PSD e Chega: diz-me com quem andas…
Entre a intransigência que Rui Rio manifesta em relação a tantos valores essenciais e a sua anuência a um negócio espúrio que lhe garante o poder nas ilhas há uma distância difícil de entender.
O líder do PSD tem-se dedicado a um esforço ansioso e empenhado para explicar o inexplicável: o acordo nos Açores que, já aqui o escrevemos, normaliza o Chega e transforma um partido que odeia o sistema partidário e parlamentar num partido do sistema partidário e parlamentar. A pele de cordeiro de que o Chega tanto carecia surgiu sem custo. O passo que faltava para subir aos degraus do poder foi dado. Rui Rio abriu as portas a um tempo novo na política portuguesa, que até agora se tinha destacado na Europa pela sua blindagem à direita radical, e com essa iniciativa atravessou o Rubicão. Nada será como antes. A direita democrática e civilizada expôs-se ao vírus do populismo e da demagogia e arrisca-se ainda mais à convulsão; e o PSD despe a sua pele social-democrata e dificilmente deixará de ser visto como a força política que branqueou a mensagem xenófoba, iliberal e atentatória de direitos humanos básicos do partido de André Ventura.
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O líder do PSD tem-se dedicado a um esforço ansioso e empenhado para explicar o inexplicável: o acordo nos Açores que, já aqui o escrevemos, normaliza o Chega e transforma um partido que odeia o sistema partidário e parlamentar num partido do sistema partidário e parlamentar. A pele de cordeiro de que o Chega tanto carecia surgiu sem custo. O passo que faltava para subir aos degraus do poder foi dado. Rui Rio abriu as portas a um tempo novo na política portuguesa, que até agora se tinha destacado na Europa pela sua blindagem à direita radical, e com essa iniciativa atravessou o Rubicão. Nada será como antes. A direita democrática e civilizada expôs-se ao vírus do populismo e da demagogia e arrisca-se ainda mais à convulsão; e o PSD despe a sua pele social-democrata e dificilmente deixará de ser visto como a força política que branqueou a mensagem xenófoba, iliberal e atentatória de direitos humanos básicos do partido de André Ventura.
Chegámos assim ao ponto em que a contestação ao apoio parlamentar do Chega nos Açores deixou de ser património da esquerda, moderada ou radical. A direita decente, seja a da facção liberal ou a conservadora, veio a público expressar a sua censura. O PSD começa a entrar em convulsão. Na política, há acordos que valem muito para lá do que fica escrito. É irrelevante que o Chega não integre a coligação do poder em Ponta Delgada. Conta pouco que os termos do acordo não sejam “fascistas”, como diz Rui Rio. Pouco importa que seja um negócio remoto, feito num arquipélago longe da capital. Entre a intransigência que Rui Rio manifesta em relação a tantos valores essenciais e a sua anuência a um negócio espúrio que lhe garante o poder nas ilhas há uma distância difícil de entender.
De pouco valem os argumentos dos que acreditam que a normalização do Chega é a melhor forma de afastar Ventura e os seus acólitos do extremismo – algo semelhante à experiência que levou o Bloco e o PCP a tragar as regras europeias sobre o défice ou a existência dos privados na saúde. Da mesma forma, só a ilusão permite acreditar que, com o Chega no regaço, o PSD reúna mais condições para federar um bloco de direita com aspirações maioritárias – a proximidade de Ventura poderá afastar muita gente do voto no PSD. O que sobra neste negócio que vira a página da democracia portuguesa é por isso a transfiguração perigosa para o país e para a democracia do partido de Sá Carneiro, Marcelo Rebelo de Sousa ou de Mota Pinto. Como diz o velho e sábio aforismo: “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és.”