Quem é Paula White, a inspiração espiritual de Trump que “fala línguas do outro mundo”?

De uma infância sem recursos ao estatuto de uma das mulheres mais influentes junto de Donald Trump, a tele-evangelista invadiu as redes com as suas orações pela vitória republicana.

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Desde o arranque da Administração Trump, Paula White é conselheira especial para os assuntos espirituais REUTERS/Carlos Barria

Pastora, autora, tele-evangelista e crente na teologia da prosperidade, que defende que a riqueza material é um sinal da graça de Deus. Este é o resumo de quem é Paula White, cujo discurso desta semana se tornou viral, ao invocar os anjos de outros continentes e ao “falar línguas do outro mundo” – tudo para assegurar a vitória de Donald Trump, e a continuidade da presença do divino na Casa Branca (o que parece estar cada vez mais distante). É que Paula White garante que, em qualquer sítio que esteja, Deus também está: seja no edifício de Washington D.C. ou numa vulgar lavandaria.

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Pastora, autora, tele-evangelista e crente na teologia da prosperidade, que defende que a riqueza material é um sinal da graça de Deus. Este é o resumo de quem é Paula White, cujo discurso desta semana se tornou viral, ao invocar os anjos de outros continentes e ao “falar línguas do outro mundo” – tudo para assegurar a vitória de Donald Trump, e a continuidade da presença do divino na Casa Branca (o que parece estar cada vez mais distante). É que Paula White garante que, em qualquer sítio que esteja, Deus também está: seja no edifício de Washington D.C. ou numa vulgar lavandaria.

No vídeo, que correu mundo e que é um excerto do serviço religioso com transmissão no Facebook, vê-se Paula White a gesticular freneticamente e a gritar “ouço vitória, vitória, vitória, vitória nos aposentos do céu”. “Ouço um som de vitória, o Senhor diz que está feito, pois os anjos até já foram enviados de África (...) Em nome de Jesus da América do Sul, estão a vir para cá”. Depois, a dada altura, começa a gritar palavras que não fazem parte de nenhuma língua conhecida, como se se encontrasse numa espécie de transe.

A forma da mensagem deixou muita gente boquiaberta, mas o conteúdo não passou ao lado de críticos de Trump, muitos recorrendo ao humor. “Deus está a enviar anjos de um lugar que Trump chamou de uma m*rda para o ajudar a ser reeleito?”, perguntou o bispo Talbert Swan, no Twitter – “Não se pode inventar este tipo de tolice.” Já sobre o “ouço um som de vitória...”, o religioso aconselha “um aparelho auditivo”.

“[Paula White] terá sorte se Stephen Miller não enviar esses anjos para os Centros de Detenção do ICE”, escreveu Ana Navarro-Cárdenas, que faz comentários políticos para a CNN, Telemundo e The View. “Não me canso desta senhora Paula White a chamar anjos de África e da América do Sul para virem ajudar o Trump a ganhar as eleições.”

Porém nada parece abalar a auto-estima da mulher nascida, em 1966, em Tupelo, no estado do Mississípi, (cidade conhecida por ter sido o berço de Elvis Presley) e cuja infância teve mais espinhos que rosas e acabou por se desenrolar longe do imaginário da loja de brinquedos que a família geria. É que, depois de a mãe de Paula ter saído de casa, levando-a consigo para Memphis, a loja ruiu, o pai suicidou-se e a pobreza passou a ser a realidade da menina, então com cinco anos, regularmente deixada ao cuidado de estranhos.

Paula White recordou, por várias vezes e em público, ter sofrido abusos sexuais entre os seis e os 13 anos – talvez por isso a sua defesa de Trump, quando este foi acusado de ter cometido abusos sexuais (escândalos varridos para debaixo do tapete com o pagamento de avultadas somas a quem o acusava), tenha sido tão preciosa.

Casou-se três vezes: com o primeiro marido terá redescoberto o cristianismo e com o segundo fundou a Without Walls International Church, com a qual amealhou riqueza. O que não é um problema, segundo a própria: quanto mais se tem mais perto se está de Deus. “Há um Departamento do Tesouro no céu” – palavras suas, enquanto exorta os seus seguidores a fazerem donativos generosos se querem ser bem-sucedidos e não sofrerem castigos divinos.

A dada altura, Paula White diz que Deus lhe disse para chegar à fala com Trump. Mas foi o empresário que lhe telefonou. E não demoraria muito tempo para que os dois se tornassem inseparáveis, ajudando-se mutuamente no caminho da ascensão. Financeira ou espiritual? Caso para dizer “você decide”.

Após ter estreitado laços com Donald Trump, Paula White cresceu como anfitriã de programas televisivos, passou a viajar no seu jacto privado e comprou uma propriedade no valor de 3,5 milhões de dólares (2,95 milhões de euros) na Torre Trump. Ao mesmo tempo, amealhou “clientes” famosos: foi guia espiritual de Michael Jackson e orientadora de Tyra Banks. Mas as suas conquistas acabaram por despertar atenções e, em 2007, uma investigação do Senado a seis tele-evangelistas incluiu na sua mira a pastora. Nesse mesmo ano divorciou-se.

A investigação do Senado, que se prolongaria até 2011, passou-lhe ao lado, mas Paula White afastou-se da Without Walls International Church, que viria a falir em 2014 – ano em que voltou a casar, desta feita com Jonathan Cain –, e passa a presidir o centro cristão New Destiny – cargo que ocupou até 2019, quando nomeou o filho e a nora para a suceder, rebaptizando a igreja como City of Destiny.

Enquanto isso, Donald Trump foi crescendo na sua influência junto do público norte-americano, sobretudo depois da sua presença no reality show O Aprendiz, em que o magnata avaliava concorrentes com impressionantes currículos que competiam por uma vaga de executivo numa das suas empresas. E, em Maio de 2016, é anunciado oficialmente como o candidato do Partido Republicano para suceder a Barack Obama como Presidente dos Estados Unidos – sempre com Paula White ao seu lado. E foi com ela que assumiu o cargo: convidou-a para falar no dia da tomada de posse.

Desde o arranque da Administração Trump, Paula White é conselheira especial para os assuntos espirituais e, em Novembro de 2019, foi indicada pelo Presidente para dar a cara pela Iniciativa Fé e Oportunidade. Talvez estimando que, com a pastora ao seu lado, conquistaria uma boa fatia de eleitorado entre os evangelistas. Ou a graça divina.