Ventura já deu a Rio a “moderação”. É ver o que se segue
A direita já incluiu o Chega nas suas contas e caminha alegremente para a bancarrota política.
As eleições dos Açores provocaram uma mudança no sistema político impossível de imaginar há algum tempo. A ideia de que os partidos da direita estavam prontíssimos para se aliar à extrema-direita já tinha sugerido por Rui Rio quando afirmou na entrevista à RTP que tudo podia acontecer “se o Chega se moderar”. A minimal polémica que estas palavras suscitaram dava a entender que o PSD estava pronto para a associação. Já está: em domingo de recolher obrigatório o deputado André Ventura dá uma entrevista à Lusa em que oferece aquilo que Rui Rio tinha pedido: a sua “moderação”. Não é preciso mais nada para que uma coligação pré-eleitoral venha a ser possível. Ou um lugar de relevo num futuro governo. A avaliar pelo entusiasmo que vai na direita por finalmente agora começar a ver a possibilidade de chegar ao poder, tudo parece possível para o partido Chega.
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As eleições dos Açores provocaram uma mudança no sistema político impossível de imaginar há algum tempo. A ideia de que os partidos da direita estavam prontíssimos para se aliar à extrema-direita já tinha sugerido por Rui Rio quando afirmou na entrevista à RTP que tudo podia acontecer “se o Chega se moderar”. A minimal polémica que estas palavras suscitaram dava a entender que o PSD estava pronto para a associação. Já está: em domingo de recolher obrigatório o deputado André Ventura dá uma entrevista à Lusa em que oferece aquilo que Rui Rio tinha pedido: a sua “moderação”. Não é preciso mais nada para que uma coligação pré-eleitoral venha a ser possível. Ou um lugar de relevo num futuro governo. A avaliar pelo entusiasmo que vai na direita por finalmente agora começar a ver a possibilidade de chegar ao poder, tudo parece possível para o partido Chega.
É verdade que nem toda a direita está de acordo com esta mudança estrutural que teve como corolário épico a negociação para o governo PSD nos Açores. Neste jornal, Pacheco Pereira e Francisco Mendes da Silva já escreveram sobre o fenómeno. Na edição desta segunda-feira, Jorge Moreira da Silva, claramente atónito, pede um congresso para definir política de alianças. Infelizmente, desconfio de que estas são posições minoritárias. A direita já incluiu o Chega nas suas contas e caminha alegremente para a bancarrota política.
Então qual é a “moderação” que Ventura ofereceu a Rui Rio? Demarcou-se de Salazar e manifestou-se contra a penalização do aborto. Quanto ao casamento gay, apesar de o partido ser contra, ele defende o princípio legal e também não defende o princípio legal. Ou, para o citar ipsis verbis, desmentindo a entrevista da Lusa em que quase se declara a favor do casamento gay: “Fake news. Em momento algum disse ser a favor do casamento homossexual. Falei de direitos que as pessoas homossexuais não podem deixar de ter”. O que o líder do Chega disse na entrevista é o seguinte: “A minha posição pessoal é a de que um casal de homens ou de mulheres não deve ter menos direitos do ponto de vista da sua presença na sociedade do que um casal homem-mulher”. Estava feita a declaração para efeitos de moderação e, depois, segue-se o desmentido para satisfazer o partido. Este é o procedimento, mas é muito possível que seja o suficiente para Rio ficar satisfeito.