Vinhos de Portugal arranca hoje em edição digital e transatlântica

Em ano de pandemia, produtores apostam no online para conquistar o mercado brasileiro. Evento chega a casa dos consumidores em Portugal e no Brasil – e leva o vinho até eles.

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As histórias de 62 produtores são contadas no site que reúne toda a informação sobre o evento (aqui, Bernardo Alves, da Adega Mãe) Fernando Donasci/Out of Paper

Ao longo das seis edições do Vinhos de Portugal no Brasil milhares de pessoas, no Rio de Janeiro e em São Paulo (onde começou mais tarde e teve já três edições), passaram pelas provas com críticos e pelo Salão de Degustação, onde estavam sempre muitas dezenas de produtores dando a provar os seus vinhos.

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Ao longo das seis edições do Vinhos de Portugal no Brasil milhares de pessoas, no Rio de Janeiro e em São Paulo (onde começou mais tarde e teve já três edições), passaram pelas provas com críticos e pelo Salão de Degustação, onde estavam sempre muitas dezenas de produtores dando a provar os seus vinhos.

Este ano, a pandemia de covid-19 obrigou a uma mudança de planos. E, em poucos meses, o Vinhos de Portugal tornou-se um evento digital – com as mesmas dezenas de produtores, as mesmas provas com críticos, o mesmo Salão de Degustação, mas uma diferença fundamental: chega a muitos mais milhares de pessoas, em todo o Brasil (e já não apenas nas duas grandes cidades), e também a Portugal, o que acontece pela primeira vez.

Assim, a partir de hoje ao final do dia (hora de Portugal) e até à noite de domingo, o evento – que é organizado pelos jornais PÚBLICO, O Globo e Valor Económico, em parceria com a ViniPortugal e produção da Out of Paper – arranca para a sua sétima edição, totalmente online.

Num evento transatlântico, os participantes poderão assistir a partir das suas casas às provas com críticos brasileiros (Jorge Lucki e o master of wine Dirceu Vianna Júnior) e portugueses (Manuel Carvalho, do PÚBLICO, Luís Lopes, da revista Grandes Escolhas, e Rui Falcão), e a conversas ao vivo com 62 produtores de várias regiões vinícolas do país.

Todos os participantes em Portugal e muitos no Brasil (mas, neste caso, apenas os que vivem no Rio e em São Paulo) terão à frente as garrafas dos vinhos que estarão em prova, e que, entretanto, foram entregues nas suas casas, o que permite acompanhar passo a passo os comentários dos críticos.

As 15 provas especiais (algumas com a presença dos enólogos ou dos produtores) e as 62 conversas de 25 minutos com os produtores (que representam a versão digital do Salão de Degustação) estão disponíveis, para todos os que compraram bilhetes, na plataforma www.publico.pt/vinhosdeportugal2020.

Mas quem não tiver bilhete poderá aceder a todo o restante conteúdo que esta plataforma oferece de forma gratuita, sublinha Simone Duarte, a curadora do evento: aí encontram-se dezenas de fotografias e vídeos filmados nas quintas e adegas dos vários produtores, com muitas histórias sobre cada um, além de informação detalhada sobre os respectivos vinhos.

Toda esta informação vai continuar disponível no futuro. Quanto aos lives e às provas, para quem as tiver adquirido, elas continuarão também disponíveis para poderem ser vistas mais tarde as vezes que se desejar.

“A equipa de produção tinha uma abordagem ligeira e divertida, com uma dose de humor e acho que o trabalho resultou muito bem”, diz José Gomes Aires, da Herdade Pegos Claros, da Península de Setúbal. Este é o primeiro ano em que decidiram participar no Vinhos de Portugal e fizeram-no ainda antes de saber qual o formato, explica. Mas como “a gente do vinho é muito engenhosa”, acredita que a adaptação ao novo modelo de comunicação correu muito bem.

Esta actividade foi das primeiras a aproveitar os meios digitais para continuar a trabalhar [durante o confinamento]”, afirma. E, garante, a aposta no Brasil faz todo o sentido, mesmo em ano de pandemia. “É um mercado com um potencial enorme e ainda pouco explorado por nós na Pegos Claros.” Está, por isso, preparado para contar a história dos seus vinhos: vinhas que crescem nos difíceis solos de areia branca e o trabalho com uma casta única, a Castelão, que aqui dá nada menos do que quatro vinhos tintos, um branco e um rosé.

Julia Kemper, produtora do Dão, participa desde o início no evento físico, mas está igualmente confiante no novo formato. “Claro que temos que nos adaptar, temos que abrir a mentalidade, e neste formato chega-se a mais gente.” Esta nova forma de comunicar é “um dos bens que vieram por mal”, resume, referindo-se às mudanças forçadas pela pandemia. E, no fundo, é apenas uma maneira diferente de contar as histórias que os produtores há muito se habituaram a partilhar com os consumidores nos eventos presenciais.

A pandemia foi “horrível” para o negócio, reconhece Julia Kemper, mas, por outro lado, há sinais positivos: “Antigamente as pessoas compravam no supermercado um vinho mais barato e guardavam os melhores para beber no restaurante. Agora, como estão muito mais em casa, tentam recriar essa experiência [da ida ao restaurante] e bebem vinhos melhores. Muitos mandam fotos. Nunca tinha visto tantas garrafas de Julia Kemper num jantar.”

O conteúdo do site do Vinhos de Portugal “foge de tudo o que foi feito até agora nestes tipos de apresentação virtual”, considera Jorge Lucki, o crítico de vinhos brasileiro que participa no evento, tanto nas provas especiais quanto nas lives com os produtores. “Houve uma grande preocupação em fornecer todas as informações.”

E, do lado de lá do Atlântico, está um público atento. “No começo da pandemia os importadores pintaram um quadro bem pessimista. Mas esse quadro virou. Nunca se vendeu tanto vinho no Brasil.” Se os restaurantes foram realmente muito prejudicados, por outro lado, em casa, as pessoas passaram a consumir vinhos melhores. “Aumentou o consumo e o número de consumidores.”

É importante tirar partido deste movimento. “Não concordo com a estratégia de só trabalhar os vinhos mais baratos. É uma estratégia a curto prazo, não cria marca, não consegue a fidelização do consumidor e a concorrência é muito grande nas gamas inferiores.” Esta é, portanto, a altura certa para aproveitar a vontade e o interesse dos consumidores brasileiros por vinhos mais diferenciados. E isso, afirma Lucki, não acontece apenas no Rio e em São Paulo, mas em muitos outros pontos do Brasil – e é aí que, através de uma porta inesperadamente aberta, um evento digital pode chegar de uma forma única.