Julgamento dos atentados de Novembro de 2015 em Paris é “um grande show mediático”

A mãe de Precília Correia, luso-descendente que morreu no atentado ao Bataclan, diz que o processo reabre a dor de quem perdeu familiares ou ficou ferido, e que não acredita que se faça justiça. Veredicto do julgamento do ataque ao Charlie Hebdo adiado.

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131 foram mortas a 13 de Novembro no Estádio de Franca, no Bataclan e nas esplanadas do 11.º bairro de Paris LAURENT DUBRULE/EPA

Cinco anos depois dos ataques, as famílias das vítimas dos atentados de 13 de Novembro de 2015 em Paris consideram que o processo que deverá começar em Janeiro, com 20 acusados de terrorismo, é “um show mediático”.

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Cinco anos depois dos ataques, as famílias das vítimas dos atentados de 13 de Novembro de 2015 em Paris consideram que o processo que deverá começar em Janeiro, com 20 acusados de terrorismo, é “um show mediático”.

“O processo é um grande show mediático e um reavivar da dor que carrega consigo quem perdeu alguém próximo ou ficou ferido. Tem de haver um processo, porque foi um acto de guerra e isso deve ficar registado na História, mas não tenho qualquer confiança na justiça”, disse à agência Lusa Patrícia Correia, mãe de Precília Correia, luso-descendente que morreu no atentado ao Bataclan, e uma das fundadoras da associação de vítimas 13onze15.

O megaprocesso obrigou à construção de uma sala de audiências especial no Palácio de Justiça de Paris, junto à catedral de Notre Dame. As autoridades estimam que o julgamento vai envolver mais de três mil pessoas, entre os 20 acusados, 1700 sobreviventes, testemunhas e familiares das vítimas, 350 advogados e jornalistas.

Esta logística não impressiona Patrícia Correia, nem os membros das outras famílias que integram a sua associação e que antevêem que o processo não trará nem novidades, nem o castigo necessário aos acusados.

“Houve grandes falhas por parte das autoridades, isso já sabemos. Quanto aos réus, deixamos-lhes sempre uma oportunidade de sair ao fim de alguns anos”, sublinhou.

No banco dos réus não haverá terroristas directamente responsáveis pelas 131 mortes ocorridas no dia 13 de Novembro de 2015 no estádio de França, no Bataclan e em restaurantes do 11.º bairro, já que todos os atacantes foram mortos. Mas há figuras-chave que terão participado na preparação dos atentados.

E desde logo Salah Abdeslam, o único sobrevivente dos operacionais de 13 de Novembro, que transportou três terroristas até ao estádio de França. Depois, deveria utilizar um colete de explosivos para levar a cabo outro ataque, mas abandonou os explosivos e fugiu para a Bélgica.

Outro acusado que será julgado é Mohamed Abrini que terá acompanhado os terroristas até à região parisiense, e tido um papel importante no financiamento e na obtenção de armas para o ataque.

Acompanhando o julgamento actualmente em curso dos ataques de 7 Janeiro de 2015, quando a redacção do jornal satírico Charlie Hebdo foi visada, e o subsequente ataque no início de Outubro às antigas instalações do jornal, Patrícia Correia considera que a actuação das autoridades tem sido “terrível”.

[O veredicto do julgamento sobre o ataque ao Charlie Hebdo, em que morreram 12 pessoas e 11 ficaram feridas, esteve marcado para esta quinta-feira, mas foi adiado pois as sessões prolongaram-se e decorrem pelo menos até ao início da semana que vem].

“É terrível tudo o que se passou no seguimento do processo Charlie Hebdo, com um louco que foi atacar a antiga redacção. O Governo deixou-se invadir por estas comunidades islâmicas e estamos em perigo”, considerou.

Passados cinco anos desde o ataque ao Bataclan, a mãe de Precília Correia garante que ainda há “feridas que não cicatrizaram” e que os combates pela memória da filha são a única ajuda possível.

“O que me ajuda [no dia a dia] é o meu combate através da associação para preservar a memória da minha filha, o meu combate junto do Governo para criar um museu e o meu combate junto da autarquia de Paris para criar um jardim de memória”, concluiu.