Israel ataca alvos iranianos na Síria horas antes da chegada de Pompeo

Face às mudanças que se antecipam na política dos Estados Unidos para o Irão, os israelitas querem deixar claro que não vão abdicar de atacar o inimigo através das posições que os iranianos ocupam em território sírio.

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Pompeu na conferência de imprensa com Netanyahu e com o ministro Zayani, do Bahrein EPA/MENAHEM KAHANA / POOL

Israel ataca com frequência alvos iranianos, do Hezbollah libanês e das forças de Bashar al-Assad na Síria. Menos frequente é um ataque com tantos alvos como o desta quarta-feira – e ainda mais raro é o Exército israelita divulgar tantos pormenores sobre um destes ataques, no que parece ter a intenção clara de enviar uma mensagem, agora que a Administração Trump tem os dias contados.

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Israel ataca com frequência alvos iranianos, do Hezbollah libanês e das forças de Bashar al-Assad na Síria. Menos frequente é um ataque com tantos alvos como o desta quarta-feira – e ainda mais raro é o Exército israelita divulgar tantos pormenores sobre um destes ataques, no que parece ter a intenção clara de enviar uma mensagem, agora que a Administração Trump tem os dias contados.

“O que o Irão e a Síria fizeram: colocaram engenhos explosivos improvisados na linha Alpha [a fronteira de facto entre Israel e a Síria] para atacar tropas israelitas. O que nós fizemos: acabámos de atacar alvos da Força Iraniana Quds [unidade de elite dos Guardas da Revolução] e das forças armadas sírias na Síria”, escreveu o Exército israelita no Twitter. Israel explicitou ter atacado “instalações de armazenamento, quartéis-gerais e complexos militares”, tendo atingido “baterias de mísseis terra-ar sírias”, lê-se num comunicado.

O regime sírio confirmou “a agressão israelita” e deu conta de três militares mortos. Já o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (ONG que conta com uma rede de activistas e médicos na Síria) diz que foram mortos pelo menos dez combatentes, incluindo três oficiais da defesa antiaérea síria e cinco paramilitares “provavelmente de nacionalidade iraniana”.

Na véspera, Israel dissera ter encontrado os engenhos explosivos na parte ocupada dos Montes Golã, falando em “mais uma prova clara do entrincheiramento iraniano na Síria”.

Os israelitas já atacaram centenas de alvos em território sírio desde o início da guerra civil que eclodiu pouco depois da revolta de Março de 2011. Estes ataques cresceram de forma significativa nos últimos dois anos, “no que fontes dos serviços secretos ocidentais descrevem como uma guerra na sombra para reduzir a influência do Irão”, escreve a Al-Jazeera. Uma estratégia que conta certamente com o apoio de Washington.

Esta série de ataques nocturnos foi lançada horas antes da chegada a Israel do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, para uma visita onde serão discutidos temas de interesse comum, como o Irão. Esta viagem é com grande probabilidade a última deste responsável ao país aliado antes da saída de cena de Trump, em Janeiro.

Pompeo, que iniciou esta quarta-feira uma visita de três dias, já se encontrou com o primeiro-ministro israelita em Jerusalém e deu uma conferência de imprensa onde esteve ainda o ministro dos Negócios Estrangeiros do Bahrein, Abdullatif bin Rashid al-Zayani – o Bahrein foi o segundo de três países árabes a normalizar relações com Israel nos últimos meses, em pactos patrocinados por Washington.

“Três acordos de paz em seis semanas. Não me parece que possa melhorar”, congratulou-se o dirigente americano, ao lado de Zayani e de Benjamin Netanyahu, referindo-se aos acordos com os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein e o Sudão. Um progresso que diz ter sido aplaudido em todo o mundo e contribuído para deixar o Irão “mais isolado do que nunca”.

Acordo nuclear

O Governo de Netanyahu tem sido um fervoroso apoiante da política iraniana de Trump, que abandonou o acordo internacional sobre o programa nuclear de Teerão e instituiu em troca duríssimas sanções, na chamada política de “máxima pressão”. Pelo contrário, o Presidente eleito, Joe Biden, deseja um regresso dos Estados Unidos ao pacto que permite supervisionar as actividades nucleares do Irão.

A República Islâmica, como sublinhou esta quarta-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif, está disponível para “regressar de imediato ao cumprimento total no acordo e a negociações” com as potências envolvidas no pacto de 2015 – para além dos EUA, a França, a Alemanha, o Reino Unido, a Rússia e a China. Para isso, afirmou Zarif, basta que o dirigente eleito pelo Partido Democrata “assegure os compromissos dos EUA” e levante as sanções.

Com o vento da mudança a soprar na sua direcção, Israel quer deixar claro que não vai abandonar a política de atacar a presença iraniana na Síria.

Actualizado às 15h47 com a chegada de Pompeo e a conferência de imprensa conjunta