É urgente combater o cancro do pulmão
Apesar do hábito tabágico ser o principal factor de risco para o seu desenvolvimento, não é uma doença exclusiva do fumador. Cerca de 500.000 mortes no mundo são anualmente atribuídas ao cancro do pulmão em doentes que nunca fumaram.
Neste mês de sensibilização para o cancro do pulmão e apesar do contexto pandémico em que vivemos, é importante lembrar que esta é actualmente a principal causa de morte por cancro. Na sua origem está essencialmente o diagnóstico tardio da doença. É urgente contrariar esta tendência.
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Neste mês de sensibilização para o cancro do pulmão e apesar do contexto pandémico em que vivemos, é importante lembrar que esta é actualmente a principal causa de morte por cancro. Na sua origem está essencialmente o diagnóstico tardio da doença. É urgente contrariar esta tendência.
Em 2018, em Portugal, foram diagnosticados 5284 casos de cancro do pulmão. A Organização Mundial da Saúde estima que o cancro do pulmão globalmente seja a causa de 1,59 milhões de mortes por ano, sendo 71% dos casos atribuídos ao tabaco (outros dados apontam para 85-90%).
Apesar de vários factores poderem estar associados ao seu desenvolvimento, o tabagismo continua a ser de longe o factor mais importante. O risco de desenvolver a doença para um fumador de um maço por dia durante 40 anos é aproximadamente 20 vezes superior relativamente ao não fumador.
O risco aumenta com a duração do número de anos e número de cigarros fumados.
Assim, o aspecto mais importante reside na prevenção, evitando que se comece a fumar — logo na idade escolar — e incentivar os fumadores a deixar de fumar o mais cedo possível.
Apesar do hábito tabágico ser o principal factor de risco para o seu desenvolvimento, não é uma doença exclusiva do fumador. Cerca de 500.000 mortes no mundo são anualmente atribuídas ao cancro do pulmão em doentes que nunca fumaram. Tem sido observado um aumento progressivo em não-fumadores e estes novos dados epidemiológicos levam a considerar o cancro do pulmão do não-fumador como uma entidade distinta com identificação de características genéticas e moleculares diferentes.
Existem, ainda, outros factores que podem contribuir para o seu desenvolvimento como o risco familiar de cancro do pulmão, poluição doméstica e exposição a elementos cancerígenos como amianto e radão, entre outros.
Porque é tão importante o diagnóstico precoce desta patologia? E como é feito? O diagnóstico é baseado essencialmente no doente com sintomas. Os mais comuns são a tosse, falta de ar, dor torácica e perda de peso, mas outros sintomas podem existir.
A maior parte dos doentes apresentam doença avançada na altura do diagnóstico, o que se torna um obstáculo para um tratamento mais eficaz. Daí a necessidade de diagnosticar a doença em fases mais precoces. Apesar de estudos terem demonstrado uma redução da mortalidade com rastreio usando a Tomografia Computorizada (TC) e várias sociedades científicas recomendarem o rastreio usando a TC de baixa dose de radiação para fumadores e ex-fumadores considerados de risco, os rastreios em massa não estão implementados na rotina como acontece para outros tipos de tumores. Por isso, estar alerta para os sintomas e priorizar o acompanhamento médico regular, com a realização de exames de rotina, é fundamental para um diagnóstico precoce.
Ao nível dos tratamentos, a estratégia deve ser individualizada para cada doente dependendo do tipo de tumor, tamanho, localização e doenças associadas. As opções terapêuticas incluem: cirurgia, radioterapia, quimioterapia, terapêuticas-alvo e imunoterapia.
Muito progresso tem sido obtido nos últimos anos, desde as modernas técnicas cirúrgicas e de radioterapia, passando pela identificação de alterações genéticas nas células tumorais, que podem implicar um tratamento dirigido, e a mais recente introdução da imunoterapia na terapêutica veio, também, contribuir para alterar o paradigma do tratamento desta doença, com ganhos muito significativos, tanto na qualidade como no tempo de vida, mesmo em fases mais avançadas da doença.
Apesar da fase pandémica que vivemos, não se podem adiar diagnósticos e tratamentos. Quanto mais precoce for o diagnóstico, mais eficaz será o tratamento e melhor será o prognóstico.
Na primeira vaga da pandemia registou-se uma acentuada redução na procura dos cuidados de saúde pelo que foram feitos diagnósticos mais tardios, o que levou ao aparecimento de doentes em fases mais avançada da doença.
Em plena segunda vaga, é importante alertar para a necessidade de não adiar o recurso aos cuidados de saúde se apresentar sintomas e se pertencer a grupos considerados de maior risco de desenvolver cancro do pulmão.
Os hospitais desenvolveram e implementaram protocolos e circuitos apropriados para receber em segurança os doentes em consulta, realizar os exames indicados e os necessários tratamentos médicos ou cirúrgicos.