Moçambique: Jihadistas “degolaram mais de 50 pessoas” em Cabo Delgado, diz polícia

Há relatos, segundo a políci, que dão conta de “centenas de decapitações”. Atacantes levaram pessoas de várias aldeias para um campo de futebol onde as mataram e desmembraram.

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Crianças da família de 30 pessoas de Vicento Tiago, obrigada a fugir de Muidumbe nos ataques de Junho RICARDO FRANCO/Lusa

Os grupos armados que há três anos espalham o terror no Norte de Moçambique atacaram várias aldeias, degolando e desmembrando “mais de 50 pessoas”, incluindo vários rapazes, disse a polícia do país. Os ataques começaram a 31 de Outubro e aconteceram ao longo de vários dias, primeiro em 11 aldeias do distrito de Muidumbe, depois em povoações da região de Macomia, ambas na província de Cabo Delgado.

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Os grupos armados que há três anos espalham o terror no Norte de Moçambique atacaram várias aldeias, degolando e desmembrando “mais de 50 pessoas”, incluindo vários rapazes, disse a polícia do país. Os ataques começaram a 31 de Outubro e aconteceram ao longo de vários dias, primeiro em 11 aldeias do distrito de Muidumbe, depois em povoações da região de Macomia, ambas na província de Cabo Delgado.

“Eles queimaram as casas e depois foram atrás da população que tinha fugido para a mata e começaram com as suas acções macabras”, disse Bernardino Rafael, comandante-geral da Polícia Nacional moçambicana, numa conferência de imprensa na segunda-feira. Segundo Rafael, os jihadistas raptaram várias mulheres e crianças nas aldeias que arrasaram.

Com os ataques cometidos por vários grupos de islamistas e a visarem por vezes aldeias isoladas, é difícil ter um retrato completo do que aconteceu. Há jornais moçambicanos que citam testemunhas de uma ou duas aldeias, outros recolhem informações a partir de diferentes locais. Mas a acreditar em algumas descrições, o balanço final desta vaga de violência pode ser muito pior.

Segundo a polícia, muitas das pessoas capturadas foram levadas das suas aldeias para a aldeia de Muatilde. Ali chegadas, foram obrigadas a ir para o Campo de Futebol Madjedje, onde foram degoladas. Segundo o portal de notícias Pinnacle News, este foi o local escolhido pelos insurrectos para “receberem e decapitarem centenas de pessoas capturadas nas matas adentro”.

A polícia confirma estas informações, mas continua a falar em “mais de 50 pessoas”. Fontes locais dizem porém que não é possível confirmar este número - ou quantas pessoas já forma mortas - ou ao longo de quanto tempo ocorreram estas mortes .

O Pinnancle News explica que antes de ter conhecimento do terror organizado em Muatilde já “contara cerca de 40 decapitações” noutras aldeias, incluindo de muitas “crianças com menos de 15 anos”. “Contudo, já se somam centenas de perdas humanas grande parte das quais de cidadãos civis e indefesos de etnia maconde”, escreve.

Os corpos desmembrados de pelo menos cinco adultos e 15 rapazes foram encontrados na segunda-feira espalhados numa clareira de uma floresta no distrito de Muidumbe.

Há relatos de vários ataques com mortes fora de Muatilde. Segundo a Agência de Notícias de Moçambique, duas pessoas foram decapitadas e várias mulheres raptadas num ataque à aldeia de Nanjaba, na sexta-feira à noite. Testemunhas disseram à agência que os atacantes chegaram a cantar “Allahu Akbar” (Deus é grande) enquanto disparavam e queimavam casas.

Ainda antes de Nanjaba ser atacada e de Muatilde ser transformada em campo de morte, um grupo de jihadistas decapitou 12 pessoas numa série de ataques a onze aldeias no distrito de Muidumbe, contaram vários sobreviventes à Voz da América. “Muitas pessoas estão a fugir de novo. Tínhamos ficado muitos meses sem ser atacados pelo al-shaabab [como são conhecidos os jihadistas], mas agora vieram mais”, disse um morador.

A vila de Muidumbe, capital do distrito com o mesmo nome, tinha sido atacada no início de Abril. Na altura, os insurrectos chegaram a tomar a sede do distrito e mantiveram-na sob controlo durante várias semanas. Muidumbe fica a sul de Mocímboa da Praia – a vila e o porto alvo de vários ataques desde Março e que desde Agosto está nas mãos dos jihadistas.

Segundo um balanço divulgado pelo comandante-geral da polícia, os jihadistas mataram 270 pessoas nos distritos de Cabo Delgado afectados pelo terrorismo ao longo dos últimos três meses.

Em Outubro, duas operações das forças governamentais contra dois acampamentos usados pelos combatentes islamistas no distrito de Quissanga provocaram mais uma vaga de deslocados. Segundo as Nações Unidas, em apenas duas semanas 11.200 pessoas fugiram para a capital da província, Pemba.

De acordo com um relatório divulgado pela Amnistia Internacional em Outubro, a violência em Cabo Delgado já fez mais de 300 mil deslocados internos e há 712 mil moçambicanos a precisarem de ajuda humanitária.