Presidente do Peru Martín Vizcarra destituído por suspeitas de corrupção
A teia de corrupção da Odebrecht que já tinha derrubado os últimos quatro chefes de Estado do Peru fez cair mais um, Viscarra, por “incapacidade moral permanente”. Manuel Merino assumiu a presidência.
O Congresso do Peru destituiu o Presidente Martín Vizcarra, dois anos e oito meses depois de ter chegado ao cargo. A moção de censura por “incapacidade moral permanente”, agora aprovada, baseava-se em suspeitas de que recebeu subornos em troca de contratos de obras públicas entre 2013 e 2014, quando era governador de Moquegua, no Sul do país.
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O Congresso do Peru destituiu o Presidente Martín Vizcarra, dois anos e oito meses depois de ter chegado ao cargo. A moção de censura por “incapacidade moral permanente”, agora aprovada, baseava-se em suspeitas de que recebeu subornos em troca de contratos de obras públicas entre 2013 e 2014, quando era governador de Moquegua, no Sul do país.
“Saio de consciência tranquila, a cabeça erguida e o dever cumprido. Até outra oportunidade”, afirmou Vizcarra no Twitter.
Algumas horas depois da votação, o chefe de Estado falou ao país acompanhado de alguns dos seus ministros. Voltou a negar as acusações mas afirmou que não tentará combater o processo de destituição na justiça. “A história e o povo peruano julgarão as decisões que cada um toma. No hemiciclo impôs-se não a razão, mas o número de votos: os representantes do povo parecem ter-se esquecido de quem representam”, disse.
Um mês e meio depois de ter escapado a uma primeira moção de destituição, acusado de pedir a testemunhas para mentirem num caso de suspeitas de corrupção e uso indevido de dinheiros públicos, Vizcarra sucumbiu à segunda. Os dois processos de impeachment foram apresentados pelo partido União para o Peru (UPP movimento ultranacionalista indígena).
A moção precisava de ser aprovada por uma maioria de dois terços (87) dos 130 congressistas – reuniu 105 votos; contra votaram 19 membros do Congresso, enquanto quatro se abstiveram. Com os eleitos da UPP votaram, entre outros, a Frente Popular Agrícola do Peru e alguns parlamentares da coligação de esquerda Frente Ampla.
Entre os líderes de grupos políticos que desde Setembro tentavam derrubar Vizcarra há vários que estão a ser investigados por lavagem de dinheiro e corrupção.
Já esta terça-feira, a presidência será assumida pelo chefe do Parlamento, Manuel Merino, da Acção Popular. Merino, lembra o jornal El País, teve um papel fundamental na primeira moção para destituir Vizcarra, no início do mês, ao permitir a um congressista que divulgasse no plenário gravações de conversas do Presidente com membros da sua equipa onde se discutia a contratação de um cantor, seu amigo, como consultor do Ministério da Cultura.
Merino chegou à presidência do Congresso em Março, depois das eleições de Janeiro, que se seguiram à decisão de Vizcarra de dissolver o Parlamento, em Setembro do ano passado. O Presidente acusava a então maioria fujimorista de estar a travar as suas reformas anti-corrupção e de querer assumir o controlo do Tribunal Constitucional para se proteger de futuros processos.
A imprensa peruana dizia que a primeira decisão de Merino, que toma posse nesta terça-feira, será se convoca eleições imediatamente, como diz a Constituição, ou se espera por 11 de Abril, a data que Viscarra marcara para as presidenciais.
Vizcarra é o quinto Presidente afastado por corrupção. Os últimos quatro caíram no escândalo de corrupção e financiamento ilegal de campanhas eleitorais que envolve a construtora brasileira Odebrecht, que também envolve Viscarra.
Aliás, tinha sido assim que Vizcarra chegou ao cargo, em Março de 2018, quando era vice de Pedro Pablo Kuczynski e este se demitiu para evitar um impeachment por alegada compra de votos, em Março de 2018. PPK, como era conhecido, está entretanto em prisão domiciliária.