Julgamento Rui Pinto: Doyen emprestou dinheiro a dirigente condenado em Espanha

O empréstimo, feito a título particular, teve como destino José Maria Del Nido, à época presidente do Sevilha. Nélio Lucas nega ilegalidades.

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MARIO CRUZ

O fundo de investimento Doyen fez empréstimos a dirigentes desportivos a título particular. A revelação inicial destas movimentações remonta a 2015, mas foi confirmada esta quarta-feira pelo antigo gestor da empresa, o empresário Nélio Lucas. O destinatário deste empréstimo concreto foi o ex-presidente do Sevilha, José Maria Del Nido, condenado por corrupção por desvio de dinheiro em 2013. Essa condenação motivou a saída do dirigente do clube andaluz. 

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O fundo de investimento Doyen fez empréstimos a dirigentes desportivos a título particular. A revelação inicial destas movimentações remonta a 2015, mas foi confirmada esta quarta-feira pelo antigo gestor da empresa, o empresário Nélio Lucas. O destinatário deste empréstimo concreto foi o ex-presidente do Sevilha, José Maria Del Nido, condenado por corrupção por desvio de dinheiro em 2013. Essa condenação motivou a saída do dirigente do clube andaluz. 

O fundo de investimento acusa Rui Pinto de ter tentado extorquir uma verba entre 500 mil e um milhão de euros, dinheiro que evitaria a publicação de informação sensível para a Doyen na página Football Leaks. Enquanto a procuradora Marta Viegas relembrava as publicações feitas pelo hacker que atingiram o fundo de investimento, mostrou um documento sobre empréstimos feitos pela Doyen.

“Isto é relativo a um empréstimo ao presidente do Sevilha”, começou por dizer o empresário, sendo questionado pela juíza Margarida Alves se, tal como os outros empréstimos mencionados anteriormente no seu testemunho, o dinheiro serviu para financiar o clube ou se era um empréstimo particular para o dirigente. Nélio Lucas confirmou que a verba foi para Del Nido e não para o emblema espanhol. “E isso é normal?”, insistiu a juíza. “Não é normal, mas acontece”, retorquiu Nélio Lucas. O empréstimo não era de grande dimensão, garantiu, dizendo que os juros cobrados eram de 10% ao ano, o “valor comum”.

O antigo gestor procurou explicar depois que esta transacção não quebrou nenhuma lei, referindo que a Doyen foi “inquirida pelo regulador de mercado”, que não encontrou irregularidades. Na sessão da manhã, Nélio Lucas já tinha referido outros empréstimos, revelando que o FC Porto, “num momento de stress” financeiro, procurou um financiamento de três milhões de euros junto do fundo de investimento.

“Emprestámos três milhões de euros ao FC Porto. Foi um empréstimo directo, muito raramente fazíamos isto, mas estava no objecto social da nossa empresa. Deve ter sido um stress momentâneo [do clube], não havia tempo para recorrer à banca. Terá existido um contrato de empréstimo, não me recordo”, revelou.

Investigadores procuraram Rui Pinto

Assim que começaram as revelações no Football Leaks, a Doyen traçou um objectivo claro: descobrir o autor das revelações. Para esse efeito contratou uma empresa de investigação que, apesar dos esforços, não conseguiu descobrir a identidade do homem misterioso que tinha roubado documentos a Nélio Lucas.

“Sim, contratámos uma empresa de investigação, tal como é do conhecimento público”, explicou Nélio Lucas. O dirigente relembrou em tribunal o primeiro contacto feito por Rui Pinto que, identificado com o nome falso Artem Lobuzov e munido da informação sensível da Doyen, pedia uma “doação generosa” em troca do silêncio.

Nélio Lucas garante que não pensou em ceder às exigências de Rui Pinto, desejando apenas descortinar a identidade do responsável pelo Football Leaks e a motivação para as publicações.

No final da sessão, Nélio Lucas ficou emocionado, quando questionado sobre o impacto emocional das revelações e consequentes notícias sobre a gestão da Doyen. “Só quem passa por isto é que sabe. São cinco anos a levar pancada, foi um autêntico linchamento público. O impacto é irreparável. Não se pára de escrever sobre nós e, nestas notícias, vem sempre a minha foto ou a dele [Rui Pinto]. Sentimo-nos violados, e é esta a palavra, porque uma penetração num sistema informático é uma violação”, finalizou.

Nélio Lucas continuará a ser ouvido como testemunha esta quinta-feira no Campus da Justiça. No âmbito do processo Football Leaks, Rui Pinto está acusado de 90 crimes: Rui Pinto está acusado de 90 crimes: um crime de tentativa de extorsão, seis de acesso ilegítimo, 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência e um de sabotagem informática.