México: ex-Presidente Peña Nieto acusado de traição, suborno e liderança criminosa
Jornal mexicano teve acesso a documento do Ministério Público que diz que Peña Nieto aceitou milhões da construtora brasileira Odebrecht para subornar congressistas e fazer aprovar as suas reformas económicas.
O Gabinete do Procurador-Geral da República do México acusou o antigo Presidente do país Enrique Peña Nieto de traição à nação e de ser um líder criminoso, no âmbito do escândalo de corrupção que envolve a construtora brasileira Odebrecht.
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O Gabinete do Procurador-Geral da República do México acusou o antigo Presidente do país Enrique Peña Nieto de traição à nação e de ser um líder criminoso, no âmbito do escândalo de corrupção que envolve a construtora brasileira Odebrecht.
De acordo com um documento do Ministério Público mexicano revelado nesta quinta-feira pelo jornal Reforma, Peña Nieto ordenou aos seus ministros e assessores que subornassem congressistas para aprovarem reformas económicas, em benefício de empresas estrangeiras.
O documento em causa é o mandado de detenção emitido para Luis Videgaray, ex-ministro das Finanças e dos Negócios Estrangeiros no Governo de Peña Nieto, e uma das figuras-chave do esquema de corrupção.
O Ministério Público diz que o antecessor de Andrés Manuel López Obrador comandava “um Estado dentro do Estado”, para assegurar “o seu próprio sistema criminoso de poder”, centrado na distribuição de subornos da Odebrecht.
A construtora brasileira já foi implicada em escândalos de corrupção e de lavagem de dinheiro em 12 países, muitos da América Latina, e os seus vários eixos, depois de revelados e investigados judicialmente, já fizeram cair políticos no Brasil, na Colômbia e no Peru (ainda esta semana, o Presidente peruano Martín Viscarra).
O mandado de detenção de Videgaray denuncia mais de 121 milhões de pesos (perto de cinco milhões de euros) em pagamentos ilícitos, que terão sido distribuídos por membros importantes do Congresso, para garantir a aprovação das reformas que abriram radicalmente o sector petrolífero a empresas privadas.
O documento conclui que o antigo ministro seguiu as ordens do então Presidente, mas o jornal Reforma acrescenta que a legalidade do mandado ainda tem de ser confirmada por um juiz. O mandado não exige a detenção de Peña Nieto.
No mês passado, informa a Reuters, Obrador confirmou que tinha sido emitido um mandado de captura para Videgaray, mas disse que tudo indicava que tinha sido rejeitado por um tribunal.
O Presidente Obrador fez da luta contra a corrupção uma das suas prioridades políticas e já veio dar o seu aval à possibilidade de se fazer um referendo para perguntar aos mexicanos se os antigos chefes de Estado podem ser apresentados a julgamento pelos crimes cometidos durante o exercício das suas funções.
Os críticos de Obrador – que perdeu para Peña Nieto a eleição presidencial de 2012 – acusam-no, no entanto, de querer colher frutos políticos, atacando a reforma que pôs fim ao monopólio de décadas da Pemex, a companhia petrolífera estatal.
Antigos executivos da Odebrecht aceitaram testemunhar, confirmando a existência de subornos a Emilio Lozoya, responsável pela estratégia internacional da campanha eleitoral do Partido Revolucionário Institucional (de Nieto) e director da Pemex entre 2012 e 2016.
O próprio Lozoya fez um acordo com a Justiça, em troca do seu testemunho contra as acções do ex-Presidente e do ex-ministro.