Atenção Gap e Zara: evitem produtos feitos em regime de trabalho forçado na China — pede legislador britânico

Em causa está o algodão produzido na China, sendo que mais de 80% deste vem de Xinjiang, onde, segundo a ONU, estarão retidos em campos mais de um milhão de uigures.

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Segundo coligações internacionais, uma em cada cinco peças de roupa tem origem em trabalho forçado uigur na China Reuters/CHINA STRINGER NETWORK

Os legisladores britânicos apelaram, esta quinta-feira, para que grandes marcas de vestuário — como a Gap e a Zara — deixem de utilizar algodão recolhido por muçulmanos retidos em campos criados pelo Governo chinês para a minoria uigur, na província de Xinjiang, quando se sabe que mais de 80% do algodão chinês vem daí, representando 20% da produção do algodão a nível mundial. Em Xinjiang, existe uma população de em torno 11 milhões de uigures, sendo que mais de 1,5 milhões estarão em “campos de reeducação”. 

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Os legisladores britânicos apelaram, esta quinta-feira, para que grandes marcas de vestuário — como a Gap e a Zara — deixem de utilizar algodão recolhido por muçulmanos retidos em campos criados pelo Governo chinês para a minoria uigur, na província de Xinjiang, quando se sabe que mais de 80% do algodão chinês vem daí, representando 20% da produção do algodão a nível mundial. Em Xinjiang, existe uma população de em torno 11 milhões de uigures, sendo que mais de 1,5 milhões estarão em “campos de reeducação”. 

O pedido foi direccionado a cerca de uma dúzia de marcas da indústria da moda e veio de um comité de legisladores que exige explicações sobre o que está a ser feito por essas marcas quanto à possibilidade de utilização de trabalho escravo nas suas cadeias de produção quando utilizam recursos vindos de daquele território no Noroeste da China​.

As Nações Unidas estimam que pelo menos um milhão de uigures e outros muçulmanos (outras fontes apontam para mais de 1,5 milhões) estejam retidos em campos dessa região, enquanto um gabinete de estudos australiano afirma que dezenas de milhares de membros da minoria foram transportados pelo país para trabalhar em fábricas que produzem para marcas de moda mundiais. O Governo chinês nega qualquer tipo de maus-tratos e afirma que os campos oferecem treino vocacional e ajudam a lutar contra o terrorismo e extremismo.

Apesar das considerações oficiais chinesas, no Reino Unido subsiste a ideia de que nesses campos a escravatura é uma realidade. “É horrendo pensar que os consumidores britânicos podem estar a contribuir, sem saberem, para esses negócios, que tiram vantagem dos trabalhos forçados de uigures”, considera Nusrat Ghani, legisladora conservadora que faz parte do Comité de Negócios, Energia e Estratégia Industrial britânico, citada pela Reuters.

Enquanto a maior parte das marcas diz não manter relações com fábricas em Xinjiang, os activistas antiescravatura consideram muito provável que o algodão recolhido por uigures faça parte das cadeias de produção, uma vez que é exportado por toda a China e usado por outros fornecedores.

Em respostas escritas enviadas ao comité, grande parte das marcas — incluindo a Gap Inc e a Inditex, dona da Zara — não apresentou detalhes referentes ao algodão que utilizam, referindo que está a ser realizado um trabalho no sentido de melhorar a informação que têm sobre as suas cadeias de produção.

Para a sueca H&M, considerada a marca de moda mais transparente quanto às suas práticas, “não há solução disponível” para conseguir traçar, sem erro, a origem do algodão. Também a marca da britânica Stella McCartney, conhecida pela sua aposta em práticas sustentáveis, considera “extremamente difícil” saber a origem do material não transformado.

Mais que palavras bem-intencionadas

As organizações que fazem campanha contra a escravatura nos dias de hoje já apelaram aos governos que responsabilizem as marcas por abusos nas suas cadeias de produção, alegando que palavras bem-intencionadas ficam aquém das acções.

“Não há credibilidade nas afirmações de nenhuma das marcas que dizem não estar ligadas aos abusos dos uigures que acontecem na China se estas não abordam os riscos dessa possibilidade que existem em toda a extensão da cadeia de produção, desde a apanha do algodão até às fábricas”, considera Chloe Cranston, da Anti-Slavery International, citada pela mesma agência.

De acordo com a legislação britânica, colocada em prática em 2015 através do Modern Slavery Act, os gigantes da indústria são obrigados a demonstrar os seus esforços no que toca ao combate ao trabalho escravo numa declaração anual, mas não há consequências legais para as que não o façam.

No mês passado, John Richmond, embaixador norte-americano para o antitráfico, afirmou que é cada vez mais difícil as marcas excluírem a possibilidade de existir trabalho forçado algures nas suas cadeias, numa altura em que os EUA avançam no bloqueio na importação de bens produzidos em Xinjiang.

Um grupo de activistas e advogados pediu, em Abril, ao Governo britânico a suspensão na importação de produtos com algodão de Xinjiang a não ser que as empresas conseguissem provar que este não era produzido com recurso a trabalho forçado.

Em Julho, mais de 190 organizações de defesa dos direitos humanos, de 35 países, formaram uma coligação a exigir que grandes marcas internacionais cortassem as ligações com os fornecedores ligados ao trabalho forçado de uigures.

Texto editado por Carla B. Ribeiro