Não se volta a Manderley

Tudo aqui podia vir de uma série da BBC.

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Uma versão empobrecida, quase pueril, da Rebecca original

Em defesa de Ben Wheatley, podia argumentar-se que a sua Rebecca (Netflix) menos do que ser um remake do homónimo filme de Hitchcock, é outra leitura do romance de Daphne duMaurier. Mas é defesa que não se aguenta de pé cinco minutos, porque é óbvio que o olhar de Wheatley sobre a narrativa está completamente marcado pela Rebecca de 1940, que então foi o primeiro filme americano de Hitchcock. E Hitchcock, de certa forma (como Flaubert dizia da Madame Bovary: c’est moi), era a protagonista, a segunda senhora de Winter, interpretada por Joan Fontaine, acossada por um sentimento de impostura social — ela não devia estar ali, no luxo de Manderley, assim como Hitchcock, um gordo inglês católico e reprimido, não devia estar ali, no fausto de Hollywood.

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Em defesa de Ben Wheatley, podia argumentar-se que a sua Rebecca (Netflix) menos do que ser um remake do homónimo filme de Hitchcock, é outra leitura do romance de Daphne duMaurier. Mas é defesa que não se aguenta de pé cinco minutos, porque é óbvio que o olhar de Wheatley sobre a narrativa está completamente marcado pela Rebecca de 1940, que então foi o primeiro filme americano de Hitchcock. E Hitchcock, de certa forma (como Flaubert dizia da Madame Bovary: c’est moi), era a protagonista, a segunda senhora de Winter, interpretada por Joan Fontaine, acossada por um sentimento de impostura social — ela não devia estar ali, no luxo de Manderley, assim como Hitchcock, um gordo inglês católico e reprimido, não devia estar ali, no fausto de Hollywood.