Viggo Mortensen: “Temos que aceitar o nosso inimigo”
A fractura entre um pai e um filho como espelho de divisões importantes na sociedade americana: eis o que alimenta a estreia do actor na realização — um filme arriscado, singular, apresentado durante o LEFFEST — e o que alimenta esta entrevista.
Viggo Mortensen (n. 1958) tem tido um percurso singular como actor, entre blockbusters como a série do Senhor dos Anéis (que lhe trouxe popularidade mundial) e um cinema obstinadamente de “autor”, como no caso das suas colaborações com David Cronenberg ou, ainda mais à margem, com o argentino Lisandro Alonso (para quem protagonizou Jauja, em 2014). Com Falling, exibido no LEFFEST e com estreia comercial portuguesa marcada para o princípio de 2021, acrescenta mais um ponto a essa singularidade: Viggo Mortensen passa para o lugar de realizador. Sem deixar de ser actor: ele é um dos protagonistas do filme, na pele de um homem, homossexual, que tem que lidar com o pai (Lance Henriksen), um viúvo envelhecido e amargo, preconceituoso e violento. A “fractura” entre os dois, que espelha, como Viggo admite na entrevista que se segue, divisões importantes na sociedade americana contemporânea, alimenta um filme de estreia arriscado e dotado, também ele, de algumas singularidades merecedoras de atenção.