Morreram 1047 idosos em lares com covid-19. O que é preciso para acabar com os “depósitos de velhos”?
Importar o conceito das nursing homes. Apostar na disseminação do cohousing, onde os idosos vivem em vez de se limitarem a esperar pela morte. Financiar de acordo com a qualidade do serviço prestado. Dar benefícios fiscais às famílias que cuidam dos ascendentes em casa. Não faltam sugestões para modificar a dramática realidade dos lares de idosos em Portugal que a pandemia pôs a nu.
Maria Júlia, uma antiga vendedora de pronto-a-vestir por catálogo, sempre foi dona do seu nariz. Durante anos, pagou religiosamente as quotas para ter direito a ingressar n’O Lar do Comércio, em Matosinhos, por lhe parecer que aquela instituição particular de solidariedade social — porque lhe permitia entrar e sair quando lhe apetecesse, fosse para ir ao cabeleireiro ou para jantar fora — seria o ideal para passar os seus últimos anos de vida sem se tornar um fardo para os filhos. Quando, em meados de Março, o novo coronavírus entrou como um tornado pela instituição adentro, Maria Júlia já contava 93 anos, dos quais os últimos 15 passados no lar.