Polícia de Roma apanha “Geco”, que pintou paredes em Lisboa e em meia Europa
Polícia italiana terminou busca de um ano de homem que deixou marca em várias cidades. É acusado de vandalizar património e seguem-se pedidos de indemnização, mas em Roma também há quem o veja como “uma lenda”.
A Polícia Local de Roma identificou um homem que é suspeito de ser o responsável por espalhar a palavra “Geco” por centenas de paredes da capital italiana, mas também de Lisboa, Milão, Atenas, Amesterdão e Génova, entre outras cidades europeias.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A Polícia Local de Roma identificou um homem que é suspeito de ser o responsável por espalhar a palavra “Geco” por centenas de paredes da capital italiana, mas também de Lisboa, Milão, Atenas, Amesterdão e Génova, entre outras cidades europeias.
“Geco”, que numa entrevista em 2018 ao jornal lisboeta O Corvo se assumiu como um “bomber” cujo objectivo era somente tornar conhecido o seu nome, espalhava pinturas e autocolantes em paredes, viadutos e sinais de trânsito, sendo ainda hoje bem visíveis as marcas da sua passagem por Lisboa, onde residiu durante algum tempo.
De acordo com a polícia romana, trata-se de um homem de 30 anos residente em Prenestino, cujo apartamento foi alvo de buscas nos últimos dias. “Durante a investigação, mais de 1000 autocolantes, dezenas de latas de spray, ferramentas como cordas de escalada ou extintores de incêndio modificados para difusores de tinta, bem como computadores e equipamentos electrónicos foram encontrados e apreendidos”, refere a Polícia Local de Roma numa nota enviada ao PÚBLICO.
As buscas foram feitas pelo Núcleo de Ambiente Urbano daquela força policial, que andava no encalço de “Geco” há um ano, depois de a procuradoria de Roma ter aberto um inquérito judicial. “O homem foi encaminhado às autoridades judiciárias por danos e criminalidade continuada, seguindo-se os pedidos de indemnização pelos danos sofridos pelas partes interessadas”, refere ainda a nota da polícia. O suspeito ficou em liberdade.
Como o PÚBLICO noticiou em Abril, as autoridades italianas pediram ajuda à associação de moradores Vizinhos em Lisboa para tentar identificar “Geco”, cuja passagem por Portugal ainda é visível em muitos locais da capital. Esta associação tinha apresentado uma queixa ao Ministério Público português por danos contra o património, mas o processo acabou por ser arquivado por não se ter conseguido identificar o autor das pichagens e colagens.
Segundo o jornal La Repubblica, que noticiou a identidade de “Geco” na segunda-feira, o suspeito chama-se Lorenzo Perris – uma informação que não é referida na nota da polícia, mas que é corroborada por um grupo de cidadania local, Roma Fa Schifo, que na sua página de Facebook alega ter descoberto a real identidade de Geco há vários anos e acusa as autoridades de nada terem feito entretanto.
Também no Facebook, a presidente da Câmara Municipal de Roma congratulou-se com a acção da sua polícia e divulgou uma fotografia de algum material apreendido na casa de Geco. “Ele manchou centenas de paredes e edifícios em Roma e noutras cidades europeias, que eram limpos com o dinheiro dos cidadãos. Uma situação que não é tolerável”, escreveu Virginia Raggi.
O La Repubblica diz ainda que, apesar de ter irritado associações de moradores em Roma e noutras partes da Europa, “Geco” é considerado “uma lenda” dentro do meio grafiteiro romano. Nas redes sociais reavivou-se o debate sobre qual é a fronteira que separa a arte urbana do vandalismo. Na entrevista a O Corvo, “Geco” dizia: “'Paredes brancas, povo mudo’. Quando vejo uma cidade cheia de graffiti fico com o sentimento que há muita gente que discorda, que não está contente, que não age como lhes é pedido para agir ou como toda a gente faz.”
A Retake Roma, uma associação de voluntários pela limpeza e melhoria do espaço público que ajudou as autoridades na busca por “Geco”, chama-lhe vândalo. “A vandalização dos espaços urbanos, dos mercados, dos locais arqueológicas, das escolas, dos transportes públicos representa, além de crime, algo muito grave do ponto de vista cultural: a apropriação violenta do espaço público, ou do que pertence a todos os cidadãos”, disse, em comunicado. “Continuaremos a fazer ouvir a nossa voz para apoiar quem deseja expressar a sua arte num contexto de enriquecimento da comunidade em que está inserido e das leis que regem a nossa sociedade, mas também para apresentar a nossa oposição total a quem continua vandalizar as nossas cidades”, acrescenta.