Merkel: “Este não é um combate com o islão mas em defesa do modelo de sociedade” europeu
Uma semana depois do atentado de Viena, Macron recebeu o chanceler austríaco e foi o anfitrião de uma minicimeira europeia para relançar o combate ao extremismo islamista.
Formação de imãs, combate ao discurso de ódio e apologia da violência na Internet, reforço das fronteiras externas da União Europeia e da colaboração troca de informações transfronteiriças – é a partir destas linhas gerais que o combate ao terrorismo e ao extremismo islamista deve ser fortalecido, afirmaram o chefes de Estado e de Governo da França, Áustria, Alemanha e Países Baixos, assim como o presidente do Conselho Europeu e a presidente da Comissão Europeia, reunidos numa conferência virtual em Paris.
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Formação de imãs, combate ao discurso de ódio e apologia da violência na Internet, reforço das fronteiras externas da União Europeia e da colaboração troca de informações transfronteiriças – é a partir destas linhas gerais que o combate ao terrorismo e ao extremismo islamista deve ser fortalecido, afirmaram o chefes de Estado e de Governo da França, Áustria, Alemanha e Países Baixos, assim como o presidente do Conselho Europeu e a presidente da Comissão Europeia, reunidos numa conferência virtual em Paris.
Depois da “semana terrível” que a Áustria viveu desde o atentado de 2 de Novembro reivindicado pelo Daesh, e que fez quatro mortos no centro histórico de Viena, a iniciativa conjunta de Emmanuel Macron e de Sebastian Kurz começou com um pequeno-almoço dos dois dirigentes no Palácio do Eliseu, em Paris, e continuou para uma minicimeira europeia em vídeoconferência com Angela Merkel, Mark Rutte, Charles Michel e Ursula von der Leyen.
Um encontro que serviu aos dirigentes da União Europeia para darem conta da sua “determinação em defender os nossos valores fundamentais”, nas palavras de Merkel. “Este não é um combate contra o islão, não está em causa um combate entre o cristianismo e o islão mas sim defesa do nosso modelo de sociedade por parte de quem ataca as nossas liberdades”, disse a chanceler alemã.
A mesma ideia foi sublinhada pelo primeiro-ministro dos Países Baixos, que defendeu a importância de “nunca alimentar o ódio ao estigmatizar um grupo de pessoas”. Este “é um combate entre a civilização e a barbárie”, disse Rutte. O chefe de Governo avisou ainda que é preciso “continuar a explicar as posições” da UE aos países muçulmanos, mas avisou que os europeus não podem “cair nas armadilhas que alguns colocam”, numa referência ao Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que tem travado uma batalha verbal com Macron por causa do seu projecto de lei anti-separatismo.
Esse projecto foi apresentado por Macron a 2 de Outubro mas ganhou ainda mais urgência com os atentados que entretanto atingiram França: dias antes de Viena, um jovem atacou a basílica de Notre-Dame, na cidade de Nice, matando três pessoas; duas semanas antes tinha sido o assassínio de Samuel Paty, professor de liceu degolado por ter mostrado os cartoons de Maomé numa aula, a chocar França.
“O extremismo violento pesa principalmente nos países europeus. É uma realidade europeia à qual devemos responder. Precisamos por isso de uma resposta comum, coordenada e rápida”, afirmou Macron, explicando que as ideias debatidas serão trabalhadas nas próximas semanas.
Todos os dirigentes falaram na importância da formação de imãs, os líderes das orações no islão, algo que alguns países europeus já começaram a fazer nos últimos anos para tentar evitar a vinda de imãs estrangeiros. “Temos de impedir que os lugares de oração se tornem em lugares de ódio”, disse Rutte. Na véspera, durante uma visita a Viena, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, já defendera a criação de um instituto europeia que assegure este treino.
A necessidade de aligeirar o combate ao discurso de ódio online foi outra ideia comum. “No século XXI vemos como os jovens são usados e abusados online, não apenas nas ruas. Temos de combater esta ideologia que está na raiz do terrorismo”, disse Kurz.
Uma nova directiva europeia que envolva as plataformas de Internet e as responsabilize pela rápida retirada de conteúdos assim que forem sinalizados está a ser preparada e será apresentada ainda este ano, concretizou a presidente da Comissão Europeia.
“O terrorismo e o extremismo não conhecem fronteiras”, disse Rutte. Referindo-se à revisão do Tratado de Schengen, que deve estar prevista para 2023, Merkel sublinhou a necessidade de “saber quem chega e quem sai da UE”.
Integração e inclusão
Von der Leyen explicou que para além do reforço dos poderes da Europol e do reforço da cooperação policial transfronteiriça será apresentado um novo programa para colmatar as falhas actuais no Sistema de Informação Schengen (que permite às autoridades dos diferentes países aceder a dados sobre pessoas ou viaturas que circulem no espaço europeu).
Esta responsável anunciou que ainda este ano a Comissão Europeia vai apresentar um novo programa de combate ao terrorismo na Europa e que já está a trabalhar num programa para a integração e a inclusão. “A melhor maneira de combater o terrorismo é integrar estes jovens”, disse.
Algumas das medidas discutidas no encontro do Eliseu, e que já têm sido enunciadas por diferentes dirigentes, serão aprofundadas no Conselho de Assuntos Internos (que junta os ministros do Interior) marcado para sexta-feira. Mas como disse Von der Leyen, a comissão vai continuar a trabalhar ao longo deste mês e o acordo dos 27 para o reforço da estratégia de combate ao islamismo não acontecerá antes do Conselho Europeu de 10 e 11 de Dezembro.