Francisco tem “230” formas de acabar com a iliteracia política: entrevistar todos os deputados do Parlamento
O jovem estudante quer humanizar os políticos portugueses na esperança de aproximar a sociedade da política e combater o voto desinformado. Decidiu, então, entrevistar os 230 deputados do Parlamento.
Francisco Cordeiro de Araújo quis mudar a maneira como se comunica a política em Portugal — e, em especial, entre os jovens. Para isso, decidiu entrevistar os 230 deputados da Assembleia da República, levantando o pano sobre quem são as pessoas por detrás dos partidos. “Porque, ao fim e ao cabo, são pessoas que estão lá a representar a própria sociedade e não são, nem devem estar, desligadas da sociedade”, explica. Trata-se de uma “iniciativa isenta e transparente, sem qualquer inclinação partidária”, que arrancou nas redes sociais. Como tal, “os deputados não têm acesso às perguntas, é tudo dito na hora e não se costumam fazer cortes”. O projecto “Os 230” partiu da motivação individual de Francisco, mas já cresceu além disso com o recrutamento de uma equipa de filmagens e voluntários de diversas áreas e cidades. “Todos sem ligações partidárias”, sublinha o jovem de 23 anos.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Francisco Cordeiro de Araújo quis mudar a maneira como se comunica a política em Portugal — e, em especial, entre os jovens. Para isso, decidiu entrevistar os 230 deputados da Assembleia da República, levantando o pano sobre quem são as pessoas por detrás dos partidos. “Porque, ao fim e ao cabo, são pessoas que estão lá a representar a própria sociedade e não são, nem devem estar, desligadas da sociedade”, explica. Trata-se de uma “iniciativa isenta e transparente, sem qualquer inclinação partidária”, que arrancou nas redes sociais. Como tal, “os deputados não têm acesso às perguntas, é tudo dito na hora e não se costumam fazer cortes”. O projecto “Os 230” partiu da motivação individual de Francisco, mas já cresceu além disso com o recrutamento de uma equipa de filmagens e voluntários de diversas áreas e cidades. “Todos sem ligações partidárias”, sublinha o jovem de 23 anos.
O estudante de Direito Internacional na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL) já conduziu 20 entrevistas até agora e acredita que as filmagens em vários espaços da Assembleia da República “fazem as pessoas sentir uma maior proximidade”. Têm todas cerca de 40 minutos e não se ficam pelas questões pessoais, profissionais e ideológicas que revelam a pessoa por detrás do cargo. A segunda parte, a “mais dinâmica” da entrevista, leva os deputados por “perguntas rápidas e directas”, como “Com quem é que gostavam de almoçar?”, e onde são também confrontados com “palavras soltas” e têm de escolher aquilo com que as associam. Além disso, há uma preocupação em mostrar como o deputado ou a deputada se aliou ao partido e o que pensa sobre assuntos de interesse público na sua área. Depois de abordar o sistema eleitoral, e a sua proximidade com os eleitores, é-lhes pedido que resumam Portugal numa palavra e que deixem uma mensagem aos portugueses.
Francisco “já há muito” se debatia sobre como “caminhávamos enquanto sociedade”, ao ver a divisão do país, a desvalorização da informação, e por “haver um pouco uma ameaça à própria democracia”. Sentiu que deveria encontrar uma solução para estes problemas, mas queria fazê-lo de forma “independente, apartidária e isenta”— algo que, considera, falta nos projectos em Portugal. A iniciativa começou a ganhar a forma após a entrevista filmada em Agosto, quando concluiu que era fundamental “apresentar às pessoas quem as representa”. Depois de provar a sua resiliência, e intenção desligada de inclinações políticas, através de emails e telefonemas para a Assembleia da República, Francisco conseguiu avançar com as entrevistas: “Quando perceberam que era um projecto isento e independente começou a ser mais fácil, comecei a ter as primeiras entrevistas com deputados que aceitaram logo e até agora não tive nenhuma recusa por parte de nenhum.”
Assim, o estudante esperava que os seus vídeos pudessem “evitar que as pessoas só votem por ideologias ou pelos programas eleitorais”, mas que sentissem, sim, a obrigação de conhecer os deputados. “É assim que se faz a democracia”, repara. “Os 230” apresenta-se, então, como uma ferramenta de literacia política numa altura em que se avizinham as eleições presidenciais em Janeiro. Francisco adianta que se encontra em preparação um “especial presidenciais”, com a abertura do costume, em que serão entrevistados todos os candidatos. Não pretende “orientar ideologicamente as pessoas”, mas sim desculpabilizar os políticos e aproximá-los da sociedade, em prol da informação. “Quando estivermos a votar nas próximas eleições, saberemos mais em quem estamos a votar.”
Por agora, as entrevistas são divulgadas nas redes sociais do projecto em formato de vídeo ou podcast, mas já se encontra em desenvolvimento uma plataforma online “com as várias secções que projecto vai ter”: haverá uma divisão dos deputados por círculo eleitoral e uma separação dos vários subprojectos, como o das presenciais. O futuro da iniciativa reserva ainda entrevistas “com o Parlamento Europeu e as instituições europeias”, adianta Francisco, e estão a ser lançados dois segmentos novos — “Democracia 101” (Introdução à Democracia), com “vídeos explicativos de um minuto e um segundo sobre temas bases da democracia"; e “Sociedade 230”, onde será pedido “a personalidades da sociedade civil que abordem certos assuntos de interesse público em dois minutos e 30 segundos". Por último, o futuro site vai contar ainda com um “fórum de cidadania”, onde será promovido “o diálogo democrático e a discussão de ideias”.
A iniciativa tem sido bem recebida pelos deputados: “Sentem que o projecto tem valor e que também é uma forma de se aproximarem dos cidadãos”. Por sua vez, também a sociedade acolheu “Os 230” positivamente, com “uma abrangência geracional muito grande”. Francisco vê “bastante generosidade” no reconhecimento que recebe, quando lhe dizem “que este projecto faz diferença nas suas vidas e que a forma descontraída e diferente como se aborda o tema acrescenta valor”.
Texto editado por Ana Maria Henriques