Very nice! Cazaquistão adopta expressão de Borat como slogan turístico

Os filmes da saga Borat não são conhecidos pelo retrato elogioso do Cazaquistão, mas, desta vez, o país não baniu a segunda paródia: até a aproveita, apesar de milhares quererem bani-la. O novo slogan do turismo é a expressão favorita do “segundo melhor repórter do glorioso país”. Se não podes vencê-lo...

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"Borat Subsequent Moviefilm: Delivery of Prodigious Bribe to American Regime for Make Benefit Once Glorious Nation of Kazakhstan" DR

Não é bem um caso de primeiro estranha-se e depois entranha-se. É antes um caso de primeiro bane-se e depois adopta-se. Em 2006, o Cazaquistão e até a Rússia proibiram o filme inicial da saga de Borat Sagdiyev, o jornalista cazaque criado por Sacha Boren Cohen; agora, que o segundo capítulo já está disponível na Amazon Prime, Very nice, a sua famosa expressão torna-se o novo slogan do turismo do país. Afinal, trata-se de um filme que tem por título completo algo como Borat, o Filme Seguinte: Entrega de Suborno Prodigioso ao Regime Americano Para Fazer Benefício à Outrora Gloriosa Nação do Cazaquistão...

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Não é bem um caso de primeiro estranha-se e depois entranha-se. É antes um caso de primeiro bane-se e depois adopta-se. Em 2006, o Cazaquistão e até a Rússia proibiram o filme inicial da saga de Borat Sagdiyev, o jornalista cazaque criado por Sacha Boren Cohen; agora, que o segundo capítulo já está disponível na Amazon Prime, Very nice, a sua famosa expressão torna-se o novo slogan do turismo do país. Afinal, trata-se de um filme que tem por título completo algo como Borat, o Filme Seguinte: Entrega de Suborno Prodigioso ao Regime Americano Para Fazer Benefício à Outrora Gloriosa Nação do Cazaquistão...

O Cazaquistão very nice mostra-se numa nova série de anúncios em que se destacam as suas paisagens, gentes e cultura. Nas redes socais, a aposta no turismo à boleia do novo filme parece ter sido ganha: “Maneira fantástica de aproveitar a publicidade de um comediante e transformá-la numa mensagem positiva”, escreve um; “Honestamente, o Cazaquistão parece bem mais excitante para visitar do que, por exemplo, a Islândia”, escreve outro.

“Cazaquistão? Very nice! (Muito bom!) É um local de que podes ter ouvido falar, que é muito melhor do que podes ter imaginado. Onde podes encontrar estepes sem fim, areia e cumes de montanhas épicos a uma curta distância de uma metrópole moderna. Onde a salsicha de cavalo e alho encontra os noodles uigures. Onde os centros comerciais têm praias de areias e esferas de vidro salpicam o horizonte. Onde as pessoas são tão amigáveis que podes acabar num toi (casamento tradicional) depois de uns poucos salams (olá). Como podes descrever um local tão surpreendente em apenas duas palavras? Como um homem sábio disse uma vez, ‘Very nice!’”

É assim que é apresentado no Facebook o novo slogan oficial do Turismo do Cazaquistão. O responsável do turismo, Kairat Sadvakassov, é menos enfático, mas a mensagem é a mesma: “A natureza do Cazaquistão é muito bonita. A comida é muito boa. E as suas pessoas, apesar das piadas em contrário de Borat, são das mais simpáticas do mundo”, diz em comunicado citado pela BBC. “Gostaríamos que toda a gente viesse descobrir o Cazaquistão por si própria, visitando o nosso país em 2021 e depois, para verem que a pátria de Borat é mais simpática do que possam ter ouvido”.

Na sua mais recente demanda, Borat, “o segundo melhor repórter do glorioso país Cazaquistão”, não renega as suas origens e continua a apresentar o “seu” país de maneira pouco (ou nada) elogiosa como uma mistura de homofóbico, misógino e anti-semita. Contudo, Kairat Sadvakassov afirmou ao Huffington Post que a adopção da expressão de Borat “oferece a descrição perfeita do vasto potencial do turismo do Cazaquistão de uma maneira curta e memorável”.

Nem todos pensam assim e no Cazaquistão já está a circular uma petição online, com pelo menos 100 mil assinaturas, a exigir o cancelamento de Borat Subsequent Moviefilm, alegando que “ultraja e humilha o Cazaquistão e a dignidade da nação cazaque”. A Associação Americana Cazaque por sua vez acusa o filme de “racismo, apropriação cultura e xenofobia”. O primeiro filme, “Borat: Aprender Cultura da América Para Beneficiar a Gloriosa Nação do Cazaquistão”, lançado em 2006, foi proibido no Cazaquistão: as autoridades consideraram que retratava um país primitivo, racista e sexista.

Afinal, na ficção, na antiga república da União Soviética o incesto e a violação eram comuns, as pessoas bebiam urina de cavalo, fazia-se uma versão anti-semítica de corridas de touros, as mulheres eram consideradas propriedade. Sacha Baron Cohen foi ameaçado com processos, foram publicados anúncios na imprensa norte-americana a “desmontar” o filme, mostrando-o como moderno e estável. Anos volvidos, em 2012, o próprio governo cazaque agradeceu a Sacha Baron Cohen pelo aumento do turismo no país: havia dez vezes mais pessoas a pedirem vistos de turistas.

Por isso, quando o trailer da sequela de Borat foi lançado no final de Setembro, o Turismo do Cazaquistão teve outra reacção. “Foi tipo, ‘Ó, outra vez’”, afirmou Kairat Sadvakassov ao New York Times (NYT). “A decisão que tomámos foi deixá-lo fazer o seu percurso natural e não responder.”

Então, entrou em cena Dennis Keen, um norte-americano a viver em Almaty, casado como uma cazaque, com uma empresa de visitas guiadas e anfitrião de um programa de viagens na televisão estatal cazaque – “Sou uma espécie de Borat americano”, disse ao NYT. Foi ele e um amigo, Yermek Utemissov, que apresentaram a ideia ao Turismo do Cazaquistão que deu imediatamente a anuência para que fizessem quatro anúncios de 12 segundos cada.

Duas semanas depois, aí estão, online. Turistas a fazerem caminhadas e a tirar selfies (“very nice!”), a maravilharem-se com a arquitectura (“wow, very nice”), a beber leite de cavalo fermentado (não urina de cavalo: “Mm, that’s actually very nice!”), a posarem com cazaques em trajes tradicionais (“that’s very nice”).

Para já, o Cazaquistão reagiu muito (muito) melhor do que alguns intervenientes involuntários no filme, uma paródia que, como sempre intercala ficção e realidade: é ver como reagiu o advogado pessoal de Donald Trump, Rudy Giuliani, “apanhado” por Borat quase com as calças nas mãos...