Covid-19: menos portugueses querem ser vacinados. Um terço hesita ou recusa
A confiança na segurança da vacina decresceu entre Junho e Setembro, indica pesquisa realizada em sete países europeus. Também diminuiu a confiança na informação veiculada pelo Governo e nas notícias sobre a pandemia.
Em três meses, a percentagem de portugueses que não querem ser vacinados contra o novo coronavírus ou que estão indecisos em relação à imunização, assim que uma vacina estiver no mercado, aumentou de forma significativa numa pesquisa que incluiu sete países europeus. Apesar de Portugal continuar a figurar entre os países onde a disponibilidade para a vacinação contra o vírus pandémico é maior, esta intenção diminuiu de Junho para Setembro de forma acentuada, com mais de um terço do total dos inquiridos a admitir que está hesitante ou que não quer ser imunizado.
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Em três meses, a percentagem de portugueses que não querem ser vacinados contra o novo coronavírus ou que estão indecisos em relação à imunização, assim que uma vacina estiver no mercado, aumentou de forma significativa numa pesquisa que incluiu sete países europeus. Apesar de Portugal continuar a figurar entre os países onde a disponibilidade para a vacinação contra o vírus pandémico é maior, esta intenção diminuiu de Junho para Setembro de forma acentuada, com mais de um terço do total dos inquiridos a admitir que está hesitante ou que não quer ser imunizado.
O decréscimo na disponibilidade para a vacinação contra o novo coronavírus observou-se nos sete países estudados, ainda que de forma menos expressiva em vários, como a Dinamarca e o Reino Unido, que em Setembro lideravam a tabela com percentagens mais elevadas da população a mostrar-se disposta a proteger-se contra a infecção, mal isso seja possível. Os franceses estavam do lado oposto, com apenas 48% a responder que sim. Mas em Portugal a quebra foi significativa: em Setembro, um terço dos inquiridos estavam hesitantes (25%) ou não queriam mesmo ser imunizados (12%), quando em Junho estas percentagens eram de 18% e 7%, respectivamente.
Os resultados desta que é já a terceira vaga de uma pesquisa iniciada em Abril — e que junta investigadores da Nova School of Business & Economics (Nova SBE) a equipas da Universidade de Hamburgo (Alemanha), da Rotterdam Erasmus University (Países Baixos) e da Bocconi University (Itália) — indicam igualmente que a confiança na segurança de uma futura vacina também decaiu de forma significativa ao longo das três fases do estudo e, de novo, mais em Portugal, onde em Setembro 54% dos entrevistados se declaravam completamente confiantes contra 70% em Junho.
A percepção de confiança na vacina diminui desde Junho em todas as categorias de idade, regiões (à excepção dos Açores), géneros e níveis de educação, mas são os homens que confiam mais na segurança da imunização e os indivíduos com alto nível de escolaridade.
As respostas foram obtidas através de um questionário online que abrangeu, em cada uma das três fases, mais de sete mil participantes de sete países (além de Portugal, Alemanha, Dinamarca, França, Países Baixos, Reino Unido e Itália). A amostra é representativa a nível nacional para cada um dos países na componente demográfica (para isso estratificada para idade e sexo), segundo os autores.
"Fadiga pandémica"
A diminuição da disponibilidade para a vacinação e da confiança na segurança de uma futura imunização terá sido determinada sobretudo “pela incerteza geral sobre o processo de geração da vacina e por ocorrer mais exposição a informação errada sobre este tema”, pondera Pedro Pita Barros, co-autor do estudo e professor na Nova SBE, que nota que há dois tipos de “receios”, o da possibilidade de “contrair covid-19 via vacina” e o medo de “outros efeitos secundários”. Mas Pita Barros está optimista, acredita que, “com informação e disponibilidade da vacina”, será possível levar os indecisos a imunizarem-se, “na tradição portuguesa de elevada taxa de vacinação”.
“É muito curioso. São números muito baixos para Portugal”, comenta David Marçal, bioquímico e divulgador de ciência, que especula que esta quebra de confiança terá acontecido “talvez porque na covid-19 há uma mediatização superior e os movimentos anti-vacinação conseguem chegar a mais pessoas”. No Reino Unido, onde há um forte movimento anti-vacinação, terá prevalecido o elevado impacto da covid-19 enquanto emergência sanitária, porque este tem sido um dos países mais fustigados pela pandemia, acrescenta.
Sem surpresa, a predisposição para a vacinação aumenta em função da adesão às diversas medidas de protecção decretadas e vice-versa. Quem está menos predisposto a vacinar-se também adere menos ao uso de máscara, ao distanciamento físico adequado, ao evitar de abraços, beijos e apertos de mão, entre outras medidas. Esta tendência aumenta igualmente em função da confiança no Governo e nas autoridades de saúde.
De resto, também se observou uma ligeira diminuição na confiança da informação veiculada pelo Governo e nas notícias sobre a pandemia. Será o resultado da chamada “fadiga pandémica"? Pedro Pita Barros acredita que sim, “no sentido de as pessoas darem menos atenção, pelo cansaço, por um lado”, mas também por aquilo que designa como “cansaço de estilo”, porque “a forma de comunicação da pandemia deixou de ser adequada”, no seu entender, com “as conferências diárias, durante algum tempo, e agora apenas algumas vezes, com informação muito detalhada e apresentação de números”.
Em sentido contrário, as preocupações com a saúde, com a possibilidade de perda de um familiar ou amigo e com o facto de o Serviço Nacional de Saúde ficar sobrecarregado que já eram muito evidentes nas vagas anteriores desta pesquisa, mas aumentaram ainda nove pontos percentuais. Portugal continua, aliás, a ser o país onde é maior a preocupação com o impacto da pandemia na saúde. Um impacto que também se faz sentir, e muito, nos cuidados que foram cancelados ou adiados durante este período: mais de metade dos inquiridos disse que as suas consultas (médico assistente e dentista) foram atrasadas ou adiadas devido à pandemia.