Diálogos virtuais no centenário de Lispector, Benedetti e Orozco pela Casa da América Latina
Que os leitores descubram um bocadinho mais sobre a obra e as vidas da brasileira Clarice Lispector, da argentina Olga Orozco e do uruguaio Mario Benedetti, no ano em que se comemora o centenário dos seus nascimentos, é o que pretende a Casa da América Latina em Lisboa com a programação do evento Três vezes Cem a decorrer virtualmente todos os dias desta semana.
O que têm em comum a escritora brasileira Clarice Lispector, a poeta argentina Olga Orozco e o escritor uruguaio Mario Benedetti? São os três autores latino-americanos e nasceram em 1920, há 100 anos. Para a comemoração do centenário destes três autores, a Casa da América Latina (CAL) organiza nesta semana o evento Três vezes Cem, a decorrer até 27 de Novembro, com sessões online todos os dias às 18h (hora de Portugal continental). Manuela Júdice, secretária-geral da Casa da América Latina, convidou para fazer a curadoria deste ciclo o tradutor e gestor cultural Pedro Rapoula.
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O que têm em comum a escritora brasileira Clarice Lispector, a poeta argentina Olga Orozco e o escritor uruguaio Mario Benedetti? São os três autores latino-americanos e nasceram em 1920, há 100 anos. Para a comemoração do centenário destes três autores, a Casa da América Latina (CAL) organiza nesta semana o evento Três vezes Cem, a decorrer até 27 de Novembro, com sessões online todos os dias às 18h (hora de Portugal continental). Manuela Júdice, secretária-geral da Casa da América Latina, convidou para fazer a curadoria deste ciclo o tradutor e gestor cultural Pedro Rapoula.
As sessões de Três vezes Cem podem ser seguidas através do Facebook da Casa da América Latina, onde são transmitidas em streaming. A única sessão que além de virtual foi também presencial, “3 vozes para 3 poetas”, realizou-se nesta segunda-feira ao final da tarde, na Casa da América Latina, em Lisboa, para quem se inscreveu previamente, e está já disponível no Facebook. Emília Silvestre leu Clarice Lispector (1920-1977), Francisco Gomes ficou com a obra de Mario Benedetti (1920- 2009) e Filipa Leal disse Olga Orozco (1920-1999). Estavam acompanhados pelo compositor, arranjador e bandoneonista argentino, Martín Sued, pois a artista argentina Carla Algeri, que estava anunciada previamente, não conseguiu viajar para Portugal.
Embora a obra de Clarice Lispector seja a mais conhecida em Portugal, onde é editada pela Relógio D’Água, Mario Benedetti tem três romances editados pela Cavalo de Ferro (A Trégua (2007), Obrigado pelo Lume (2008) e A borra do Café (2016). Olga Orozco não tem nenhuma das suas obras editada em Portugal, a não ser uma antologia que saiu no âmbito do seminário de tradução da Casa de Mateus, nos anos 90: Cantata Sombria e Outros poemas (1998), com revisão e notas de Fernando Pinto do Amaral. “É praticamente desconhecida no nosso país e é uma injustiça porque é uma grande autora, é extraordinária”, diz Pedro Rapoula.
A ideia foi construir uma programação que permitisse que pessoas que nunca tivessem conhecido a obra destes três autores se interessassem e ficassem com curiosidade de a ler. “Isto não é uma programação académica, não é uma programação que procure descobrir coisas inéditas na obra e na vida dos autores, mas que permita às pessoas que tenham uma curiosidade como leigos em ir procurar descobrir um bocadinho mais da obra [destes três autores]”, acrescenta o curador, dizendo que para estas conversas escolheram pessoas que tenham trabalhado sobre a obra e que pudessem trazer alguma coisa mais do dia-a-dia, da personalidade e da própria vida dos autores.
Nesta terça-feira, 24 de Novembro, às 18h, a partir do Facebook da CAL, o primeiro desses diálogos virtuais tem como título “Clarice Lispector – Hermética e Universal” e terá como convidados o biógrafo norte-americano Benjamin Moser, autor de Porquê Este Mundo – Uma Biografia de Clarice Lispector (na edição mais recente, da Relógio D’Água), que fala português fluentemente, e a professora Clara Rowland (da Universidade de Lisboa). A moderação será da jornalista Raquel Marinho.
No final desta sessão será divulgado um vídeo que a cantora brasileira Maria Bethânia gravou especialmente para o evento com a leitura do texto Banhos de Mar, publicado no Jornal do Brasil a 25 de Janeiro de 1969 (na edição portuguesa de Todas as Crónicas, Relógio D'Água, 2018, está nas páginas 147 a 149).
Na quarta-feira, 25 Novembro, no mesmo horário, será a vez da sessão virtual “Mario Benedetti – Um Poeta Discreto” para a qual convidaram a presidente da Fundação Mário Benedetti, a uruguaia Hortênsia Campanella, autora de Mario Benedetti, un mito discretíssimo, e a cantora uruguaia Diane Denoir. Ambas conheceram Benedetti, mas Diane Denoir foi sua amiga pessoal. A moderação será da jornalista Ana Sousa Dias.
Embora a obra poética de Benedetti não esteja disponível em edição portuguesa, em castelhano saiu este ano, na Alfaguara Espanha, Mario Benedetti - Antologia Poética com selecção e prólogo do músico e poeta Joan Manuel Serrat.
Para a sessão virtual de quinta-feira, 26 de Novembro, “Olga Orozco – Também a luz é um abismo”, decidiram convidar o poeta, ensaísta e romancista uruguaio Rafael Courtoisie, que foi amigo de Olga Orozco e estudou a sua obra. “Escolhemos também o poeta e tradutor Fernando Pinto do Amaral, que trabalhou a obra dela e organizou o seminário de tradução da Olga Orozco na Casa de Mateus e também conviveu com ela”, acrescenta Pedro Rapoula, que moderará a sessão.
Em língua espanhola está reunida a sua obra em Olga Orozco — Poesía Completa (Adriana Hidalgo Editora, 2012).
Por fim, na última sessão do evento Três vezes Cem, na sexta-feira 27 de Novembro, mais do que uma conversa sobre cada um destes autores quiseram que se falasse sobre “o impacto deles na literatura latino-americana” e por isso escolheram o escritor e bibliotecário argentino Alberto Manguel, que está a viver em Lisboa, onde instalará a sua biblioteca e o futuro Centro de Estudos de História da Leitura (CEHL). A sessão intitula-se “Clarice Lispector, Mario Benedetti e Olga Orozco na literatura latino-americana” e terá moderação do jornalista Pedro Santos Guerreiro.
Provavelmente os três autores não se conheciam, mas possivelmente todos conheciam a obra uns dos outros, embora não se saiba se a leram. No entanto, do ponto de vista da biografia, os três escritores latino-americanos têm coisas em comum. “Todos escreveram para jornais e eram pessoas profundamente influenciadas pela realidade. E essa visão da realidade é plasmada na obra de cada um”, conclui Pedro Rapoula.