Ramirez garante que autoridades de saúde a “ilibaram” de ser origem do surto de legionella
A empresa convocou uma conferência de imprensa para dar conta que recebeu o resultado das análises realizadas pelas autoridades de saúde e que estas são negativas. A outra empresa que viu as torres de refrigeração encerradas preventivamente, a Longa Viva, afirma que ainda não recebeu resultados
A empresa conserveira Ramirez, uma das duas do concelho de Matosinhos que tinham tido estruturas de refrigeração suspensas preventivamente, por suspeita de estarem ligadas ao surto de legionella que matou nove pessoas, foi “ilibada” de qualquer responsabilidade. Isso mesmo foi comunicado esta tarde aos jornalistas por responsáveis da empresa, depois de terem recebido, esta quinta-feira, o resultado das análises às amostras recolhidas no local. A Longa Vida, a outra empresa envolvida no processo, garante que ainda não recebeu resultados.
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A empresa conserveira Ramirez, uma das duas do concelho de Matosinhos que tinham tido estruturas de refrigeração suspensas preventivamente, por suspeita de estarem ligadas ao surto de legionella que matou nove pessoas, foi “ilibada” de qualquer responsabilidade. Isso mesmo foi comunicado esta tarde aos jornalistas por responsáveis da empresa, depois de terem recebido, esta quinta-feira, o resultado das análises às amostras recolhidas no local. A Longa Vida, a outra empresa envolvida no processo, garante que ainda não recebeu resultados.
“Um representante da ARSN [Administração Regional de Saúde do Norte] veio cá para nos entregar os resultados das análises, que são negativos, assinar a prova de que está tudo normal e já pudemos pôr a torre de arrefecimento a funcionar”, disse ao PÚBLICO Fátima Barata, directora de controlo e qualidade da Ramirez, à margem de uma conferência de imprensa convocada pela empresa. A ARSN confirmou, entretanto, que autorizou o funcionamento da torre da Ramirez, “que já tinha sido submetida, entretanto, a diversos processos de higienização e purga, tendo ainda sido instalado um dispositivo de desinfecção automático”.
Fátima Barata disse não estar surpreendida com estes resultados, já que todas as análises feitas periodicamente pela empresa foram “sempre consistentemente negativas”. A responsável admitiu ainda que “não foi nada simpático” ver o nome da empresa associado à possível origem do surto, mas ressalvou que os resultados agora conhecidos não poderiam ter sido mais rápidos, já que implicam a realização de uma cultura que precisa de vários dias para crescer e dar resultados credíveis.
A Longa Vida, que também viu as suas torres de refrigeração da empresa de Perafita serem paradas, confirmou, ao final da tarde, ao PÚBLICO, que “até ao momento não recebeu qualquer informação quanto ao resultado das recolhas realizadas pelas entidades públicas no centro de distribuição em Perafita, Matosinhos”.
A empresa diz ainda que irá continuar a “colaborar” com a autoridade de saúde, “de acordo com as solicitações da mesma”, manifestando a vontade que “a origem do surto de legionella seja identificada o mais rapidamente possível”.
A suspensão preventiva da actividade de estruturas de refrigeração na Longa Vida e na Ramirez, duas empresas situadas em Matosinhos, já aconteceu há mais de uma semana, no âmbito da investigação à origem do surto de legionella que matou nove pessoas e infectou dezenas de outras neste concelho e nos de Vila do Conde e Póvoa de Varzim.
Segundo os dados mais recentes, o surto parece estar a abrandar, com o surgimento de novos casos a diminuir ou a não acontecer de todo. Esta quinta-feira, por exemplo, os dados da Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN) não apontam para novas infecções detectadas nas últimas horas, ao mesmo tempo que se verifica uma diminuição dos casos de internamento. Segundo os dados enviados ao PÚBLICO, há, neste momento, 85 casos identificados, 17 doentes internados, 55 que já tiveram alta e nove óbitos, sete no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e dois no Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim e Vila do Conde. O Centro Hospitalar de São João, no Porto, que também recebeu infectados com a doença do legionário não registou qualquer morte relacionada com o surto.
Ainda antes de conhecer o resultado final das análises à eventual presença da bactéria da bactéria Legionella pneumophila, que provoca a doença do legionário, a Ramirez já fizera saber que na mesma altura em que as autoridades de saúde realizaram as primeiras análises nas suas instalações, foram feitas, em simultâneo, duas outras análises pela própria empresa e pela empresa especializada na manutenção das torres de refrigeração, em dois laboratórios distintos. “Os resultados foram ambos negativos”, garantira ao PÚBLICO fonte da Ramirez, acrescentando que a empresa já realizara análises de rotina no final de Outubro, que também tiveram resultados negativos, “tal como todo o historial desde 2015, ano de início de laboração da fábrica”.
Nesta fábrica de Matosinhos a suspensão decretada pelas autoridades de Saúde na quarta-feira da semana passada foi apenas de uma estrutura de refrigeração de equipamentos, mantendo-se a torre de refrigeração principal a funcionar. Na Longa Vida o processo foi diferente, tendo sido suspensa a actividade de todas as torres de refrigeração da empresa.
Em comunicado, esta empresa garantira que “efectua todos os controlos exigidos por lei às suas torres de refrigeração” e confirma que, seguindo as indicações das autoridades de Saúde, “desligou de imediato as suas torres de refrigeração”, a título preventivo. “A Longa Vida espera que a situação possa ser rapidamente esclarecida”, concluía, lembrando que cabe às autoridades competente prestar qualquer esclarecimento adicional sobre este caso.
O PÚBLICO questionou, de novo, a ARSN sobre as conclusões das análises que procuram esclarecer a origem do surto de legionella. Não há ainda conclusões definitivas. Na terça-feira, este organismo dera conta do encerramento das torres de refrigeração, como “medida cautelar”, decorrente da investigação epidemiológica e ambiental em curso. “A dispersão geográfica dos casos é compatível com uma eventual fonte ambiental sujeita aos efeitos das alterações climáticas da depressão Bárbara, que se verificou em território nacional durante o período de incubação dos referidos casos”, acrescentava, na altura.
Também na tarde desta quinta-feira, a presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, emitiu um comunicado apelando à ARSN que “informe as populações sobre os cuidados a ter durante este período e que indique quais as medidas preventivas que foram tomadas e de que forma estas mitigam o risco de infecção e do aparecimento de novos casos”.
A autarca pediu também esclarecimentos à Ramirez e à Longa Vida sobre a manutenção e funcionamento dos seus equipamentos.
O surto está a ser investigado pelo Ministério Público.
A legionella não é contagiosa e contrai-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada (aerossóis) de dimensões tão pequenas que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares. Os sintomas mais preocupantes são similares aos de uma pneumonia grave e o tratamento pode exigir o uso de um ventilador.