Corbyn rejeita acusações de anti-semitismo e é suspenso pelo Partido Trabalhista
Antigo líder do Labour não concordou com as conclusões de um relatório crítico da sua gestão às denúncias de anti-semitismo e a sua filiação foi suspensa. Perde também o lugar no grupo parlamentar trabalhista.
Seis meses depois de ter sido substituído por Keir Starmer na liderança do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn foi suspenso pela direcção que lhe sucedeu.
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Seis meses depois de ter sido substituído por Keir Starmer na liderança do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn foi suspenso pela direcção que lhe sucedeu.
O antigo dirigente do Labour e actual deputado, que guiou o partido nas últimas eleições legislativas, rejeitou as conclusões de um relatório muito crítico da gestão da sua equipa às denúncias de anti-semitismo no partido e foi afastado temporariamente.
Foi ainda lançada uma investigação interna dentro do partido para responder aos problemas identificados no documento, publicado esta quinta-feira, e Corbyn viu também suspensa a sua inscrição no grupo parlamentar do Labour na Câmara dos Comuns.
I will strongly contest the political intervention to suspend me.
— Jeremy Corbyn (@jeremycorbyn) October 29, 2020
I’ve made absolutely clear those who deny there has been an antisemitism problem in the Labour Party are wrong.
I will continue to support a zero tolerance policy towards all forms of racism.
“À luz dos comentários que hoje fez e da sua incapacidade para se retratar, o Partido Trabalhista suspendeu Jeremy Corbyn, enquanto se mantiver a investigação. Corbyn também foi suspenso do grupo parlamentar do Partido Trabalhista”, anunciou um porta-voz do Labour.
Corbyn recorreu ao Twitter e deu uma entrevista à BBC para “contestar firmemente a intervenção política” para o suspender, garantir que “tornou absolutamente claro que aqueles que negam que há um problema de anti-semitismo no Partido Trabalhista estão errados” e defender que “vai continuar a apoiar uma política de tolerância zero” em relação a “todas as formas de racismo”.
Jeremy Corbyn "shocked and disappointed" by decision to suspend him from Labour
— BBC Politics (@BBCPolitics) October 29, 2020
He says "anti-Semitism has no place whatsoever in our party... I’ve opposed it and racism in all its forms all my life" and he will appeal to the party "to kindly think again"https://t.co/viiZOIChsC pic.twitter.com/roTuzElMZ7
Corbyn disse que vai contestar esta suspensão e pediu aos seus apoiantes para permanecerem no partido, para “lutarem pelos valores da esquerda”. “Claramente esta decisão foi tomada depressa demais e só quero dizer: esperem, vamos manter alguma calma, vamos pensar neste assunto outra vez”, disse.
As acusações contra o Partido Trabalhista, oriundas, sobretudo, de organizações e de representantes da comunidade judaica britânica, da oposição conservadora e de alguns dissidentes do partido de centro-esquerda do Reino Unido, foram uma constante durante os cinco anos da direcção de Corbyn.
O antigo líder trabalhista ficou marcado por ter chamado “amigos” aos grupos fundamentalistas islâmicos Hamas e Hezbollah e sempre se empenhou bastante na defesa da causa palestiniana. Para além disso, os seus críticos dizem que adoptou uma posição condescendente e pouco firme na condenação dos casos de anti-semitismo, mais ou menos mediáticos, dentro do Labour.
O relatório da Equality and Human Rights Commission (EHRC) aponta “falhas graves na liderança do Partido Trabalhista” face aos casos e refere que o procedimento adoptado para lidar com as queixas de anti-semitismo foi “inadequado”.
Numa publicação partilhada no Facebook, pouco depois da divulgação do relatório, Jeremy Corbyn argumentou, no entanto, que toda a questão foi “dramaticamente exagerada por motivos políticos”. Para além disso, assegurou que a sua liderança fez “melhorias significativas, que tornaram muito mais fácil e rápido expulsar anti-semitas”.
“Quem disser que não existe anti-semitismo no Partido Trabalhista está enganado. É claro que existe, tal como na sociedade, e é, muitas vezes, expresso por pessoas que acham que são de esquerda”, começou por assumir Corbyn.
“Haver um anti-semita já é demasiado, mas a escala do problema foi dramaticamente exagerada por motivos políticos pelos nossos opositores, dentro e fora do partido, assim como por grande parte dos media”, acusou o ex-líder.
“Embora não aceite todas as suas conclusões, acredito que as recomendações [do relatório] vão ser rapidamente levadas à prática para nos ajudarem a seguirmos em frente”, concluiu.
“Dia de vergonha”
A suspensão de Jeremy Corbyn do partido que liderou entre 2015 e o início deste ano, e pelo qual foi eleito deputado, pela primeira vez, em 1983, é o mais recente passo dado pela direcção de Keir Starmer para virar a página do passado recente trabalhista. E promete acicatar os ânimos entre os moderados e a ala mais à esquerda do Labour.
Depois de a anterior direcção ter levado o Partido Trabalhista ao seu pior resultado eleitoral desde 1935 nas legislativas de 2019, o novo líder tomou as rédeas decidido a recentrar ideologicamente o partido, a atirar o debate sobre o “Brexit” para trás das costas e a acabar de vez com as denúncias de anti-semitismo.
If people think accusations of anti-Semitism in the Labour Party are “exaggerated or a factional attack” they "are part of the problem" and "should be nowhere near the Labour Party”, Labour leader Sir Keir Starmer sayshttps://t.co/GUSedUYPMU pic.twitter.com/XtO9NCbNKh
— BBC Politics (@BBCPolitics) October 29, 2020
Prova disso foi a penitência feita nesta quinta-feira, depois de conhecidas as conclusões do relatório da EHRC.
“Hoje é um dia de vergonha para o Partido Trabalhista. Falhámos ante a população judaica. Lamento profundamente toda a dor e sofrimento causados”, afirmou o líder trabalhista, numa conferência de imprensa.
“Aqueles que negam que existe um problema fazem parte do problema. E aqueles que pretendem que é exagerado ou que é um ataque de facção também fazem parte do problema”, atirou ainda. Duas horas depois, Jeremy Corbyn era suspenso do Partido Trabalhista.