Corbyn rejeita acusações de anti-semitismo e é suspenso pelo Partido Trabalhista

Antigo líder do Labour não concordou com as conclusões de um relatório crítico da sua gestão às denúncias de anti-semitismo e a sua filiação foi suspensa. Perde também o lugar no grupo parlamentar trabalhista.

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Jeremy Corbyn abandonou a liderança do Partido Trabalhista em Abril EPA/ANDY RAIN

Seis meses depois de ter sido substituído por Keir Starmer na liderança do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn foi suspenso pela direcção que lhe sucedeu.

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Seis meses depois de ter sido substituído por Keir Starmer na liderança do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn foi suspenso pela direcção que lhe sucedeu.

O antigo dirigente do Labour e actual deputado, que guiou o partido nas últimas eleições legislativas, rejeitou as conclusões de um relatório muito crítico da gestão da sua equipa às denúncias de anti-semitismo no partido e foi afastado temporariamente.

Foi ainda lançada uma investigação interna dentro do partido para responder aos problemas identificados no documento, publicado esta quinta-feira, e Corbyn viu também suspensa a sua inscrição no grupo parlamentar do Labour na Câmara dos Comuns.

“À luz dos comentários que hoje fez e da sua incapacidade para se retratar, o Partido Trabalhista suspendeu Jeremy Corbyn, enquanto se mantiver a investigação. Corbyn também foi suspenso do grupo parlamentar do Partido Trabalhista”, anunciou um porta-voz do Labour.

Corbyn recorreu ao Twitter e deu uma entrevista à BBC para “contestar firmemente a intervenção política” para o suspender, garantir que “tornou absolutamente claro que aqueles que negam que há um problema de anti-semitismo no Partido Trabalhista estão errados” e defender que “vai continuar a apoiar uma política de tolerância zero” em relação a “todas as formas de racismo”.

Corbyn disse que vai contestar esta suspensão e pediu aos seus apoiantes para permanecerem no partido, para “lutarem pelos valores da esquerda”. “Claramente esta decisão foi tomada depressa demais e só quero dizer: esperem, vamos manter alguma calma, vamos pensar neste assunto outra vez”, disse.

As acusações contra o Partido Trabalhista, oriundas, sobretudo, de organizações e de representantes da comunidade judaica britânica, da oposição conservadora e de alguns dissidentes do partido de centro-esquerda do Reino Unido, foram uma constante durante os cinco anos da direcção de Corbyn.

O antigo líder trabalhista ficou marcado por ter chamado “amigos” aos grupos fundamentalistas islâmicos Hamas e Hezbollah e sempre se empenhou bastante na defesa da causa palestiniana. Para além disso, os seus críticos dizem que adoptou uma posição condescendente e pouco firme na condenação dos casos de anti-semitismo, mais ou menos mediáticos, dentro do Labour.

O relatório da Equality and Human Rights Commission (EHRC) aponta “falhas graves na liderança do Partido Trabalhista” face aos casos e refere que o procedimento adoptado para lidar com as queixas de anti-semitismo foi “inadequado”.

Numa publicação partilhada no Facebook, pouco depois da divulgação do relatório, Jeremy Corbyn argumentou, no entanto, que toda a questão foi “dramaticamente exagerada por motivos políticos”. Para além disso, assegurou que a sua liderança fez “melhorias significativas, que tornaram muito mais fácil e rápido expulsar anti-semitas”.

“Quem disser que não existe anti-semitismo no Partido Trabalhista está enganado. É claro que existe, tal como na sociedade, e é, muitas vezes, expresso por pessoas que acham que são de esquerda”, começou por assumir Corbyn.

“Haver um anti-semita já é demasiado, mas a escala do problema foi dramaticamente exagerada por motivos políticos pelos nossos opositores, dentro e fora do partido, assim como por grande parte dos media”, acusou o ex-líder.

“Embora não aceite todas as suas conclusões, acredito que as recomendações [do relatório] vão ser rapidamente levadas à prática para nos ajudarem a seguirmos em frente”, concluiu.

“Dia de vergonha”

A suspensão de Jeremy Corbyn do partido que liderou entre 2015 e o início deste ano, e pelo qual foi eleito deputado, pela primeira vez, em 1983, é o mais recente passo dado pela direcção de Keir Starmer para virar a página do passado recente trabalhista. E promete acicatar os ânimos entre os moderados e a ala mais à esquerda do Labour.

Depois de a anterior direcção ter levado o Partido Trabalhista ao seu pior resultado eleitoral desde 1935 nas legislativas de 2019, o novo líder tomou as rédeas decidido a recentrar ideologicamente o partido, a atirar o debate sobre o “Brexit” para trás das costas e a acabar de vez com as denúncias de anti-semitismo.

Prova disso foi a penitência feita nesta quinta-feira, depois de conhecidas as conclusões do relatório da EHRC.

“Hoje é um dia de vergonha para o Partido Trabalhista. Falhámos ante a população judaica. Lamento profundamente toda a dor e sofrimento causados”, afirmou o líder trabalhista, numa conferência de imprensa.

“Aqueles que negam que existe um problema fazem parte do problema. E aqueles que pretendem que é exagerado ou que é um ataque de facção também fazem parte do problema”, atirou ainda. Duas horas depois, Jeremy Corbyn era suspenso do Partido Trabalhista.