Com a derrota cada vez mais próxima, Partido Republicano começa a dividir-se
Republicanos entre o silêncio, a precaução e a defesa acérrima do Presidente Donald Trump, cada vez mais longe da Casa Branca. Divisão começa a revelar-se num partido que já fala em possíveis candidatos para 2024.
À medida que a contagem dos votos na Pensilvânia, Geórgia, Nevada e Arizona se aproxima de um desfecho, deixando Donald Trump cada vez mais longe de um segundo mandato na Casa Branca, o Partido Republicano começa a entrar em ebulição, com várias figuras de topo do partido a continuarem ao lado do Presidente, mas muitas a começarem a demarcar-se e a preparar terreno para 2024.
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À medida que a contagem dos votos na Pensilvânia, Geórgia, Nevada e Arizona se aproxima de um desfecho, deixando Donald Trump cada vez mais longe de um segundo mandato na Casa Branca, o Partido Republicano começa a entrar em ebulição, com várias figuras de topo do partido a continuarem ao lado do Presidente, mas muitas a começarem a demarcar-se e a preparar terreno para 2024.
“Onde está o Partido Republicano?”, questionou no Twitter Eric Trump, um dos filhos do Presidente, logo após o discurso na noite de quinta-feira em que Donald Trump voltou a insistir na ideia de que a eleição está a ser roubada, apesar de não ter apresentado quaisquer provas.
O silêncio de senadores e congressistas do Partido Republicano, e de outras figuras proeminentes do partido, gerou enorme frustração junto da família Trump, em particular nos filhos do Presidente. “É incrível a total falta de acção por parte de todos os que têm aspirações a serem candidatos do Partido Republicano em 2024”, disse Donald Trump Jr. “Um partido republicano sem espinha dorsal desaparece, e quem não lutar deve desaparecer com ele”, acrescentou.
Nas horas seguintes, foram surgindo declarações de republicanos, algumas que agradaram à família do Presidente, como as dos senadores Ted Cruz e Lindsey Graham, que se colocaram ao lado de Trump na defesa da ideia que as as eleições estão a ser “roubadas” pelo Partido Democrata; e outras que geraram ainda mais preocupação no círculo próximo de Donald Trump, com vários senadores a distanciarem-se de um discurso cuja emissão em directo foi cortada por estações televisivas como a ABC, NBC ou CBS.
“Mostre-nos as provas. Não ouvimos nada sobre provas”, disse à ABC News Chris Christie, antigo governador da Nova Jérsia e um aliado próximo do Presidente.
Num tom ainda mais aguerrido, o congressista republicano Adam Kinzinger, reeleito para a Câmara dos Representantes pelo estado do Illinois, exigiu a Donald Trump que parasse de espalhar desinformação e que apresentasse provas da suposta fraude.
“Queremos que todos os votos sejam contados, sim, que todos os votos legais sejam contados. Mas, se tem preocupações legítimas sobre fraude, apresente provas e leve-as a tribunal”, escreveu Kinzinger no Twitter. “Pare de espalhar desinformação. Isto está a ficar uma loucura”, exigiu.
O senador do Utah Mitt Romney, crítico da Administração Trump nos últimos quatro anos, disse que “falar em eleição roubada prejudica a causa da liberdade aqui [nos EUA] e no resto do mundo”, reforçando que o Presidente “está no seu direito” de avançar para os tribunais para contestar os resultados.
Esta sexta-feira, praticamente ao mesmo tempo que Joe Biden passava para a frente na contagem de votos na Pensilvânia, Pat Toomey, senador republicano naquele estado, afirmava à NBC que “foi muito difícil assistir” ao discurso de Trump na noite de quinta-feira e negou que existam irregularidades na contagem dos votos.
“As alegações do Presidente sobre uma fraude em larga escala e roubo das eleições simplesmente não têm fundamento. Não tenho conhecimento de nenhuma irregularidade significativa aqui”, acrescentou Toomey.
O senador do Missouri Roy Blunt, um dos líderes do partido no Senado, distanciou-se do Presidente e disse que não é possível “parar a contagem em alguns estados e manter noutros”, como pretende Trump, e defendeu uma transição pacífica de poder.
“Ganhando ou perdendo, os dois candidatos já deveriam estar a pensar na transição há algum tempo. E teremos uma transição. Acho que isso estará resolvido nos próximos dez dias ou um pouco mais”, disse Blunt, citado pela CNN. No mesmo sentido, Larry Kudlow, director do conselho económico da Casa Branca, afirmou à CNBC que acredita que “haverá uma transição pacífica de poder”.
Olhos em 2024?
Já o líder da maioria republicana na câmara alta do Congresso, Mitch McConnell, quebrou o silêncio no Twitter e disse que “todos os votos legais devem ser contados” e que, em último caso, a decisão cabe aos tribunais, uma declaração em que tentou não se comprometer demasiado, um pouco à semelhança do que tem feito o vice-presidente, Mike Pence, que após o já referido discurso de Trump defendeu igualmente que “todos os votos legais devem ser contados”.
Com um pouco mais de distanciamento, o senador da Florida Marco Rubio, ex-candidato à Casa Branca e apoiante de Donald Trump nos últimos anos, sublinhou que “demorar vários dias a contar votos depositados legalmente não é fraude” e que “se um candidato acredita que um estado está a violar as leis eleitorais tem o direito de contestar junto dos tribunais e apresentar provas”.
Dias antes das eleições, Marco Rubio deu uma entrevista à CNN em que admitiu voltar a concorrer à presidência, remetendo essa decisão para a “altura apropriada”.
Além do senador da Florida, nomes como Mike Pence, Mike Pompeo, Donald Trump Jr. ou Nikki Haley têm sido apontados como candidatos naturais a concorrer à presidência em 2024.
A ex-embaixadora dos Estados na ONU, de resto, viu-se envolvida numa polémica no Twitter na sequência das declarações de Donald Trump Jr., tendo feito uma publicação a afirmar que Donald Trump e o povo americano “merecem transparência e justiça enquanto os votos são contados”.
“A lei deve ser seguida. Temos de manter a fé de que a verdade prevalecerá”, acrescentou Haley, que rapidamente foi criticada por apoiantes de Donald Trump, como o congressista da Florida Matt Gaetz, por não estar mais empenhada na defesa do Presidente, sintoma da tensão que existe no partido perante a incerteza do que se seguirá a uma derrota cada vez mais provável.