A estranha carta “forjada” de apoio à candidata nigeriana à liderança da OMC
Financial Times publicou carta de um alegado leitor norte-americano apoiando a economista Ngozi Okonjo-Iweala na corrida à OMC, mas o autor não existirá, segundo uma investigação divulgada pelo Politico.
A economista nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala, candidata à liderança da Organização Mundial do Comércio (OMC), viu o seu nome envolvido num bizarro caso relacionado com a publicação de uma alegada carta falsa de apoio à sua candidatura. Okonjo-Iweala lidera actualmente a Aliança Global para as Vacinas.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A economista nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala, candidata à liderança da Organização Mundial do Comércio (OMC), viu o seu nome envolvido num bizarro caso relacionado com a publicação de uma alegada carta falsa de apoio à sua candidatura. Okonjo-Iweala lidera actualmente a Aliança Global para as Vacinas.
A 5 de Agosto, o jornal britânico Financial Times publicou online (e no dia seguinte na edição impressa) a opinião de um alegado leitor que se intitulou Larry Wayne (supostamente natural do condado de Arlington, no estado norte-americano da Virginia). Essa carta representava uma missiva de apoio à economista, ex-ministra das Finanças da Nigéria, e criticava outra das candidatas na corrida, a diplomata queniana Amina C. Mohamed, ex-directora executiva adjunta do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Mas, de acordo com o jornal norte-americano Politico, uma empresa suíça especializada em consultoria de informações na área da segurança, a Rokh, analisou a carta e outras informações, e concluiu que se trata de uma carta forjada, escrita com um nome alegadamente falso.
A partir de Londres, o Politico escreve que o texto foi entretanto retirado do site do Financial Times, decisão que um porta-voz do jornal económico explica com a política de publicação de cartas do jornal, que “exige que os leitores usem os seus nomes verdadeiros”, reservando-se o jornal no direito de “remover uma carta” se considerar que o contrário aconteceu.
Ao Politico, um representante da campanha de Ngozi Okonjo-Iweala distanciou-se da autoria da missiva, rejeitando qualquer envolvimento da candidata: “Lembramo-nos de ver essa carta quando foi publicada, o resto da história é uma novidade para nós — é bizarro.”
O Politico mostrou a análise da Rokh a um consultor de segurança e risco que, diz o jornal, concordou que, face aos indícios recolhidos, Larry Wayne será um nome inventado para dar a aparência de que se trataria de uma pessoa. Tanto a empresa como a segunda fonte do Politico admitem que a origem das movimentações possa estar em especialistas em fraude nigerianos.
Ngozi Okonjo-Iweala já foi ministra em duas pastas distintas. Foi ministra das Finanças entre 2003 e 2006, depois ministra dos Negócios Estrangeiros ainda em 2006 e, anos mais tarde, voltaria a liderar a pasta das Finanças, entre 2011 e 2015.
Foi directora no Banco Mundial. Em 2012, quando era ministra, candidatou-se à cúpula da organização, à presidência do grupo Banco Mundial — segundo o seu currículo, foi a primeira mulher africana a fazê-lo.
A figura de Larry Wayne já tinha escrito para o Financial Times no início de 2019 (31 de Janeiro online e 1 de Fevereiro na edição impressa) sobre o Banco Mundial. Mas, nesse caso, refere o Politico, o nome de Okonjo-Iweala não era referido.
A economista nigeriana é presidente do conselho de administração da Aliança Global para as Vacinas (GAVI) desde Janeiro de 2016. Termina o mandato a 31 de Dezembro e passa a pasta a Durão Barroso, ex-primeiro-ministro português e ex-presidente da Comissão Europeia. Okonjo-Iweala também pertence à administração da African Risk Capacity (ARC), uma agência da União Africana especializada no apoio aos governos africanos na melhoria do planeamento de respostas a eventos meteorológicos extremos e desastres naturais.
Segundo o Politico, Okonjo-Iweala contará com o apoio da maioria dos membros da OMC — se se for eleita, será a primeira mulher e primeira pessoa de um país africano a liderar a organização —, mas não terá garantido nos Estados Unidos por parte da Administração de Donald Trump.
Há oito candidatos à liderança da OMC (três candidatas e cinco candidatos). Além de Okonjo-Iweala e de Amina C. Mohamed, estão na corrida Jesús Seade Kuri (México), Abdel-Hamid Mamdouh (Egipto), Tudor Ulianovschi (Moldávia), Yoo Myung-hee (Coreia do Sul), Mohammad Maziad Al-Tuwaijri (Arábia Saudita) e Liam Fox (Reino Unido).
A OMC procura regular o sistema de comércio internacional assente em regras, desempenhando um papel importante na resolução de litígios entre países.