Quando os migrantes se sentem bem-vindos, todos nós beneficiamos
As nossas políticas de imigração, incluindo o acolhimento e integração dos refugiados, contribuem para o alívio dos desafios inerentes à diminuição de mão-de-obra provocados pelo envelhecimento da população, desafios esses que Portugal também enfrenta. Não temos dúvida que, como país, somos muito mais ricos em resultado desta política.
Desde que assumi o cargo de Embaixadora do Canadá em Portugal, em Outubro de 2018, tenho ficado constantemente impressionada com a profundidade e amplitude dos laços de amizade e ligações interpessoais entre os nossos dois países. Temos por ano um volume de negócios de mil milhões de dólares, partilhamos valores comuns, incluindo, por exemplo, a crença num Estado de direito e a defesa dos direitos humanos e, sobretudo, somos abençoados por termos relações fortes entre os nossos cidadãos.
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Desde que assumi o cargo de Embaixadora do Canadá em Portugal, em Outubro de 2018, tenho ficado constantemente impressionada com a profundidade e amplitude dos laços de amizade e ligações interpessoais entre os nossos dois países. Temos por ano um volume de negócios de mil milhões de dólares, partilhamos valores comuns, incluindo, por exemplo, a crença num Estado de direito e a defesa dos direitos humanos e, sobretudo, somos abençoados por termos relações fortes entre os nossos cidadãos.
De acordo com o censo canadiano de 2016, 22% dos cidadãos canadianos nasceram no estrangeiro e foram para o Canadá como imigrantes ou refugiados. Somos uma nação diversa, onde nela se incluem os 500.000 canadianos com ascendência portuguesa. Quando, no ano passado, visitei o Museu da Emigração Açoriana em Ribeira Grande, Açores, comoveram-me as cartas em exposição dos emigrantes que descreviam as suas experiências no Canadá. Ficou na minha memória a carta de uma mulher que referia que o Canadá devia ser um país muito rico porque, quando o avião aterrou em Montreal, o solo estava coberto de açúcar. Foi uma descrição enternecedora da sua introdução inesperada à neve e, para mim, algo que ressalta a bravura das gentes açorianas.
Adaptar-se à vida num novo país, muitas vezes sem compreender a língua ou, no caso do Canadá, sem conhecer o quão desafiante são as nossas quatro estações, pode ser assustador. Imaginem, por outro lado, as complexidades acrescidas de um refugiado, a fugir da violência, perseguição, guerra ou desastres naturais. Desde 1980 o Canadá acolheu mais de um milhão de refugiados. Fomos o primeiro país no mundo a introduzir o patrocínio comunitário de refugiados, em que grupos de indivíduos ou organizações providenciam cuidados, alojamento, assistência à integração e instalação e apoio até um período de 12 meses. Trata-se de uma ajuda de extrema importância que permite colmatar as necessidades do dia-a-dia num processo de inclusão. Indicar onde fazer compras ou explicar como inscrever os filhos em aulas de futebol são exemplos elementares disso. E é por isso que temos vindo a partilhar de bom grado as nossas experiências positivas na reinstalação de refugiados com outros países, entre eles Portugal.
O anterior ministro da Imigração, Refugiados e Cidadania do Canadá, agora ministro das Famílias, Crianças e Desenvolvimento Social, Ahmed Hussen, ele próprio imigrante no Canadá, afirmou “somos afortunados por viver num país onde os canadianos compreendem o papel positivo dos recém-chegados na nossa sociedade e compreendem que o sucesso de um imigrante é o sucesso de todo o Canadá”. Também as sondagens públicas apoiam esta afirmação. A maioria dos canadianos considera que os imigrantes têm um papel positivo não só na economia, mas também na diversificação e no multiculturalismo. Durante os próximos três anos o Canadá espera acolher um milhão de novos residentes permanentes, o que corresponde a mais de 2,5% da população total do Canadá. Isto inclui mais de 100.000 refugiados e pessoas que necessitam de protecção internacional.
Os refugiados dão um contributo significativo à sociedade e economia das suas novas comunidades e quase todos (95%) os refugiados adquirem um forte sentido de pertença ao Canadá. De acordo com o ACNUR Canada, ao longo do tempo, os refugiados pagam mais impostos do que o que recebem em benefícios e serviços públicos. Metade dos refugiados que trabalham detêm cargos que requerem conhecimentos altamente especializados e 14,4% dos refugiados tornam-se empresários e criam postos de trabalho para eles e para outros canadianos.
Tomemos, por exemplo, o caso da família Hadhad, refugiados sírios patrocinados por um grupo de canadianos em Antigonish, na Nova Escócia, uma pequena comunidade com uma população de 5195 pessoas. Em Damasco tinham um negócio bem-sucedido, uma fábrica de chocolate que empregava 30 pessoas. Oito meses após terem chegado ao Canadá, lançaram o seu novo negócio “Peace by Chocolate” em 2016. Parte do lucro das vendas da empresa vai para operações de restabelecimento da paz em todo o mundo. Em Setembro, o presidente da empresa, Tareq Hadhad, de apenas 28 anos, foi o vencedor de um prestigiado prémio de empreendedorismo no Canadá.
As nossas políticas de imigração, incluindo o acolhimento e integração dos refugiados, contribuem para o alívio dos desafios inerentes à diminuição de mão-de-obra provocados pelo envelhecimento da população, desafios esses que Portugal também enfrenta. Não temos dúvida que, como país, somos muito mais ricos em resultado desta política.