“Tou xim? É p’ra mim?” O pastor responde agora por Maria João Vaz

O actor João Vaz que encarnou o pastor no anúncio da Telecel, em 1995, decidiu apresentar-se nesta segunda-feira, na televisão, como mulher.

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Conhecida pelo anúncio lançado em 1995 pela empresa de telecomunicações Telecel, actual Vodafone, Maria João Vaz solta-se do corpo onde esteve presa, sem saber. “Tou xim? É p'ra mim” era a deixa conhecida deste anúncio que marcou a sua carreira até aos dias de hoje. O pastor que o então João Vaz encarnou, renasceu e apresenta-se ao mundo como sempre se quis mostrar, como mulher. A convite do programa A Tarde é Sua, na TVI, aceitou dar uma entrevista para partilhar o seu testemunho. 

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Conhecida pelo anúncio lançado em 1995 pela empresa de telecomunicações Telecel, actual Vodafone, Maria João Vaz solta-se do corpo onde esteve presa, sem saber. “Tou xim? É p'ra mim” era a deixa conhecida deste anúncio que marcou a sua carreira até aos dias de hoje. O pastor que o então João Vaz encarnou, renasceu e apresenta-se ao mundo como sempre se quis mostrar, como mulher. A convite do programa A Tarde é Sua, na TVI, aceitou dar uma entrevista para partilhar o seu testemunho. 

“Eu tenho a certeza que, por aí, neste país e neste mundo, haverá muitas pessoas que são como eu e estão à espera de ter uma epifania que as faça revelar.” É assim que Maria João Vaz começa a sua entrevista no programa de Fátima Lopes, relembrando os tempos em que trocava de calçado com a colega do lado, na escola primária, um episódio que a marcou até agora. Na altura, “senti um arrepio, havia ali alguma coisa que eu sentia que me fazia querer mais”, conta. 

Embora reconheça que não tem a noção da percentagem de pessoas transexuais existentes em Portugal, Maria João acredita que falar em público sobre este processo de mudança e de aceitação é “importantíssimo”. “Nós existimos, somos seres humanos e sentimos como outros quaisquer”, declara. Além disso, compara esta situação a “uma avaria na formação”, em que o genital não corresponde ao cérebro. Isto é, o então João Vaz tinha o órgão genital masculino, mas um cérebro feminino, defende. 

Ao PÚBLICO, pelo telefone, Maria João Vaz partilha uma mensagem para aqueles que estiverem a passar pelo mesmo: “O meu conselho é que as pessoas olhem para dentro de si, se compreendam e assumam.” Entre risos, aconselha a que “não deixem para amanhã o que podem fazer hoje”. 

 Ao longo da vida conta que teve alguns relacionamentos, mas nada de “muito sério”. Casou com uma mulher, teve três filhas, a mais velha tem 27 anos. “Fui pai, embora adorasse ter sido mãe.” Viveu como mulher na sombra da sua própria existência, “sem perceber bem o que isso queria dizer”, e só em 2018 conseguiu compreender o que realmente estava a acontecer e decidiu assumir essa mudança, tinha então 54 anos. 

Em fases diferentes, foi-se revelando a amigos e familiares. Ao PÚBLICO, explica que não precisou de ter coragem para o fazer, mas que teve “de perceber o momento, contexto e forma mais adequada para o contar”. Antes de partilhar com os outros a sua mudança, considerou necessário educar-se quanto a esta questão. “Uma revelação deste tipo pressupõe dúvidas e perguntas e temos de estar preparadas para as responder. Temos de estar devidamente formadas na matéria”, realça. 

Questionada sobre as reacções que suscita, Maria João conta que a dominante é a surpresa. As pessoas procuram um indício, de algo que fizesse prever “tal desfecho”, explica. “Só tinha a noção que não era feliz, nunca consegui apreciar o mundo a 100%, sentia que não pertencia a lado nenhum”, confessa. Agora, passado este processo, assume-se enquanto mulher, Maria João Vaz. 

Texto editado por Bárbara Wong