Sara Ocidental: Frente Polisário declara nulo o cessar-fogo com Marrocos, que durava há 29 anos

O dirigente do movimento independentista, Ibrahim Ghali, anunciou ter assinado um decreto e declarou a região em “estado de guerra”. Há voluntários a alistarem-se para combater, diz agência EFE.

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O rei Mohamed VI de Marrocos, país que ocupa o Sara Ocidental desde 1975 Reuters

O líder do movimento independentista do Sara Ocidental Frente Polisário, Ibrahim Ghali, anunciou neste sábado que o grupo considera sem efeito o cessar-fogo acordado com Marrocos e em vigor há 29 anos, e declarou que a região está em “estado de guerra”.

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O líder do movimento independentista do Sara Ocidental Frente Polisário, Ibrahim Ghali, anunciou neste sábado que o grupo considera sem efeito o cessar-fogo acordado com Marrocos e em vigor há 29 anos, e declarou que a região está em “estado de guerra”.

Ibrahim Ghali disse ter assinado um decreto a pôr fim ao compromisso do grupo, responsabilizando Marrocos pelo regresso do conflito.

Uma intervenção militar das Forças Armadas de Marrocos na zona desmilitarizada de Guerguerat, com a missão de pôr fim ao bloqueio da principal via rodoviária de acesso à Mauritânia, já tinha levado o movimento independentista, na sexta-feira, a denunciar a violação do cessar-fogo no território disputado e a proclamar o início da “guerra de libertação de todo o povo” sarauí.

Segundo a agência espanhola EFE, ao mesmo tempo que era difundida a notícia do decreto de Ghali, que é também presidente da República Árabe Democrática Saraui, dezenas de voluntários começaram a alistar-se nos quartéis dos campos de refugiados erguidos há 45 anos na região argelina de Tinduf e nas chamadas “zonas libertadas”.

Num comunicado enviado a esta agência, a Polisário diz que disparou contra quatro bases marroquinas e dois postos de controlo ao longo do muro de defesa construído por Marrocos de Norte a Sul do Sara Ocidental. O comunicado diz que os ataques são a resposta à declaração de guerra de Marrocos o a intervenção em Guerguerat. 

​A estrada de Guerguerat, que entra na Mauritânia, é a principal via a ligar Marrocos e o resto de África, explica a Reuters. Apoiantes da Polisário, que consideram ilegal que Marrocos use esta via, bloqueiam a passagem desde 21 de Outubro.

 A EFE diz que a situação é pouco clara sobre o que se passa no terreno. O Governo de Marrocos não fez qualquer declaração sobre o decreto do líder da Frente Polisário a declarar o fim do cessar-fogo ou sobre os ataques que os media do país estão a negar que tenham existido.

Outras notícias dão conta de movimentação de tropas na Argélia, junto à fronteira com Marrocos, país que considera o Sara Ocidental parte do seu território e que ocupou quando Espanha saiu da região, em 1975

A Frente Polisário exige ainda à ONU que cumpra o prometido – um referendo sobre a autonomia – para poder escolher livremente o futuro de autonomia que Rabat lhe nega. O bloqueio da estrada de Guerguerat é também um protesto pelo facto de a Missão das Nações Unidas para o Referendo do Sara Ocidental (Minurso), criada em 1991, não ter cumprido a sua promessa e objectivo. O mandato desta força foi renovado pelo Conselho de Segurança da ONUU a 30 de Outubro, mas sem ser feita qualquer menção ao referendo à autonomia. 

Segundo o site de notícias sobre o Sara Ocidental ecsaharaui.com, o líder da Frente Polisário deu neste sábado 12 horas à missão da ONU para sair do seu território, depois de 29 anos sem avanços substanciais e acusando a Minurso de ter um mecanismo “favorável à ocupação marroquina”.