Royal Opera de Londres vendeu pintura de David Hockney para enfrentar a crise
Retrato de Sir David Webster, antigo director da Ópera de Covent Garden, foi arrematada por 14,2 milhões de euros.
Não terá sido uma decisão fácil, e começou mesmo a ser debatida ainda no Verão, mas a Royal Opera House (ROH), em Londres, avançou mesmo com a venda do retrato de um seu antigo director, Sir David Webster (1903-1971), que pertencia à colecção da instituição, com o objectivo de minorar a situação decorrente da pandemia da covid-19.
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Não terá sido uma decisão fácil, e começou mesmo a ser debatida ainda no Verão, mas a Royal Opera House (ROH), em Londres, avançou mesmo com a venda do retrato de um seu antigo director, Sir David Webster (1903-1971), que pertencia à colecção da instituição, com o objectivo de minorar a situação decorrente da pandemia da covid-19.
Pintado por David Hockney, na sequência de uma encomenda paga com donativos dos próprios trabalhadores da ROH, no ano da reforma do antigo director-geral, que esteve à frente da instituição entre 1945 e 1970, Retrato de Sir David Webster (1971) foi arrematado esta quinta-feira na Christie’s de Londres por 12,8 milhões de libras (14,2 milhões de euros). A pintura foi à praça com uma expectativa de venda entre os 12 e os 20 milhões de euros, o que significa que o valor atingido ficou mais próximo da base de licitação — outro reflexo da crise. O comprador não foi identificado.
Num comunicado citado pela AFP, o actual director da ROH, Alex Beard, justificou: “Num momento em que enfrentamos a maior crise da nossa história, a venda do retrato de Sir David Webster feito por David Hockney constitui uma parte vital da nossa estratégia de recuperação”.
Enfrentar a crise
À imagem de outras instituições congéneres, na Europa e em todo o mundo, a centenária Ópera de Covent Garden, construída em 1732, está a viver momentos difíceis. Esteve encerrada na Primavera, reabriu em Junho, mas apenas com espectáculos difundidos via streaming, e desde o início da crise pandémica perdeu mais de metade das suas receitas habituais.
O recurso à venda desta pintura de um dos mais conceituados artistas contemporâneos é apenas uma parte do plano para enfrentar a crise, de par com uma política de redução de custos, que passa também por despedimentos, pelo apelo ao mecenato e ainda pela reivindicação da ajuda do Governo — num país que contabilizou já mais de 44 mil mortos, apresentando-se actualmente como o mais enlutado na Europa.
A venda da pintura de David Hockney, anunciada no início de Outubro, tornou-se, pelas circunstâncias que a envolveram, o acontecimento forte do leilão que a Christie’s dedicou esta semana, entre Londres e Paris, à arte do século XX.
Em declaração ao The Art Newspaper, a responsável na leiloeira pelo departamento de Arte Contemporânea Europeia do Pós-Guerra, Katharine Arnold, testemunhou o dilema com que se debateu a actual direcção da Ópera de Covent Garden. “Não foi uma decisão fácil”, reforçou Arnold, recordando, no entanto, que “a principal missão da Royal Opera House é defender as artes performativas”, não a de ser “um museu de artes visuais”.