Covid-19: transmissibilidade está a descer, mas é preciso reduzir incidência, dizem especialistas
Peritos presentes na reunião do Infarmed confirmam que há uma “tendência nacional” de descida do índice de transmissibilidade, mas avisam que não se pode “baixar a guarda”. Para diminuir a pressão hospitalar e conseguir baixar o número de novos casos é preciso “descer o R(t) significativamente”.
A taxa de transmissibilidade do novo coronavírus está a descer, mas, sem reduzir o número de novos casos por dia, estes poderão manter-se nos milhares durante meses, afirmaram especialistas ouvidos numa reunião com políticos no Infarmed.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A taxa de transmissibilidade do novo coronavírus está a descer, mas, sem reduzir o número de novos casos por dia, estes poderão manter-se nos milhares durante meses, afirmaram especialistas ouvidos numa reunião com políticos no Infarmed.
O investigador Manuel do Carmo Gomes, da Faculdade de Ciências de Lisboa, afirmou que há “uma tendência a nível nacional” de descida do índice R(t), que determina quantas outras uma pessoa infectada pode contagiar.
O R(t) estará actualmente em 1,11 nos modelos de evolução apresentados no Infarmed e deverá estar em 1 no fim de Novembro e princípio de Dezembro, referiu Carmo Gomes, considerando que não se pode “baixar a guarda, porque à primeira oportunidade o R(t) volta a subir”.
Defendeu que é preciso “descer o R(t) significativamente para um nível gerível em termos de entradas hospitalares”, porque se projecta que na transição de Novembro para Dezembro o número médio de novos casos por dia atinja os sete mil.
A questão, apontou, é que mesmo que se consiga uma redução do R(t) para 1, a incidência de novos casos por dia pode manter-se em vários milhares, entrando-se “num planalto do qual não é fácil sair” e que se continuará a reflectir em mais doentes internados e mais mortes.
Por isso, de acordo com os modelos que apresentou, é preciso “manter o R(t) abaixo de 1 continuamente”.
Se se mantiver, poderá haver uma média superior a três mil novos casos por dia até meados de Janeiro, referiu.
De acordo com Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, o R(t) nacional está “a crescer há 88 dias”, verificando-se uma média diária de 6488 novos casos (calculada com os números efectivos a sete dias), que é “seis vezes superior” ao que se verificou na primeira onda de Março/Abril.
Esta incidência tem tido “uma tendência positiva nas últimas semanas”, indicou, referindo que o tempo que demora a duplicar o número de novos casos diários tem vindo a aumentar.
“Continuam a crescer [os novos casos por dia], mas com um crescimento menos acentuado desde o meio de Outubro”, declarou.
De acordo com os modelos trazidos à reunião por Baltazar Nunes, “só com uma redução dos contactos na comunidade superior a 60% e uma elevada cobertura do uso de máscara é possível trazer o R(t) para baixo de 1” e mantê-lo aí “por várias semanas”.
Para calcular o factor R(t) entram em consideração a duração do período que uma pessoa infectada está entre a população, o número de contactos que mantém, a probabilidade de transmissão após o contacto e a susceptibilidade à infecção.
Baltazar Nunes salientou que os países europeus que conseguiram baixar o índice de transmissibilidade foram os que aplicaram “medidas mais restritivas e apresentam níveis de mobilidade mais baixos”.
Portugal está com “níveis de mobilidade mais elevados do que estes países”, observou.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, António Costa, o presidente do Parlamento, Ferro Rodrigues, e dirigentes dos partidos com assento parlamentar assistem à reunião no Infarmed.