Uma PAC que não nos serve

Para além de não responder às metas anteriormente definidas e em plena crise climática, agravada por uma pandemia e a crise socioeconómica que dela nasce, a UE aprova uma PAC que serve apenas para o agronegócio, que contribui para a erradicação da biodiversidade e que não apoia pequenos agricultores.

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Adriano Miranda

Na sexta-feira, 23 de Outubro, a União Europeia (UE) voltou a falhar-nos, aprovando uma nova Política Agrícola Comum (PAC) em tudo desastrosa. Uma política que alimenta a destruição ecológica com quase 400 mil milhões de euros. Uma política suja que, para além de trair compromissos anteriores, é também uma traição aos valores de justiça e democracia. 

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Na sexta-feira, 23 de Outubro, a União Europeia (UE) voltou a falhar-nos, aprovando uma nova Política Agrícola Comum (PAC) em tudo desastrosa. Uma política que alimenta a destruição ecológica com quase 400 mil milhões de euros. Uma política suja que, para além de trair compromissos anteriores, é também uma traição aos valores de justiça e democracia. 

Esta PAC é o exemplo perfeito de políticas “verdes” que têm vindo a falhar, políticas estas que, quando analisadas à lupa, provam ser vazias, insuficientes e seladas a greenwashing. A Comissão Europeia tentou dizer-nos que esta era a PAC mais revolucionária das últimas décadas, que respondia ao Acordo de Paris, que ia ao encontro dos objectivos do Pacto Verde Europeu. Não podia estar mais longe da verdade. Ao analisar esta proposta, negociada em convénios à porta fechada, percebemos que as emendas que ligavam a PAC aos objectivos do Acordo de Paris e aquelas que integravam os objectivos do Pacto Verde Europeu na proposta, foram chumbadas — metas que são, já em si, insuficientes. 

Para além de não responder às metas anteriormente definidas e em plena crise climática, agravada por uma pandemia e a crise socioeconómica que dela nasce, a UE aprova uma PAC que serve apenas para o agronegócio, que contribui para a erradicação da biodiversidade e que não apoia pequenos agricultores. Esta PAC apoia, de modo desproporcional, a minoria poderosa do agronegócio — apenas 20% do número de agricultores, e recebem 80% do orçamento.

A PAC é um dos maiores e mais antigos programas da União Europeia. Há 50 anos que a União Europeia tem nas mãos uma das soluções para o caos climático, e há 50 anos que falha em entregar propostas concretas, que coloquem a vida à frente do lucro. Exigimos uma PAC que responda às necessidades dos pequenos agricultores, uma PAC que responda ao caos climático, uma PAC para as pessoas. Não baixamos os braços. Temos esperança que a Comissão Europeia tome a decisão de cancelar esta proposta na sua generalidade. Mas vai ser preciso lutar por isso.

Face a isto, 100 jovens activistas de todo o mundo juntaram-se e escreveram uma carta aberta dirigida aos líderes da UE. Em apenas 12 horas, conseguimos mais de 15 mil assinaturas e, de momento, a carta já conta com dezenas de milhares. 

Denunciamos as falsas e insuficientes promessas dos líderes da UE — como a da redução de emissões para atingir neutralidade carbónica até 2050 ou, em Paris, a promessa de trabalhar de forma a garantir limitar o aquecimento global em 2° Celsius.

Apelam a que neles depositemos confiança — mas como é que podemos confiar se fazem promessas apenas para as quebrarem quando os beneficia? A nossa confiança tem de ser ganha — e nada fizeram para a merecer. 

As escolhas dos nossos líderes têm um impacto não só nos países da União Europeia, mas no mundo inteiro. Aqueles que, face à PAC, escolheram a abstenção tomaram, também, estas decisões. Escolheram o caos climático, escolheram o sofrimento das Pessoas e Áreas Mais Afectadas (MAPA). Escolheram o sofrimento da humanidade e das gerações que estão por vir. E fizeram-no sabendo as suas consequências. Também nós temos conhecimento das consequências desastrosas dessas políticas. Estamos organizadas e vigilantes, isto não vai passar em branco.

A carta pode ser lida e assinada, estando também visíveis os actuais assinantes, aqui