Já degolam professores

Quando se mata um professor de um país livre, que vive em liberdade, por ensinar a ser livre e a entender a liberdade dos outros, o mundo deve parar, deve pensar, deve agir.

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"São professores como Samuel Paty que ensinam a liberdade" Reuters/CHARLES PLATIAU

Foi assim que morreu Samuel Paty, degolado. Encontrou a morte por ensinar. Por ensinar a pensar, por ensinar a liberdade de expressão, por ensinar o respeito, por ensinar a crítica. Samuel Paty morreu, mas morreu livre. No dia 16 de outubro, numa escola, nos arredores de Paris mataram um professor e o mundo não se indignou. Uns criticaram a forma como tinha sido morto, outros a razão por que o tinham matado, mas ninguém se mostrou surpreso.

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Foi assim que morreu Samuel Paty, degolado. Encontrou a morte por ensinar. Por ensinar a pensar, por ensinar a liberdade de expressão, por ensinar o respeito, por ensinar a crítica. Samuel Paty morreu, mas morreu livre. No dia 16 de outubro, numa escola, nos arredores de Paris mataram um professor e o mundo não se indignou. Uns criticaram a forma como tinha sido morto, outros a razão por que o tinham matado, mas ninguém se mostrou surpreso.

À porta de uma escola jazia o corpo ensanguentado de um professor, degolado por um extremista. O nosso mundo não foi abalado por esta morte. Esta morte não teve significado, foi mais uma morte, como tantas outras, que aconteceu, de repente, como se todos esperássemos que isso acontecesse. O professor morreu e o mundo não parou, nunca para quando alguém morre, mas devia ter parado.

Quando se mata um professor de um país livre, que vive em liberdade, por ensinar a ser livre e a entender a liberdade dos outros, o mundo deve parar, deve pensar, deve agir. França levantou-se em peso e agiu, mas foi só por lá. O presidente Emmanuel Macron levantou a voz para se indignar, o povo francês saiu do sofá e indignou-se na rua manifestando-se. A imprensa francesa deu conta de manifestações impressionantes e de uma onda de protesto que uniu milhares ou milhões de pessoas, um verdadeiro levantamento social.

Por cá, por Portugal, Espanha, Alemanha, Brasil, Senegal, Ilhas Faroé ou na longínqua Austrália, a notícia passou em rodapé. Ninguém se indignou, ninguém chorou, ninguém se manifestou, nem contra nem a favor, ninguém saiu à rua a clamar por justiça. Ninguém! Aconteceu em França, eles que se indignem, manifestem, chorem e saiam à rua, o problema é deles.

Por cá, a não ser num grupo de blogues sobre educação, onde se discutiu o acontecido e que se dinamizou uma homenagem ao professor Samuel Paty, ninguém mais deu importância a esta morte pela liberdade de expressão. Aparentemente, não lhes falta liberdade de expressão e já não se lembram que os pais lutaram por ela e os avós não a tinham. A liberdade de expressão é algo que se tira com facilidade, é algo por que se mata, pela qual se morre, com uma facilidade como a de abrir a boca e à velocidade do som que por ela se emite.

Recentemente, outros atos hediondos tiveram lugar num outro país distante. Esses atos hediondos andaram de boca em boca. Depressa, todos se indignaram, todos se manifestaram, todos saíram à rua e todos falaram, em liberdade, aquilo que pensaram. Mas o ato hediondo, desta vez, tinha sido “o ser”. Esquecem-se estas gentes que para “o ser” é necessário ser livre de o expressar e que são professores como Samuel Paty que ensinam a liberdade.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico