Bastonária dos enfermeiros diz que “um ventilador não é uma Bimby” e que novas medidas “vêm tarde”

Ana Rita Cavaco nota que já não há muitos enfermeiros com experiência em cuidados intensivos disponíveis no mercado.

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Bastonária da Ordem dos Enfermeiros MIGUEL A. LOPES

A bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE) considerou este domingo que as medidas do Governo para melhorar as condições sanitárias em Portugal no quadro da pandemia de covid-19 “vêm tarde”, uma vez que “houve muitos meses para as preparar”, e criticou algumas das medidas anunciadas pelo Governo.

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A bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE) considerou este domingo que as medidas do Governo para melhorar as condições sanitárias em Portugal no quadro da pandemia de covid-19 “vêm tarde”, uma vez que “houve muitos meses para as preparar”, e criticou algumas das medidas anunciadas pelo Governo.

O Conselho de Ministros aprovou no sábado novas medidas para tentar controlar a epidemia de covid-19, entre as quais figuram a contratação de enfermeiros reformados para rastreio de contactos da covid-19 e a contratação de até 350 enfermeiros para as unidades de cuidados intensivos dos hospitais, para onde vão os doentes em estado crítico. 

Lembrando que o Governo e as ordens profissionais tiveram acesso a estudos que demonstravam que havia a possibilidade de haver um número elevado de casos de infecção pelo novo coronavírus em Novembro e ainda maior em Dezembro, Ana Rita Cavaco garantiu que “há muito tempo” a OE enviou ao Ministério da Saúde “uma listagem daqueles enfermeiros que ainda estão disponíveis no mercado para contratar, que são pouco mais de 400”. Mas “aquilo a que assistimos foi a uma série de medidas avulsas que nem faziam sentido”, criticou.

Primeiro anunciaram que iam pôr alunos de enfermagem na linha de saúde pública, quando nós também enviamos dados ao Governo dizendo que temos ainda mais de 200 enfermeiros de saúde pública que estavam noutras funções e que podiam ser colocados na linha de saúde pública, e, para colmatar a saída desses especialistas de saúde comunitária dessas funções, teríamos então de contratar estes que estão disponíveis no mercado”. A partir de agora, lamentou, a gestão vai ser feita “dia a dia e escusava de ser feita ao dia numa fase destas”, porque, insistiu, “houve tempo para preparar”. 

Ana Rita Cavaco acrescentou que a OE pediu um estudo para saber quais e quantos são os enfermeiros com experiência em cuidados intensivos que estariam noutras funções e que também poderiam ser deslocados para as unidades de cuidados intensivos.

“Dos dados que obtivemos, não haverá muitos mais com experiência em cuidados intensivos. Resta-nos contratar aqueles que existem no mercado, sabendo que um enfermeiro com experiência [nesta área] não a adquire em cursos de 16 horas, como alguns hospitais quiseram fazer, porque trabalhar com um ventilador é muito complicado”, afirmou, assumindo desconhecer como trabalhar com um. 

“As pessoas têm de se convencer que um ventilador não é uma “Bimby”, que se carrega num botão e que o doente fica estável e que está bem cuidado”, observou. Um ventilador é uma pequena máquina que é utilizada para auxiliar a respiração das pessoas com doenças respiratórias graves com impacto nos pulmões. 

Para a bastonária, “tudo isto teria de ter sido pensado antes e não oferecer contratos de quatro meses aos enfermeiros, porque muitos estão a recusar e acabam por preferir, pandemia por pandemia, emigrar para outros países que estão com políticas de contratação muito agressivas”. Há vários países que fazem esses pedidos à OE, oferecendo-lhe mais salário, outras condições e contratos por mais de quatro meses, diz. 

Sobre a contratação de enfermeiros reformados, Ana Rita Cavaco considerou que esta é uma medida positiva, mas apenas para trabalharem nas unidades de saúde pública, uma vez que são pessoas que, pela sua idade, também serão de risco. Por isso, contratá-las para fazer os rastreios poderá ser uma hipótese.