Documentos internos da Google mostram estratégia para lutar contra regras europeias

A estratégia da Google passa por “enfraquecer o apoio”, “aumentar a oposição” e “encontrar aliados” contra as novas regras de Bruxelas para o sector digital.

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A Google acredita que tem sido clara nas suas comunicações públicas e privadas Reuters/DADO RUVIC

A Google está preparada para lutar contra novas regras digitais na União Europeia e já tem uma estratégia e parceiros definidos. Documentos internos obtidos pelo jornal francês Le Point e pelo jornal britânico Financial Times revelam que a tecnológica norte-americana está a preparar uma campanha contra o comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton, e outros reguladores, para evitar a aplicação de regras que limitem o poder das gigantes tecnológicas na União Europeia.

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A Google está preparada para lutar contra novas regras digitais na União Europeia e já tem uma estratégia e parceiros definidos. Documentos internos obtidos pelo jornal francês Le Point e pelo jornal britânico Financial Times revelam que a tecnológica norte-americana está a preparar uma campanha contra o comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton, e outros reguladores, para evitar a aplicação de regras que limitem o poder das gigantes tecnológicas na União Europeia.

O objectivo, refere o documento da Google é “aumentar a oposição, “enfraquecer o apoio” e “encontrar aliados” para lutar contra a legislação que Bruxelas está a preparar. Empresas como a Booking.com (um site de reservas de viagens) são mencionados como potenciais parceiros.

Há meses, a União Europeia anunciou ter planos para actualizar as regras sobre o comércio electrónico com uma nova lei de serviços digitais. É a primeira vez que isto acontece em mais de duas décadas e um dos grandes propósitos é impedir grandes plataformas online, como a Google e a Amazon de usarem práticas anti-concorrenciais e monopolizarem o ecossistema digital. 

Questionada pelo PÚBLICO, a Google não confirma o conteúdo do documento. “Como tornamos claro nas comunicações particulares e públicas, temos alguma preocupação quanto às propostas que impedem empresas tecnológicas de servir as necessidades crescentes dos utilizadores e negócios europeus”, lê-se num comunicado enviado ao PÚBLICO por email e assinado por Karan Bhatia, uma das responsáveis pelo departamento da Google de políticas públicas e assuntos governamentais. “Neste ano extraordinário, as pessoas e as empresas estão a pedir mais, e não menos, da tecnologia e das empresas tecnológicas. A Europa precisa de políticas, incluindo uma nova lei de serviços digitais, que respondam ao desafio.”

O PÚBLICO tentou contactar a equipa do Booking.com ao final desta quarta-feira para mais informação, mas não obteve resposta até à hora de publicação deste artigo. Em resposta ao Financial Times, um porta-voz do Booking.com diz que a empresa “não tem a intenção de cooperar com o Google” e que as empresas têm interesses “opostos”.

Nos últimos anos, a Google já foi alvo de várias multas na União Europeia por abuso de poder. A sanção mais elevada veio em 2018: 4340 milhões de euros por restrições contratuais impostas para a utilização do Android (sistema operativo da Google), que favoreceram o domínio da empresa nas pesquisas online nos telemóveis.

Actualmente, não é só a Google que é visada. Em 2020, reguladores europeus e norte-americanos têm ponderado a possibilidade de separar e dividir conglomerados online para diminuir práticas anticoncorrenciais por parte de grandes empresas, como a Google, Facebook, Amazon e Apple, que detêm serviços de comércio online, publicidade, busca e comunicação.

O comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton, que é um dos alvos nos documentos da Google, é um dos defensores da ideia. “Há uma sensação por parte dos utilizadores destas plataformas que elas são demasiado grandes para se preocuparem”, disse Breton, em declarações ao Financial Times em Setembro. “[Perante] determinadas condições, podemos ter o poder de impor uma separação estrutural.”

A comissária europeia da Concorrência, Margrethe Vestager, já afastou essa hipótese. “[Separar empresas] podia ser exequível na Europa – se tivéssemos um caso em que fosse a solução”, disse a comissária, esta terça-feira, numa conferência de imprensa. “Mas até agora não temos casos de concorrência que nos levem a pensar que essa é a única solução”, continuou, fazendo notar que dividir as grandes tecnológicas não lhe parece ser “a coisa certa”.