Os trabalhadores da cultura
Tempos houve em que foi possível que muitos trabalhadores da cultura coincidissem com a produção singularizada num nome autoral.
As intervenções e manifestações públicas motivadas pelos efeitos devastadores da pandemia na área da cultura fizeram surgir à luz do dia uma categoria de profissionais liberais que são os “trabalhadores da cultura”. Provas da sua existência, havia muitas, sobretudo desde que começaram a proliferar os chamados festivais e se deu uma “festivalização” generalizada nas formas de socialização da cultura. Esses acontecimentos tendem a ser verdadeiramente pluri e interdisciplinares e operam uma notável reversibilidade: proletarizam os artistas (de todas as artes, incluindo a literária) e fazem entrar os proletários num devir-artista. Mas, pelo menos entre nós, eles não tinham ainda sido construídos política e socialmente como uma categoria. Nomeavam-se a si próprios ou eram nomeados informalmente no seu campo, mas as várias instâncias do poder político faziam os possíveis por não os nomear. A serem nomeados com grande deferência e elevação foram sempre os artistas, os escritores, os actores, os encenadores, os cineastas, os músicos, etc. Mas não enquanto sujeitos do “trabalho cultural”. Muitos deles, podemos imaginar, têm até uma enorme resistência em designar assim os seus investimentos artísticos e em encorajarem um olhar que forma constelações e engloba um exército de “agentes”, como se diz hoje, que não detêm a aura de autores e permanecem de um modo geral anónimos.
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As intervenções e manifestações públicas motivadas pelos efeitos devastadores da pandemia na área da cultura fizeram surgir à luz do dia uma categoria de profissionais liberais que são os “trabalhadores da cultura”. Provas da sua existência, havia muitas, sobretudo desde que começaram a proliferar os chamados festivais e se deu uma “festivalização” generalizada nas formas de socialização da cultura. Esses acontecimentos tendem a ser verdadeiramente pluri e interdisciplinares e operam uma notável reversibilidade: proletarizam os artistas (de todas as artes, incluindo a literária) e fazem entrar os proletários num devir-artista. Mas, pelo menos entre nós, eles não tinham ainda sido construídos política e socialmente como uma categoria. Nomeavam-se a si próprios ou eram nomeados informalmente no seu campo, mas as várias instâncias do poder político faziam os possíveis por não os nomear. A serem nomeados com grande deferência e elevação foram sempre os artistas, os escritores, os actores, os encenadores, os cineastas, os músicos, etc. Mas não enquanto sujeitos do “trabalho cultural”. Muitos deles, podemos imaginar, têm até uma enorme resistência em designar assim os seus investimentos artísticos e em encorajarem um olhar que forma constelações e engloba um exército de “agentes”, como se diz hoje, que não detêm a aura de autores e permanecem de um modo geral anónimos.