Bolsonaro diz que há indígenas que “trocam madeira por coca-cola e cerveja”

Bolsonaro acredita que as críticas internacionais sobre a desflorestação da Amazónia são “potencializadas” — admite que existe desflorestação ilegal, mas também refere índios que trocam a madeira por preços muito baixos.

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"Acho que existe até, em alguns locais, índio que troca uma ‘tora’ [tronco de árvore] por uma Coca-Cola ou cerveja”, disse Bolsonaro no Facebook LUSA/Joédson Alves

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmou na quinta-feira que existem indígenas que “trocam madeira por coca-cola e cerveja” ao comentar o aumento da desflorestação na Amazónia.

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O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmou na quinta-feira que existem indígenas que “trocam madeira por coca-cola e cerveja” ao comentar o aumento da desflorestação na Amazónia.

“As críticas [internacionais sobre a desflorestação na Amazónia] são potencializadas. Existe desflorestação ilegal? Existe! Acho que existe até, em alguns locais, índio que troca uma ‘tora’ [tronco de árvore] por uma Coca-Cola ou cerveja”, afirmou Bolsonaro na quinta-feira, durante a habitual transmissão de vídeo no Facebook, que foi dedicada aos problemas ambientais do país.

Em seguida, o chefe de Estado dirigiu-se ao superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, e questionou-o sobre se essa situação seria possível, que, por sua vez, tentou amenizar as declarações de Bolsonaro. “Já aconteceu a madeira em terra indígena ser negociada por valores pífios, por indígenas ou por brancos, mas a grande causa da desflorestação é a fraude nos processos administrativos que foram gerados lá atrás, em 2010”, afirmou Alexandre Saraiva.

Em Setembro, no seu discurso de abertura na 75.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), Bolsonaro já tinha causado polémica ao responsabilizar os indígenas pelos fogos que lavram na Amazónia. “Os incêndios acontecem praticamente nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo [descendentes de indígenas e brancos] e o índio queimam os seus roçados em busca da sua sobrevivência, em áreas já desflorestadas”, declarou Bolsonaro na ocasião, numa declaração que foi bastante contestada por políticos e organizações não-governamentais.

Na transmissão em directo desta quinta-feira, totalmente dedicada à desflorestação da Amazónia e à venda ilegal de madeira, Bolsonaro responsabilizou empresas estrangeiras por essas exportações irregulares, sem identificar os países e os nomes das companhias.

Na terça-feira, o chefe de Estado brasileiro causou surpresa na cimeira dos países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ao prometer divulgar os nomes das nações que importam madeira ilegal da Amazónia, mas ainda não o fez até ao momento.

Apesar de Bolsonaro não ter indicado os países a que se referia, um dos seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro, partilhou nas redes sociais imagens sobre o alegado rastreamento de madeira extraída ilegalmente da Amazónia, onde constam nomes de nações como Portugal, Dinamarca, Reino Unido, Itália, Holanda, Bélgica e França.

Já uma operação levada a cabo pela Polícia Federal brasileira em 2017, denominada Arquimedes, resultou na apreensão de 120 contentores com 2400 metros cúbicos de madeira extraída ilegalmente e que seria vendida para empresas importadoras na Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França, Itália, Holanda, Portugal e Reino Unido.

Em 2019, que coincidiu com o primeiro ano de Bolsonaro no poder, a perda de cobertura vegetal na Amazónia, maior floresta tropical do planeta, aumentou 85%, para 9165 quilómetros quadrados, o maior nível de desflorestação registado desde 2016, segundo dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Quer a desflorestação, quer os fortes incêndios que lavraram na Amazónia nesse ano, levaram a uma forte contestação internacional, que incluiu críticas a Bolsonaro por parte do seu homólogo francês, Emmanuel Macron.

Nos primeiros oito meses deste ano, os alertas de desflorestação diminuíram 4,94% em relação ao mesmo período de 2019, atingindo 6099 quilómetros quadrados, número ainda elevado apesar da redução percentual.