Influencers com causa: Venetia e a origem das nossas roupas
É preciso continuar a alertar o mundo de megafone em punho para as marcas responsáveis pela exploração laboral? Sim, quando companhias de sucesso como a Topshop, Oscar de la Renta ou Urban Outfitters usam a desculpa da pandemia para não pagar a quem confeccionou as suas roupas em 2019, muito antes da presente crise.
Já não é novidade, as notícias duram três dias, tantas vezes nem isso, uma manhã, algumas horas. E talvez por não ser novidade continuamos a comprar produtos, baratos, a marcas de confecção cujos alicerces vivem alicerçados, perdoem-me o pleonasmo, na exploração laboral, baixos salários, trabalho infantil.
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Já não é novidade, as notícias duram três dias, tantas vezes nem isso, uma manhã, algumas horas. E talvez por não ser novidade continuamos a comprar produtos, baratos, a marcas de confecção cujos alicerces vivem alicerçados, perdoem-me o pleonasmo, na exploração laboral, baixos salários, trabalho infantil.
Querem exemplos? Adidas, GAP, Zara ou Primark, só para enumerar algumas marcas. Não obstante, não nos limitámos a esquecer. Egoisticamente, aceitámos as condições de vida destes trabalhadores, destas famílias, destas crianças. Mas, pior, erroneamente assumimos terem estes trabalhadores mais as suas famílias e crianças aceite o seu destino malfadado. Até porque lá, lá longe da vista e do coração, não há sindicatos. Porque lá não têm quem os defenda. Lá, se não trabalharem, são despedidos. Ou assim pensamos.
E, vítimas da nossa inocência, continuamos a explorar o mundo a partir do conforto do sofá, enquanto milhões de polegares deslizam no ringue vítreo do olhar vítreo do telemóvel.
Urge, por conseguinte, continuar a lutar, insistir na mensagem, fazer notícias, para que as mesmas não durem apenas três dias, mas muitos mais, na esperança de um dia, não muito distante, não mais serem precisas, uma relíquia nefasta do passado.
Quem o diz? Venetia Falconer, activista pela moda sustentável, uma das influencers do momento e o motivo deste texto.
Assim, basta aceder à sua conta no Instagram para ficarmos a saber como na fábrica da Mango em Dihuali, na Birmânia, os trabalhadores tiveram a peregrina ideia, para não dizer desfaçatez, de exigir água potável. A reacção não se fez esperar: 738 trabalhadores foram despedidos.
Em 2019, a Mango teve um lucro de 41 milhões de euros e um recorde de vendas. Infelizmente, e de acordo com a marca, a pandemia exige medidas restritivas, medidas essas de modo algum relacionadas com a exigência de água para os seus trabalhadores. Meus senhores, não nascemos ontem.
Venetia Falconer põe o dedo na ferida: quem, verdadeiramente, faz as nossas roupas e qual a razão para grandes marcas como a Nike se recusarem a divulgar os seus fornecedores? Serão estas marcas tão respeitadoras do ambiente como a sua publicidade diz? Então, divulguem não apenas os fornecedores mas também os meios de produção, os salários pagos, sem esquecer em que países e, de caminho, se estão sujeitos a impostos.
Venetia continua: é preciso continuar a alertar o mundo de megafone em punho para as marcas responsáveis pela exploração laboral? Sim, quando companhias de sucesso como a Topshop, Oscar de la Renta ou Urban Outfitters usam a desculpa da pandemia para não pagar a quem confeccionou as suas roupas em 2019, muito antes da presente crise.
Mas há mais: todas as semanas a H&M divulga no seu site e nas redes sociais tudo quanto é feito em nome da sustentabilidade, desde a promoção da biodiversidade à reciclagem, de colecções sustentáveis à revenda de produtos. E porque não gastar menos em publicidade e mais no aumento do rendimento dos seus trabalhadores, assim fazendo jus a uma promessa ainda por cumprir desde 2013?
Através das suas publicações, Venetia Falconer não é apenas uma fonte de informação, é uma ordem de luta. Já ouviram falar do povo muçulmano uigur, residente na região de Xinjiang, no nordeste da China? Sob o pretexto do combate ao terrorismo, este povo tem sido perseguido pelo governo chinês desde 2016. Perseguido significa o aprisionamento de milhões de uigures em campos de reeducação. Os mesmos campos onde, ininterruptamente, se produzem peças para a C&A, Tommy Hillfiger, Calvin Klein, entre outras.
Não se perseguem povos por acaso. Não se invadem países por acaso. E quando um país implementa políticas sustentáveis ou procura cumprir protocolos ambientais acordados internacionalmente, as marcas de roupa respondem prontamente através da deslocação das suas fábricas.
No mundo inteiro, apenas 2% dos trabalhadores da indústria têxtil têm salários condignos. Os restantes? Os restantes não estão apenas sedentos de água, mas de direitos. Foi sempre assim, nós é que não quisemos ver. Ou compreender. Lá longe é já aqui ao lado e os movimentos dos trabalhadores não se fazem esperar e precisam da nossa ajuda.
A moda sustentável está intrinsecamente ligada à sustentabilidade das vidas de quem nesta indústria trabalha. Tudo isto e muito mais é partilhado por Venetia Falconer. Basta segui-la. Basta um clique. E um pouco do vosso tempo. Não apenas em nome de um consumo informado mas justo. Lá longe? É já aqui ao lado.