O último hurrah de pai e filha

Sem ter nada de tão espectacular como Lost in Translation (nem segredos nem karaokes nem Tóquio by night), o novo filme de Sofia Coppola é ainda melhor, mais profundo e menos pop.

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Uma investigação conjunta de pai (Bill Murray) e filha (Rashida Jones), um “último hurrah” familar

A relação mais perene de Sofia Coppola é com Bill Murray. Foi Lost in Translation há quase vinte anos, foi aquele panegírico natalício para a Netflix em 2015 (A Very Murray Christmas), é agora On the Rocks (para a plataforma de streaming Apple TV), onde Murray é, nem mais nem menos, a figura paternal que só simbolicamente se esboçava em Lost in Translation. Façamos o exercício de esquecer que sabemos quem é o pai de Sofia Coppola, é injusto para ela (que tem tanto direito de inventar personagens de pais como qualquer filho de pai incógnito) e para as personagens, e admitamos que não há Francis, que nem sabemos quem é Francis, e que damos a tentação de encontrar reflexos autobiográficos como um mero enevoamento do olhar do espectador. Livrando-nos disso, encontramos o filme, que é quase um exercício de geometria, um triângulo à la Conto Moral de Rohmer, mas com uma personagem feminina no centro (Rashida Jones). Os outros vértices são o pai e o marido (Marlon Wayans), e ela oscila, como num triângulo de geometria variável, entre a aparente distância do marido (embrenhados nos seus afazeres profissionais) e a súbita disponibilidade do pai (que está velhote e um pouco solitário).

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A relação mais perene de Sofia Coppola é com Bill Murray. Foi Lost in Translation há quase vinte anos, foi aquele panegírico natalício para a Netflix em 2015 (A Very Murray Christmas), é agora On the Rocks (para a plataforma de streaming Apple TV), onde Murray é, nem mais nem menos, a figura paternal que só simbolicamente se esboçava em Lost in Translation. Façamos o exercício de esquecer que sabemos quem é o pai de Sofia Coppola, é injusto para ela (que tem tanto direito de inventar personagens de pais como qualquer filho de pai incógnito) e para as personagens, e admitamos que não há Francis, que nem sabemos quem é Francis, e que damos a tentação de encontrar reflexos autobiográficos como um mero enevoamento do olhar do espectador. Livrando-nos disso, encontramos o filme, que é quase um exercício de geometria, um triângulo à la Conto Moral de Rohmer, mas com uma personagem feminina no centro (Rashida Jones). Os outros vértices são o pai e o marido (Marlon Wayans), e ela oscila, como num triângulo de geometria variável, entre a aparente distância do marido (embrenhados nos seus afazeres profissionais) e a súbita disponibilidade do pai (que está velhote e um pouco solitário).