Trump faz da mentira um espectáculo
Donald Trump transformou a mentira numa estratégia política sem paralelo e que é praticamente impossível de debelar.
Há demasiado em comum entre os argumentos que negam as alterações climáticas e a dimensão da pandemia da covid-19. Inteligência, conhecimento e ciência são rejeitadas e substituídas pelas teorias da conspiração mais extraordinárias e pelas mentiras mais destemperadas. Donald Trump, quer num caso, quer no outro, transformou a mentira numa estratégia política sem paralelo e que é praticamente impossível de debelar. Bem sabemos que contra a estupidez até a inteligência é em vão.
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Há demasiado em comum entre os argumentos que negam as alterações climáticas e a dimensão da pandemia da covid-19. Inteligência, conhecimento e ciência são rejeitadas e substituídas pelas teorias da conspiração mais extraordinárias e pelas mentiras mais destemperadas. Donald Trump, quer num caso, quer no outro, transformou a mentira numa estratégia política sem paralelo e que é praticamente impossível de debelar. Bem sabemos que contra a estupidez até a inteligência é em vão.
Lembramo-nos da glasnost de Gorbatchov e da necessidade de transparência de um regime baseado na mentira oficializada. Olhamos para Trump e o que vemos é a desprezível intenção de utilizar a mentira como calúnia, como se diz em bom inglês, um autêntico “superspreader”. Como é que um presidente dos EUA propaga a mentira de que Bin Laden está vivo e que Obama ordenou a aniquilação da equipa especial encarregada de o matar?, perguntava-se esta semana Thomas L. Friedman no The New York Times. A propaganda é passado. A desinformação é bem mais eficaz.
O que geralmente é descrito como crítica aos “media tradicionais” não é mais do que a rejeição abjecta do escrutínio do pensamento crítico numa democracia, construída na diversidade de opiniões e da liberdade de expressão, em nome de uma “bufonaria sem descanso”, como escreveu Henry Louis Mencken. O jornalista, ensaísta e analista político disse um dia, num livro publicado em 1922, traduzido em português com o título Os Americanos, que os “Estados Unidos são, incompreensivelmente, o maior espectáculo do mundo”. E são. “Qualquer pessoa que ponha um ar de superioridade, com a inteligência de um corretor de bolsa, a determinação de uma empregada de bengaleiro, em suma, qualquer pessoa que acredite nela própria o suficiente para merecer o título de aprendiz pode sacar dinheiro suficiente, nesta gloriosa comunidade de imbecis, para que a existência lhe corra de feição.” Trump tem tudo isso.
O problema é que a estrela do The Apprentice transformou-se no profissional convincente da desinformação manipuladora num partido tão tradicional como o republicano. Só lhe falta convencer meio mundo acerca do “terraplanismo” e enterrar de vez todo o conhecimento científico. Não há pior ameaça à democracia do que um líder eleito que mente. Não há pior perigo para a democracia do que milhões de eleitores dispostos a acreditar na mentira.