ONG encontra alianças de casal de migrantes que sobreviveu a um naufrágio

Casal argelino sobreviveu a um naufrágio a 21 de Outubro, ao largo da costa de Lampedusa, de onde foram resgatados outros 13 migrantes. Alianças estavam guardadas na mochila encontrada pela organização não-governamental espanhola Open Arms para serem reparadas quando conseguissem chegar à Europa.

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Uma das alianças encontrada pela Open Arms Open Arms

Quando um barco em missão de resgate a migrantes deu com duas alianças de casamento no interior de uma mochila vermelha à deriva no mar, a 9 de Novembro, os tripulantes julgaram tratar-se de mais uma história de amor com um final trágico em alto-mar.

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Quando um barco em missão de resgate a migrantes deu com duas alianças de casamento no interior de uma mochila vermelha à deriva no mar, a 9 de Novembro, os tripulantes julgaram tratar-se de mais uma história de amor com um final trágico em alto-mar.

“Infelizmente encontramos muitos casos desses. A maior parte das vezes malas e sacos a flutuar no mar não são mais do que símbolos de uma jornada que começou na Líbia e terminou em tragédia, disse ao The Guardian Riccardo Gatti, presidente da organização não-governamental (ONG) espanhola Open Arms.

A história acabou por ter um final diferente. A ONG partilhou nas suas redes sociais fotografias dos pertences, como faz sempre que encontra objectos em alto mar, e acabou por encontrar o casal a quem pertencia a mochila por intermédio dos Médicos Sem Fronteiras (MSF). Os recém-casados Ahmed, de 25 anos, e Doudou de 20, argelinos, foram dois dos 15 sobreviventes de um naufrágio que aconteceu a 21 de Outubro ao largo da ilha de Lampedusa. Guardavam os anéis na mochila porque se tinham partido e queriam repará-los ao chegar à Europa.

O casal, alojado num centro na Sicília, viu as alianças num artigo publicado no jornal italiano La Repubblica que lhes foi mostrado pelos membros dos Médicos Sem Fronteiras. “Mal nos mostraram as imagens das alianças, não conseguia acreditar”, disse Ahmed numa mensagem transmitida pelos MSF ao The Guardian.

“Tínhamos perdido quase tudo e agora as poucas coisas que tínhamos levado na viagem tinham sido encontradas. É incrível.”

Os sobreviventes do naufrágio foram salvos por um barco de pesca siciliano depois de a embarcação em que seguiam ter sido atingida por uma onde gigante a cerca de 60 quilómetros de Lampedusa, de acordo com Ester Russo, uma psicóloga dos Médicos Sem Fronteiras que falou com o casal. Sobreviveram 15 pessoas, mas cinco morreram, entre elas uma criança de dois anos e a mãe de uma menina de nove anos que está agora sozinha em Itália.

Segundo outro membro dos MSF, Doudou ainda está “em choque” por ter visto cinco companheiros da travessia perecer, apesar de ela e o marido estarem bem.

As alianças recuperadas – e a roupa que também estava na mochila – ainda estão a bordo da embarcação da Open Arms, que se encontra atracada em Trapani, na Sicília, enquanto os tripulantes cumprem o período obrigatório de quarentena devido à pandemia. Ricciardo Gatti diz que os membros da ONG mal podem esperar por entregar os pertences ao casal de sobreviventes de um naufrágio que resultou em cinco mortos, entre estes uma criança de dois anos.

“Não é só pelos objectos. Estas mochilas que encontramos tantas vezes são tudo o que estas pessoas. Tal como estas alianças, símbolos de um amor que felizmente, pelo menos desta vez, o Mediterrâneo poupou”, disse o presidente.