Nancy Vieira no Misty Fest com Manhã Florida e a celebrar o património da morna
Classificada pela UNESCO há um ano, a morna tem lugar no Misty Fest deste ano pela mesma voz que a celebrou em Bogotá, nesse dia histórico: a de Nancy Vieira. O concerto é no Convento de São Francisco, em Coimbra, dia 27 às 19h30.
Um ano depois da classificação da morna como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO, o último concerto de Novembro do Misty Fest (haverá outro no dia 3, a encerrar o festival) cabe precisamente a Nancy Vieira, a voz que celebrou a morna em Bogotá, imediatamente após o anúncio da decisão da UNESCO. O concerto realiza-se na próxima sexta-feira, dia 27, no Convento São Francisco, em Coimbra, às 19h30.
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Um ano depois da classificação da morna como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO, o último concerto de Novembro do Misty Fest (haverá outro no dia 3, a encerrar o festival) cabe precisamente a Nancy Vieira, a voz que celebrou a morna em Bogotá, imediatamente após o anúncio da decisão da UNESCO. O concerto realiza-se na próxima sexta-feira, dia 27, no Convento São Francisco, em Coimbra, às 19h30.
Com cinco álbuns gravados até à data, Segred (2004), Lus (2007), Pássaro Cego (2009, este em parceria com Manuel Paulo), Nô Amá (2012) e Manhã Florida, é este último que servirá de guião ao espectáculo, como diz Nancy ao PÚBLICO: “O Manhã Florida já foi cantado e tocado ao vivo em muitos países (Rússia, Polónia, Alemanha, França, Tunísia, Cabo Verde), mas ainda não em Portugal. Por isso este concerto é quase dois em um: uma apresentação tardia do disco e a celebração da morna como património universal. Eu estava lá, em Bogotá, quando foi a decisão, e cantei. Tivemos só dois minutinhos, mas foram dois minutos grandes.” E cantou uma rapsódia de mornas, acompanhada pela viola de Manuel di Candinho.
Sob os efeitos da pandemia
Isso foi em 11 de Dezembro de 2019, a poucos meses da declaração de pandemia por causa da covid-19. Cabo-verdiana a residir em Portugal, Nancy foi um dos muitos artistas que viram afectado o seu trabalho. “Os primeiros tempos foram de adaptação, como para todos: estar em casa, não poder fazer as actividades normais do dia-a-dia. Mas como artista vi a minha actividade reduzida quase em 100 por cento, com os concertos todos cancelados. Nas alternativas que se foram criando, as chamadas Lives, com concertos a partir de casa e mais tarde em espaços onde só podiam estar poucas pessoas, o primeiro que fiz foi fantástico para mim. Não substitui o contacto com o público, mas foi muito bom porque senti que o público reagia.”
Teve, entretanto, alguns reagendamentos: “Fui participar com alguns artistas num concerto de homenagem à Cesária que estava agendado para Abril, num festival muito importante que acontece todos os anos na Polónia e que dá muita visibilidade à música lusófona, africana e nomeadamente cabo-verdiana; depois foi convidada para um festival em Tenerife, que esteve ameaçado mas lá se reinventaram e fizeram.” E assim deu novo fôlego a Manhã Florida, disco onde voltou a nomes como Teófilo Chantre ou Mário Lúcio, se estreou a gravar um autor da Boavista (Tiolino) e a cantar um tema em francês (Les landemains de carnaval) e arriscou uma nova composição em seu nome, Porto inseguro (coisa boa), enquanto gravava duas mornas clássicas: Mi sem bo amor, de Amândio Cabral e Vitorino Chantre, e Mar di lua cheia, de Eugénio Tavares.
Recuperar o tempo perdido
Mas apesar destas escassas abertas, a covid-19 foi também muito prejudicial para o que deveria ter-se seguido à classificação da morna como património pela UNESCO: “A pandemia atrasou e muito. Cortou o efeito. Tivemos umas semanas para celebrar, mas as comemorações que estavam preparadas em cada uma das ilhas tiveram de ser canceladas. Tal como nas comunidades espalhadas pelo mundo. Caiu um pouco o entusiasmo daqueles dias de Dezembro e Janeiro, onde vimos as redes [sociais] inundadas de morna, até os cabo-verdianos que podem ter preferências por outros ritmos, todos muito felizes. Mais os amantes da música de Cabo Verde de outras nacionalidades.”
Sem certezas no horizonte, a intenção de Nancy Vieira é recuperar o tempo perdido: “Vamos ver se conseguimos retomar agora. Eu tenho tentado fazer a minha parte, lembrando as pessoas que faz um ano que a morna foi classificada na UNESCO. Dia 3 de Dezembro é o Dia Nacional da Morna, em Cabo Verde e este ano, sendo próximo da outra data, o 11 de Dezembro, vamos ver o que é possível fazer. Mas estou muito entusiasmada com este concerto e ainda tenho esperança de ver realizados eventos que ainda não posso revelar mas que irão juntar a comemoração nacional da morna do 3 de Dezembro, dia do nascimento de B.Leza [1905-1958], ao 11 de Dezembro.”