No Dia Mundial da Sida, eles querem uma revelação em grupo — porque o estigma ainda existe
Paolo Gorgoni, conhecido no activismo como Paula Lovely, convida quem vive com VIH a revelar o estatuto serológico juntos, em espaços públicos de várias cidades. Os encontros #HIVisibility2gether decorrem a 1 de Dezembro, Dia Mundial da Sida.
Paolo Gorgoni avisa: “É importante saber que nesta acção se declara o estatuto serológico; por isso, participar pode equivaler a um coming out.” De resto, as pessoas que vivem com VIH e quiserem participar na “acção simbólica” para marcar o Dia Mundial da Sida, assinalado a 1 de Dezembro, precisam apenas de aparecer, convida.
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Paolo Gorgoni avisa: “É importante saber que nesta acção se declara o estatuto serológico; por isso, participar pode equivaler a um coming out.” De resto, as pessoas que vivem com VIH e quiserem participar na “acção simbólica” para marcar o Dia Mundial da Sida, assinalado a 1 de Dezembro, precisam apenas de aparecer, convida.
“A ideia é criar, com uma acção visual, uma espécie de revelação em grupo [do estatuto serológico positivo para a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana]”, explica. Chamaram-lhe #HIVisible 2gether, exactamente por causa de tornar visível no espaço público um diagnóstico que, quando revelado, ainda é alvo de comportamentos discriminatórios.
Em Portugal, o encontro organizado pelo recém-criado colectivo Viral está marcado para as 12h, na Praça do Comércio, em Lisboa. Terminará antes da proibição de circulação na via pública, que nos feriados de 1 e 8 de Dezembro vigora entre as 13h e as 5h.
Mais conhecido no activismo como a drag queen Paula Lovely, o italiano a viver em Lisboa desde 2015 começou a tecer uma rede informal de “pessoas que vivem com VIH e têm alguma forma de trabalho artístico ou em activismo”. O colectivo Viral é ainda um embrião, diz, mas é um passo para “alargar a representatividade de pessoas com VIH”, ainda preso a um imaginário de homens que fazem sexo com homens. “Precisamos de protagonizar as nossas vivências e as nossas histórias. Porque é preciso deixar de haver uma narração sempre na terceira pessoa do que é viver-se com VIH e como isto se cruza com outras vulnerabilidades”, acredita.
Contam com a ajuda da bailarina e investigadora Teresa Fabião, membro da Comunidade Internacional de Mulheres que Vivem Com VIH. Para preparar a actuação colectiva, querem receber fotografias e testemunhos de pessoas seropositivas que respondam a uma pergunta: “O que é, para ti, a visibilidade?” Acções semelhantes estão a ser planeadas no mesmo dia para Bolonha e Roma e para 2 de Dezembro, com o fim do confinamento no Reino Unido, em Londres.
Segundo o mais recente Relatório Infecção VIH e SIDA em Portugal, divulgado esta quinta-feira, 26 de Novembro, em 2019 os novos casos de infecção voltaram a ficar abaixo dos mil (778), num ano em que foram comunicados 197 óbitos em doentes infectados, abaixo dos 216 do ano anterior. Desde o início da epidemia, em 1983, foram notificados quase 60 mil casos de infecção por VIH em Portugal, dos quais 22.551 evoluíram para sida. 14958 pessoas infectadas morreram.
"Numa pandemia que fragiliza muito os sistemas de saúde, nós também precisamos de reclamar o acesso aos serviços de saúde: que nos seja facilitada sempre o levantamento da nossa medicação, que não sejam adiadas todas as nossas consultas sistematicamente porque às vezes também precisamos de fazer um check-up”, diz Paolo Gorgoni, que descobriu ser seropositivo aos 23 anos. Em 2017, deu o seu testemunho ao P3: “O VIH tornou-me numa pessoa muito melhor.” Podes ler aqui.