Dois cadernos de Charles Darwin estão desaparecidos há 20 anos

Biblioteca da Universidade de Cambridge apela a todos para que os cadernos possam ser encontrados. Um deles contém o desenho da “Árvore da Vida” de 1837.

Fotogaleria

Há cerca de 20 anos que não se sabe do paradeiro de dois cadernos do naturalista Charles Darwin guardados na Biblioteca da Universidade de Cambridge. Após uma investigação exaustiva, esta biblioteca lançou esta terça-feira um apelo público para que todos possam ajudar a encontrar os cadernos perdidos – um deles contém o rascunho da “Árvore da Vida” de 1837. Curadores concluíram que, provavelmente, estes cadernos foram roubados e tal foi reportado à polícia. Já foi lançada uma investigação e notificada a Interpol.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Há cerca de 20 anos que não se sabe do paradeiro de dois cadernos do naturalista Charles Darwin guardados na Biblioteca da Universidade de Cambridge. Após uma investigação exaustiva, esta biblioteca lançou esta terça-feira um apelo público para que todos possam ajudar a encontrar os cadernos perdidos – um deles contém o rascunho da “Árvore da Vida” de 1837. Curadores concluíram que, provavelmente, estes cadernos foram roubados e tal foi reportado à polícia. Já foi lançada uma investigação e notificada a Interpol.

Os dois cadernos em questão são o Caderno B e o Caderno C. O seu conteúdo chegou a ser digitalizado e está disponível na Biblioteca Digital de Cambridge. O desenho da “Árvore da Vida” faz parte do Caderno B e é aqui que aparece o “I think” (“eu penso”), escrito pelo naturalista por cima da árvore. Nesse caderno, iniciado em 1837, Darwin começou a desenvolver a teoria da transmutação, que marcou o início de uma nova fase que culminou na publicação d’A Origem das Espécies, em 1859, em que formulou a teoria da evolução por selecção natural. De acordo com um comunicado da Biblioteca da Universidade de Cambridge, o valor destes cadernos é difícil de estimar, mas poderá chegar aos milhões de libras.

Foto
Caderno B Biblioteca da Universidade de Cambridge
Foto
Caderno C Biblioteca da Universidade de Cambridge

O que terá então acontecido a estes cadernos? A Biblioteca da Universidade de Cambridge explica que, em Setembro de 2000, os cadernos foram retirados dos depósitos das colecções especiais para serem fotografados na biblioteca. Durante uma verificação de rotina em Janeiro de 2001, percebeu-se que a caixa que continha os dois cadernos não tinha voltado ao seu lugar. Durante vários anos, pensou-se que esses cadernos estavam perdidos algures nos extensos depósitos e colecções da biblioteca.

Embora esses cadernos tenham sido procurados durante os últimos anos, nunca foram encontrados. No início deste ano, iniciou-se uma nova investigação organizada por Jessica Gardner, directora dos serviços da biblioteca desde 2017. Ao longo desta investigação, fez-se uma verificação completa a todo o Arquivo de Darwin, que inclui 189 caixas de arquivo. Mesmo assim, não se conseguiu descobrir os cadernos, o que levou à conclusão de que, provavelmente, foram roubados. Especialistas em recuperação e roubo do património ajudaram a que se chegasse a esta conclusão.

A polícia de Cambridgeshire já foi informada e o desaparecimento está no Registo de Perda de Arte. A Interpol também foi notificada e os cadernos estão na base de dados de obras de arte roubadas, a Psyche.

“Estou de coração partido por a localização destes cadernos, incluindo o icónico desenho da ‘Árvore da Vida’ de Darwin, seja desconhecida. Mas estamos determinados a fazer tudo o que for possível para descobrir o que aconteceu”, reage no comunicado Jessica Gardner. A directora dos serviços da biblioteca salienta que a política de segurança na Biblioteca da Universidade de Cambridge “era diferente há 20 anos”. “Hoje qualquer objecto significativo em falta poderá ser reportado imediatamente como um potencial roubo e uma busca alargada começará.” Também acrescenta que o edifício mudou significativamente desde que os cadernos foram inicialmente dados como desaparecidos, nomeadamente ao nível de medidas adicionais de segurança. 

Mesmo que seja provável que os cadernos tenham sido roubados, a procura na biblioteca não parará e há a “esperança” de que aí possam ainda ser encontrados. As colecções da Biblioteca da Universidade de Cambridge são extensas e só nos depósitos das colecções especiais (onde estavam guardados os cadernos) há mais de 45 quilómetros de prateleiras e milhões de documentos. Calcula-se que uma busca completa nos depósitos das colecções especiais demore cerca de cinco anos.

Tanto a biblioteca como a polícia estão a apelar a todos para que os cadernos possam ser encontrados. “Este apelo público poderá ser essencial para que os cadernos regressem em segurança, para benefício de todos. Pediria a todos que pensem que são capazes de nos ajudar para entrarem em contacto connosco”, pede Jessica Gardner.

Como pode ajudar

Quem tenha qualquer informação sobre estes cadernos (mesmo de forma anónima), deve contactar a Biblioteca da Universidade de Cambridge através do email: ManuscriptAppeal@lib.cam.ac.uk. Pode ainda contactar a polícia de Cambridgeshire pelo web-chat 101 ou pode visitar o site www.cambs.police.uk/report. Pode ainda contactar a organização Crimestoppers, anonimamente, pelo número 0800 555111 ou através do site www.crimestoppers-uk.org.

Este apelo é precisamente lançado no Dia da Evolução, que assinala o aniversário da publicação d’A Origem das Espécies a 24 de Novembro de 1859 e comemora o contributo de Charles Darwin para a história da ciência. Por cá, em Portugal, é o Dia Nacional da Cultura Científica, celebrado no dia de nascimento de Rómulo de Carvalho/António Gedeão