Spencer Davis, um dos rostos da “Invasão Britânica”, morre aos 81 anos em Los Angeles
Enquanto líder dos Spencer Davis Group, que tinham Steve Winwood como vocalista, foi um dos protagonistas da Invasão Britânica que, com Beatles, Rolling Stones, Kinks ou The Animals, definiu o rock’n’roll dos anos 1960
Spencer Davis, fundador dos The Spencer Davis Group, um dos responsáveis por êxitos como Gimme Some Lovin, Keep on running e I'm a man, morreu esta terça-feira, aos 81 anos, num hospital em Los Angeles. O seu agente Bob Birk disse à BBC e ao New York Times que Davis faleceu num hospital em Los Angeles, onde se encontrava internado desde há uma semana devido a uma pneumonia.
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Spencer Davis, fundador dos The Spencer Davis Group, um dos responsáveis por êxitos como Gimme Some Lovin, Keep on running e I'm a man, morreu esta terça-feira, aos 81 anos, num hospital em Los Angeles. O seu agente Bob Birk disse à BBC e ao New York Times que Davis faleceu num hospital em Los Angeles, onde se encontrava internado desde há uma semana devido a uma pneumonia.
The Spencer Davis Group foi um dos grupos que formaram a chamada “invasão britânica” dos anos 60, como é conhecido coloquialmente o êxito de várias bandas pop britânicas nos Estados Unidos naquela década. Com The Beatles, The Rolling Stones, The Animals, The Kinks ou The Who como estandartes, a “invasão britânica” também inclui o grupo The Spencer Davis Group, que começou o seu percurso no início dos anos 60 em Birmingham (Reino Unido). Anteriormente à banda, Spencer Davis formara um duo folk com Christine Perfect (ou seja, Christine McVie, teclista e compositora dos Fleetwood Mac) e integrara uma banda, os Saints, onde encontrávamos Bill Wyman, futuro baixista dos Rolling Stones.
"O Professor"
Um dos sucessos de Spencer Davis, que nasceu em 1939 na cidade galesa de Swansea, foi contratar um desconhecido e adolescente músico chamado Steve Winwood, que se tornaria o vocalista e teclista da banda. A formação incluía ainda o irmão deste, o baixista Muff Winwood, e o baterista Pete York. Winwood seria, mais tarde, o fundador dos Traffic, banda charneira do rock psicadélico — a sua saída dos Spencer Davis Group, em 1967, para fundar os futuros autores de Mr. Fantasy seria, aliás, uma das razões para o primeiro fim da banda.
Alcunhado “O Professor” pela sua vertente poliglota (falava fluentemente alemão, francês e espanhol), era “um homem adorável, muito cortês, e um purista em relação à música”, disse à BBC Jim Simpson, fundador do Birmingham International Jazz Festival. Contam a lenda que os membros da banda deixaram que Spencer Davis desse o seu nome ao conjunto para que fosse ele a dar entrevistas, enquanto os outros passavam o tempo no pub.
Formada em 1963, a banda alcançou o seu primeiro triunfo em 1965 com Keep on Running, versão de um original do cantor jamaicano Jackie Edwards que popularizou uma banda que se mostrava uma inspirada e, por força da expressividade vocal de Winwoood, excitante seguidora do rhythm'n'blues americano em contexto rock britânico.
Mas este êxito seria suplantado por Gimme some lovin', original de Steve Winwood que se tornou a canção mais popular da banda. Curiosamente, foi composta em mera meia hora numa sala de ensaios do Marquee Club, o mítico clube londrino — Chris Blackwell, o fundador da Island Records, a editora da banda, estava à porta da sala, aguardando o single que lhes exigira perante o insucesso comercial do sucessor de Keep on running, When I come home, outra composição de Jackie Stewart. O sucesso de Gimme some lovin' foi replicado com I'm a man, editado em 1967 e o último clássico da banda.
No entanto, assim como a incorporação de Steve Winwood foi um impulso para o projecto, a sua saída em 1967 para formar os Traffic deixou The Spencer Davis Group fora de jogo quando estavam no momento mais alto em ambos os lados do Atlântico. A banda continuou durante algum tempo, mas sem recuperar o brilho de outros tempos.
"Nunca vi tanto dinheiro"
Já Davis, que se mudou para a Califórnia, trabalhou no outro lado da indústria musical como executivo da Island Records. Contava ter chegado aos Estados Unidos com a conta bancária a zeros, fruto de um contrato discográfico particularmente desfavorável para os músicos da banda. Salvou-o, primeiro, o facto de uma composição sua, Don't want you no more, ter sido incluída pelos Allman Brothers Band, em 1969, no homónimo primeiro álbum dos ícones do rock sulista, que venderia seis milhões de cópias nos Estados Unidos — “nunca vi tanto dinheiro”, exclamou, como recordou anos mais tarde, quando caiu na sua caixa de correio o cheque de cinco mil dólares relativo aos direitos de autor.
Enquanto tentava lançar uma carreira a solo de que resultaram álbuns como Mousetrap, editado em 1971, salvou-o depois uma conversa franca com Chris Blackwell. Spencer Davis confrontou-o com a desonestidade do contrato discográfico assinado com a sua antiga banda e acabou a trabalhar na Island Records, acompanhando músicos como Bob Marley e Robert Palmer e apoiando o velho conhecido Steve Winwood no início da sua carreira a solo.
Regressado à música, enquanto autor e intérprete, com a edição de Crossfire, em 1984, refunda também os Spencer Davis Group, sem os irmãos Winwood, que continuariam activos no circuito de concertos nas décadas seguintes.