Arquitectos que desenharam a nova vida de Idanha-a-Velha estão preocupados com a sua gestão

Aldeia que é Monumento Nacional “merecia um tratamento mais cuidado e mais culto”, consideram Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez.

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Paulo Pimenta

Entre 1994 e 2010, os arquitectos do Atelier 15, Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez, fizeram o caminho entre Porto e Idanha-a-Velha com assiduidade. Desenharam e acompanharam várias intervenções de requalificação naquela aldeia do município de Idanha-a-Nova que, em 1997, viu o seu conjunto arquitectónico e arqueológico classificado como Monumento Nacional. Foram eles que coordenaram as acções integradas num plano estratégico então concertadas com o município, que contemplava um programa de intervenções complementares.

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Entre 1994 e 2010, os arquitectos do Atelier 15, Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez, fizeram o caminho entre Porto e Idanha-a-Velha com assiduidade. Desenharam e acompanharam várias intervenções de requalificação naquela aldeia do município de Idanha-a-Nova que, em 1997, viu o seu conjunto arquitectónico e arqueológico classificado como Monumento Nacional. Foram eles que coordenaram as acções integradas num plano estratégico então concertadas com o município, que contemplava um programa de intervenções complementares.

Agora, a forma como o conjunto está a ser gerido pela autarquia preocupa os arquitectos, o que motivou o envio de uma carta ao presidente da câmara Municipal de Idanha-a-Nova, Armindo Jacinto.

“Não há uma gestão cuidada”, lamenta Alexandre Alves Costa, em declarações ao PÚBLICO. “Houve ali um investimento grande, numa antiga cidade com importância histórica que merecia um tratamento mais cuidado e mais culto”, considera.

As causas do descontentamento dos arquitectos do Atelier 15 são diversas: alguns dos espaços desenhados para serem visitados estão fechados, estão a ser feitas intervenções por cima das reabilitações desenhadas por Alves Costa e Fernandez e não há um acompanhamento e fiscalização de alterações na aldeia que já foi cidade romana - então instalada num ponto do itinerário que ligava Mérida a Braga - consideram.

Além destas preocupações, na missiva foi enviada à autarquia em Agosto, os arquitectos manifestam “um certo desgosto” pela forma como foram “sendo desautorizados e marginalizados do processo de regeneração” de Idanha-a-Velha. Ainda não obtiveram qualquer resposta.

Alumínio e ar condicionado

A intervenção desenhada pelo Atelier 15 foi vasta. Incluiu a Sé Catedral, o Lagar de Varas, o Arquivo Epigráfico, a muralha, a porta Norte, os Palheiros de S. Dâmaso, a Praça do Espírito Santo, a Praça de Touros, a Capela de São Dâmaso, bem como o posto de turismo. Também a Casa Alves Costa (adquirida e recuperada pelo arquitecto) entra no pacote de intervenções. Ainda assim, os arquitectos não tinham “nenhuma intenção de beneficiar de qualquer regime de exclusividade”, ressalvam, na carta enviada à autarquia.

Como exemplo da falta de cuidado na gestão da aldeia apontam a proliferação de caixilharias de alumínio e das caixas com ar condicionado na aldeia, o que é um problemático para um conjunto classificado como Monumento Nacional. Depois há o Lagar de Varas a “necessitar de intervenção”, com “o telhado podre”. “Aflige a degradação do que foi feito e a falta de respeito pelo que foi feito”, acrescenta. Este espaço encontra-se encerrado, nota Alves Costa, assim como o Arquivo Epigráfico, que alberga “a maior colecção de epígrafes romanas da Península Ibérica”.

Questionada pelo PÚBLICO, a autarquia de Idanha-a-Nova responde que, efectivamente, “um conjunto de equipamentos culturais da aldeia histórica de Idanha-a-Velha foram recentemente intervencionados” (sic), mas sublinha que isso aconteceu “em articulação com a Direcção Regional de Cultura do Centro e a associação Aldeias Históricas de
Portugal”. O município explica ainda que o “encerramento ao público da Sé Catedral, do Lagar de Varas e do Arquivo Epigráfico” é temporário e se deve à pandemia.

Na resposta, a autarquia escreve também que não se revê “de forma alguma nas considerações menos positivas” dos arquitectos, garantindo que acompanha as alterações que vão sendo surgindo na aldeia. “Sempre que os nossos serviços verificam alguma inconformidade, são tomadas as devidas diligências”, escreve.

Alves Costa e Fernandez consideram “havia uma obrigação ética” de a autarquia os contactar, nomeadamente nas situações em que estavam em causa alterações em locais previamente desenhados pelo Atelier 15. Na carta que enviou à autarquia, a dupla usa a ironia, notando que “obrigações éticas” são procedimentos “provavelmente fora de moda”.

Nas respostas que enviou ao PÚBLICO, a autarquia não aborda esta questão, optando por referir apenas que “fez tudo ao seu alcance para cumprir as regras do Código da Contratação Pública”.