PSP: uma primeira noite de recolher obrigatório sem detenções, sem escoltas e sem coimas
Porta-voz nacional diz que se contam “pelos dedos das mãos” as vezes em que a Polícia de Segurança Pública teve de intervir no primeiro recolher obrigatório.
A nível nacional, “conta-se pelos dedos das mãos” as vezes em que a Polícia de Segurança Pública teve de intervir no primeiro recolher obrigatório. “O reporte que tenho a nível nacional é de uma dezena de situações, quatro ou cinco em Lisboa”, disse o porta-voz, Nuno Carocha.
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A nível nacional, “conta-se pelos dedos das mãos” as vezes em que a Polícia de Segurança Pública teve de intervir no primeiro recolher obrigatório. “O reporte que tenho a nível nacional é de uma dezena de situações, quatro ou cinco em Lisboa”, disse o porta-voz, Nuno Carocha.
No primeiro recolher obrigatório da história de vida de muitos, entre as 23h00 e as 5h00, era como se os 121 concelhos visados tivessem recuado sete meses. Até ao primeiro estado de emergência decretado pelo Presidente da República para conter a pandemia de covid-19. Até Março.
A PSP “não está habituada” a fazer balanços nacionais tão depressa, ressalva Nuno Carocha, mas, ao que lhe era dado saber, os elementos destacados “não tiveram de escoltar a casa, não tiverem de deter, não tiveram de passar autos”. “Não foi necessário recorrer a figuras legais. A única coisa que fizeram foi pedir às pessoas que se recolhessem”.
O Porto revelava-se um bom exemplo do que acontecera nos 121 municípios onde é proibido sair naquelas horas à semana e entre as 13h e as 5h ao fim-de-semana – excepto para desempenhar funções profissionais, receber cuidados de saúde, prestar assistência a pessoas vulneráveis, cumprir a partilha de responsabilidades parentais, deslocar-se à farmácia ou ao supermercado, andar a pé ou passear animais de companhia.
O fluxo esvaía-se à medida que a hora do recolher obrigatório se aproximava. Algumas pessoas na paragem de autocarro, algumas pessoas a correr para o metro. Um homem a comer, sem pressa, num banco de madeira de uma avenida de granito, a Avenida dos Aliados, a principal do Porto. Um outro a uns metros, de olhos posto no relógio da câmara municipal. A poucos minutos das 23h, desapareceram. Recolher obrigatório.
Os carros continuavam, menos, menos. O som dos motores a tornar-se mais audível, como uma transgressão impossível de esconder. Os passos largos dos últimos transeuntes. Dez minutos depois da hora já passava um carro patrulha. Sirene. Um aviso ligeiro. Seria preciso dizer: “Está na hora.” Só alguns teriam motivos aceitáveis para continuar naquele cenário. Só esses deviam continuar a circular.
A acção de fiscalização da PSP incidiu na Baixa, em torno da Estação de São Bento e a Praça de Liberdade. E aí, como haveria de resumir já de manhã o responsável pelas relações públicas no Comando Metropolitano do Porto, António Veiga, “toda a acção decorreu dentro da normalidade”.
Entre as 23h00 e as 5h00, em toda a área daquele comando – Porto, Matosinhos, Vila Nova de Gaia, Gondomar, Vila do Conde, Póvoa de Varzim –, houve um total de sete acções de fiscalização. As diversas equipas não registaram qualquer incidente. Sempre que se revelou necessário, os elementos destacados para o terreno “adoptaram uma postura pedagógica”. “As pessoas estavam a cumprir.”
Àquela hora, saindo da Baixa em direcção à Foz do Douro, apenas um ou outro carro, o som estridente da recolha do lixo, os sem tecto nos seus pedaços de chão, um homem a passear um cão. O Porto recolhido