Na arte de Gabriela Albergaria, o ser humano inclina-se diante da natureza
Na Culturgest em Lisboa, uma exposição antológica de Gabriela Albergaria reúne obras produzidas ao longo de 16 anos, em países diferentes. Para dar a conhecer uma obra que interroga a accão humana nos ecossistemas e transformação da paisagem. Com esculturas, instalação, desenho, fotografia, sem abdicar de um sentido poético que descentra o lugar do humano no mundo.
Nas páginas do Ípsilon, o primeiro encontro com a obra de Gabriela Albergaria (Vale de Cambra, 1965), deu-se há dez anos, por ocasião de Térmico, exposição no Pavilhão Branco do Museu da Cidade, em Lisboa. Na altura, conversou-se com a artista acerca de questões que marcavam o seu trabalho: o jardim enquanto espaço de vivência física e emocional, as fronteiras entre a natureza e a cultura, a influência da acção humana na paisagem. Na antológica da artista, Natureza Detesta Linhas Retas, na Culturgest (em Lisboa, até 28 de Fevereiro), também com a curadoria de Delfim Sardo, o visitante reencontra essas questões, revisitando peças antigas e já vistas: por exemplo, uma nova versão da emblemática Couche Sourde (2010-2020) ou Árvore, mostrada no Centro Cultural de Belém, em 2005. A este momento, acrescentar-se-á a descoberta de trabalhos inéditos em Portugal e uma sensibilidade mais aguda ao descentramento do humano face à natureza. Se a reflexão sobre os efeitos da acção humana nas paisagens e nos ecossistemas, com a domesticação e a fabricação do mundo natural, têm sido linhas orientadoras do trabalho da artista, em A Natureza Detesta Linhas Retas ganham um sentido mais urgente, mais vincado. Esta alteração nãoo implica, como se verá, uma suspensão da verve poética de Gabriela Albergaria.