da procura em queda, o sentimento negativo atravessa as várias áreas dos serviços, com especial ênfase em três áreas: actividades artísticas, de espectáculos, desportivas e recreativas; transportes e armazenagem; e alojamento e restauração.
Do lado dos consumidores, os dados do INE mostram que, a caminho do Natal, as “perspectivas de realização de compras importantes agravaram-se nos dois últimos meses, de forma mais intensa em Novembro”. Quanto às apreciações sobre a concretização de compras importantes no momento em que o inquérito estava a ser respondido, o índice também caiu, embora permaneça “próximo dos valores observados nos cinco meses anteriores”.
Esta trajectória aconteceu apesar de as opiniões sobre a evolução da situação financeira do agregado familiar terem recuperado “ligeiramente em Outubro e Novembro” e, com isso, ficado “num patamar relativamente estável desde Maio”. Só que as perspectivas “relativas à evolução futura da situação financeira do agregado familiar voltaram a contrair-se, “suspendendo a recuperação observada entre Maio e Agosto”.
Na área da construção e obras públicas, a queda deve-se às apreciações sobre a carteira de encomendas e as perspectivas de emprego no sector.